Entrar/Criar Conta
AS OBRAS DE DEUS
Além de considerar Deus em si mesmo, é preciso analisá-lo em suas obras, tanto as essenciais quanto as pessoais. As obras essenciais são aquelas que são realizadas por toda a Santíssima Trindade operando como sendo apenas um Ser. As obras pessoais são aquelas que são peculiares a uma pessoa em particular.
Tanto as obras essenciais como as pessoais incluem aquilo que somente afeta [ad intra] e aqueles efeitos percebidos fora de Deus [ad extra]. A primeira espécie não tem outro objeto [terminus] além de Deus. [A esta espécie pertencem] tais assuntos como a inteligência pela qual Deus conhece a si mesmo, a geração do Filho e a procedência do Espírito Santo.
As obras da segunda espécie têm alguns outros objetos além da Santíssima Trindade. Tais como a predestinação, criação e coisas semelhantes que concernem às criaturas como objetos externos a Deus. Em relação a obras externas pessoal e essencial, é necessário pontuar algumas observações:
I. A mesma obra externa é tanto pessoal como essencial de diferentes pontos de vista. Assim, a encarnação de Cristo, em seu aspecto eterno [inaugurativo] é uma obra essencial, comum à toda a Trindade; em seu aspecto histórico [consumativo], é uma obra pessoal apenas do Filho.
Embora o Pai e o Espírito sejam causas da encarnação, somente o Filho tornou-se encarnado. Do mesmo modo, embora a criação, redenção e santificação são obras de toda a Santíssima Trindade, todavia, de um ponto de vista, elas podem ser chamadas de pessoais.
O Pai é chamado criador, porque ele é, como era a origem [fons] da operação da Trindade, e o Filho e Espírito Santo agem pelo Pai. O Filho é chamado redentor, porque ele consumou a obra da redenção assumindo a natureza humana. O Espírito Santo é chamado santificador, porque ele é enviado pelo Cristo como um confortador e santificador.
II. As obras externas são indivisíveis ou comuns a todas as pessoas. Desta proposição segue do que foi declarado acima; uma vez que a essência é comum a todas as pessoas, as obras essenciais também precisam ser comuns a todos os três.
III. Toda obra específica sempre preserva o mesmo princípio essencial, causa eficiente e efeito.
IV. Nem todas as obras cujo objeto é fora de Deus [ad extra] é uma obra externa. Um decreto de Deus é ad extra naquilo que se refere à criatura ou alguma coisa além de Deus, mas ela é interna naquilo que ela permanece em toda a essência de Deus.
V. As obras imanentes e internas de Deus são as realidades [res] e não diferem da essência de Deus. Tudo o que estiver em Deus é Ele, e como essência e ser [essentia et esse] não são diferentes em Deus, assim, em sua vontade e o ato da vontade não são realidades [realiter] diferentes.
Os decretos
Ainda no que toca as obras de Deus, é preciso conceituar a relação entre elas e seus decretos. Trata-se do terno propósito de Deus, segundo o conselho da sua vontade, pelo qual, para a sua própria glória, Ele determinou tudo o que acontece. Embora muitas vezes usado no plural, o decreto é somente um único ato de Deus.
Esse ato é imediato e simultâneo, não sucessivo como o nosso, e a sua compreensão é sempre completa. Não existem, pois, uma série de decretos de Deus, mas somente um plano que abrange tudo o que se passa. O decreto de Deus tem a mais estreita relação com o seu conhecimento.
Ele não refere-se ao ser essencial de Deus, nem às suas atividades imanentes dentro do ser divino. Deus não decretou ser santo e justo, nem existir como três pessoas numa essência, nem gerar o filho. Essas coisas são como são necessariamente e não dependem da vontade optativa de Deus.
Aquilo que é essencial ao ser divino não pode fazer parte do conteúdo do decreto. O decreto não se limita aos atos realizados pessoalmente por Deus, mas abrange também as ações das suas criaturas livres. Algumas coisas Deus faz pessoalmente, outras ele faz com que aconteçam por meios secundários, os quais ele vitaliza e sustenta pelo seu poder.
Porém, deve-se frisar que o decreto não é o ato propriamente dito. Ou seja, é necessário fazer a distinção entre o decreto e sua execução. O decreto para criar não é a criação em si, nem o decreto para justificar é a justificação em si. Ordenar Deus o universo de tal modo que o homem seguirá certo curso de ação é diferente de ordenar-lhe que aja desse modo.
