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ASPECTOS DA CULTURA DO SUL

A Região Sul, territorialmente, é a menor região do país, com apenas três Estados: Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Três bacias fluviais dominam esta Região: a do Paraná, a do Paraguai e a do Uruguai. Os grandes atrativos turísticos são as Cataratas do Iguaçu e o local conhecido como Tríplice Fronteira, por estar na divisa de três países: Brasil, Argentina e Paraguai.



O Sul é uma Região em que a diversidade étnico-cultural do seu povo mais sobressai em razão da própria história de colonização e povoamento. Foram os alemães os primeiros a chegar. Depois os italianos e depois os colonos de terras do Império russo, como poloneses e ucranianos. Todos chegaram trazendo também, em sua bagagem, seus costumes e suas tradições, que deram, e até hoje dão, um colorido ao folclore do Sul. Estes colonos foram introduzindo, também, novas formas de aproveitamento econômico do espaço físico, como a pequena propriedade, a policultura, associação agricultura–pecuária, e a integração família–terra, com reflexos diretos no sistema de produção, tornando a Região um dos esteios agrícolas do país. Mais tarde vieram os japoneses e os holandeses, que buscaram, basicamente, o Paraná para se estabelecerem.

Mas é certo que esta Região foi palco de grandes batalhas tornando sua mitologia diferente das outras regiões. No Sul, os personagens foram de carne e osso, confundindo a história real com lendas e mitos. Dois momentos históricos que comprovam isto foram a Guerra dos Farrapos e a Revolução Federalista. São personagens importantes: Bento Gonçalves, Antônio de Sousa Neto, David Canabarro, o general Osório, Saldanha da Gama, Flores da Cunha, Pinheiro Machado, Júlio Castilhos, a catarinense Anita Garibaldi, Gumercindo Saraiva, Getúlio Dorneles Vargas e até os últimos 35 índios da tribo Minuanos que, na Guerra dos Farrapos, integraram o esquadrão de lanceiros do coronel Jacinto Guedes da Luz, lutando até a morte.


Outros personagens da tradição açoriana, ponto inicial da colonização da Ilha de Santa Catarina, são as bruxas e os lobisomens. Dizem que numa família, onde nasceram somente filhas, a sétima menina deve ser batizada com o nome de Benta para que ela não venha a ser transformada em bruxa. Na porta do quarto das crianças, deve ter pendurado um signo de Salomão e, se possível, ramos bentos no Domingo de Ramos. Agora, em noite de lua-cheia, é bom se prevenir colocando sal grosso nas soleiras das portas, pois são nessas noites que as bruxas costumam aparecer. Há muitas rezas, costumes e muitas simpatias para afastar as bruxas.


E o mau-olhado, o quebranto e a “coisa-feita”? É só alguém ficar abrindo boca de sono o tempo todo, dizem que o quebranto caiu sobre ele. Então é bom procurar um benzedor. E como ficam as almas que andam pelos campos? É a crendice da existência dos angüeras, ou seja, fantasmas, almas e visões que explicam os estalos nos móveis, os barulhos nos telhados, as vozes que se escutam misteriosamente. Mas se o cachorro latir em frente da casa do doente, é morte na certa! Varrer a casa à noite, nem pensar, pois traz doenças. Apontar para estrelas dá verruga na ponta do dedo. Quem recebe um pão-de-deus é bom atender para ser abençoado pelo menino Jesus. Mas o que é o pão-de-deus? É um papel, muitas vezes enfeitado ou desenhado, no qual se escreve uma poesia pedindo um presente no Natal.


Numa mistura fantástica, histórias de animais e contos ligados aos índios juntam-se com os contos dos europeus e há alguns de origem negra. Na lenda dos sete-cuias, um caboclo d’água do mar costuma aparecer aos pescadores fazendo pedidos que, se não atendidos, o caboclo faz com que as canoas afundem. Não se pode banhar na Lagoa de Parobé, no Rio Grande do Sul, pois existe um cavalo encantado que leva os mais valentes para o fundo das águas. No Sul, quase tudo pode ser explicado por meio das lendas. As cigarras, por exemplo, cantam até morrer, porque uma delas muito foliona, não atendeu ao pedido da mãe doente para que lhe fizesse companhia. A lenda da noite surgiu com a Lua, quando ela morava na terra e se chamava Capei.