O decreto não é dirigido ao homem e não é de natureza estatutária, tampouco impõe compulsão ou obrigação à livre vontade do homem. O decreto tem fundamento na sabedoria divina, é imutável, eterno, universal e abrangente. Mesmo que haja diferença entre decreto e execução, o estudo do primeiro leva as considerações quanto ao segundo.
Obviamente, tudo começa a partir da Criação e o conhecimento dessa doutrina só é aceito pela fé.. Embora a Bíblia apresente um Deus transcendente, ela também nos lembra que Ele está profundamente envolvido nos assuntos do universo e da humanidade, começando com o ensino sobre a Criação.
Em distinção à geração do filho, que foi um ato necessário do pai, a criação do mundo foi um ato livre do Deus triúno. Os Livros Gênesis 1 e 2 trazem o relato histórico no qual Deus trouxe à existência terra, estrelas, estações, a vida vegetal e todas as espécies de animais. O homem é a coroa de sua Criação, tanto que o fez a sua própria imagem.
Deus criou o universo ex nihilo, ou “do nada”. Antes da Criação, nem o tempo existia, dado que o mundo foi trazido à existência “com o” tempo, antes que “no” tempo. No geral, a igreja sustenta que o mundo foi criado em seis dias comuns. Contudo, nomes como Agostinho, afirmavam que os dias seriam eternos, já que “para o Senhor um dia é como mil anos”.
A Criação é definida como livre ato de Deus pelo qual ele, segundo a sua vontade soberana e para a sua própria glória, produziu no princípio todo o universo, visível e invisível, em parte do nada e em parte de material que, por sua natureza, nada poderia produzir, e assim lhe deu uma existência distinta da sua própria, e, ainda assim dele dependente.
A crença da Igreja na criação do mundo vem expressa já no primeiro artigo confissão de fé apostólica: “creio em Deus pai, todo-poderoso, criador dos céus e da terra”. A Igreja primitiva entendia o verbo “criar” no sentido estrito de “produzir do nada alguma coisa”. No entanto, nem sempre a escritura usa o hebraico “bará” e o grego “ktizein” nesse sentido.
Também emprega esses termos para denotar uma criação secundária, na qual Deus usou material já existente, mas que não podia causar por si mesmo o resultado indicado. Embora o pai esteja em primeiro plano na obra da criação, esta é também reconhecida como obra do filho e do Espírito Santo.
Deus não deixou o universo existir por si mesmo, visto que ele deveras não pode existir por si mesmo, mas continuamente sustenta sua existência e ativamente governa sua operação. É uma visão anti-bíblica dizer que Deus criou o universo com certas leis que governam sua operação.
A posição bíblica é que Deus está sustentando o universo, e controlando os mínimos eventos dentro dele. Em outras palavras, a totalidade deste universo está sendo governada por uma mente pessoal, ao invés de poderes ou leis impessoais. Esta é a doutrina da PROVIDÊNCIA de Deus.
A propósito, os teólogos distinguem Providência Geral e Especial. A primeira refere-se ao seu controle e supervisão, e precisa dos eventos que Ele causa através dos meios ordinários. A última refere-se ao seu controle e intervenção precisa dos eventos que Ele causa através dos meios extraordinários.
Juntos, a providência geral e especial de Deus abraçam cada evento que ocorre. Paulo escreve que Deus o Pai, através da agência de Deus o Filho, criou, não somente todas as coisas “visíveis e invisíveis”, mas que “[o Filho] é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Colossenses 1:17).
Cristo é antes de toda criação, e mesmo agora Ele está sustentando o universo inteiro. Deus criou o universo por Sua palavra, e mesmo agora Ele está “sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa” (Hebreus 1:3). Paulo observa em Atos 17:28, “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos”.
Além de preservar a existência de Sua criação, Deus também governa e causa todos os aspectos dela. Nem mesmo um animal aparentemente insignificante pode morrer a parte de Sua vontade (Mateus 10:29). Isto implica que tudo está sujeito ao Seu governo, e há muitas passagens que descrevem a extensão e o escopo de Sua supervisão sobre a criação.
Este artigo pertence ao Curso Introdução à Teologia
Curso GRÁTIS sem mensalidade, sem taxa de matrícula.COMENTÁRIOS
5.0
12.743 AvaliaçõesÓtimo adorei
Um excelente curso
Ótimo adorei
otimo curso