Ofendida por um feiticeiro, Capei resolveu fazer uma escada de cipó e madeira e com esta chegou até o céu e por lá ficou. Sobre o “Negrinho do pastoreio”, existe um verdadeiro lendário, tamanha quantidade de histórias espalhadas sobre ele. Uma delas conta que um estancieiro muito rico e mau, tinha um negrinho como escravo. Sem família, o negrinho dizia-se afilhado de Nossa Senhora. Certo dia, um vizinho desafiou o estancieiro dizendo que tinha um cavalo mais rápido do que o baio do negrinho. Quase vencendo a corrida, o cavalo do negrinho assustou-se e o outro cavalo venceu, deixando o estancieiro com muita raiva. O negrinho foi surrado e recebeu uma dura missão: pastorear o rebanho por trinta dias e trinta noites em um lugar mais distante do que o de costume.


Durante a noite, porém, os cavalos assustaram-se e fugiram pelo campo afora. O negrinho foi surrado novamente e mandado para o campo em busca dos cavalos. O negrinho lembrou-se de Nossa Senhora e pegando uma vela saiu pelo campo. Por onde ele passava, a cera que pingava da vela se transformava em luz, deixando o campo todo iluminado. Os galos começaram a cantar pensando que era madrugada, e os cavalos voltaram. O filho do seu senhor encarregou-se de espantar novamente os animais, e novamente o negrinho foi surrado até a morte e jogado num formigueiro. Mas qual não foi a surpresa do estancieiro, quando no dia seguinte foi até o formigueiro e encontrou o negrinho, ao lado da Virgem Maria, os dois envolvidos num facho de luz. Perto deles estavam o cavalo baio e o rebanho que logo em seguida saíram para longe.


A notícia correu e muitos passaram a avistar, à noite, pelas estradas, ou no alto dos céus, o escravo cercado de luz a conduzir um rebanho. E quais são os tipos característicos deste povo? Destacamos os carreteiros, os mineiros do carvão, os ervateiros, os apanhadores de pinhão, os vinhateiros e vindimeiros, os plantadores e colhedores de café, os charqueadores e os peões. A estes se ajuntam artesões, doceiros, rendeiras de várias modalidades, que dão um colorido à Região.


Mas o gaúcho que habita os campos do planalto do Rio Grande do Sul é a maior representação desse lugar. Com paixão pelos cavalos e pelos pampas, seu palavreado mistura expressões portuguesas, espanholas e guaranis. Seus mitos e lendas tratam do boitatá, das almas perdidas dos angüeras, das serpentes dos pampas e dos bois arredios das campinas. Trajam bombachas (calças largas); os ponchos de panos grossos; a pala, que é uma espécie de poncho franjado de pano mais leve; o chapéu mole, de abas largas, preso por uma tira de couro; as botas altas nas quais não faltam as chilenas (esporas barulhentas); o lenço no pescoço; e um cinto grande na cintura, a guaiaca. Um dos folguedos mais populares do Sul, especialmente em Santa Catarina e no Paraná, é o boi-de-mamão.


A exemplo do boi-bumbá do Norte e do bumba-meu-boi do Nordeste, o boide-mamão também conta a história do boi que morre, sendo seu corpo repartido com os presentes, mas que depois, por intercessão da Virgem Maria e dos outros santos, é ressuscitado. No Sul, são personagens dessa festa a Bernunça; a Maricota, uma mulher gigantesca que faz a alegria dos espectadores; o vaqueiro, o Mateus, o cachorro, o bicho Jaraguá (que põe medo nas crianças), a girafa, a cobra jibóia, o cavalinho, a cabrinha e muitos outros. O boi-de-mamão é mais alegre e menos dramático que os bois do Norte e do Nordeste.


No Paraná e em Santa Catarina, também há congadas, que mantêm as mesmas tradições de veneração e culto a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia. Na congada paranaense, destaca o grande número de personagens ostentando títulos e sinais de nobreza, como exemplo o rei congo, o principezinho, o príncipe, o secretário, o duque e, curiosamente, personagens com nomes africanos. Em Caxias do Sul, os descentes de italianos fazem a Festa Nacional da Uva. Em Gramado, acontece a Festa da Colônia e já é tradicional o chamado Natal Luz. Já em Nova Petrópolis, relembrando as tradições alemãs, temos a Festa do Folclore.


O fandango foi trazido para o Sul pelos primeiros colonizadores e recebeu também outros nomes: anu, andorinha, chamarrita, dondom, tonta, carna-verde, sabiá, caranguejo, lajeana, vilão de lenço, xarazinho, xará grande, marinheiro e outros. Tem como acompanhamento musical básico duas violas, uma rabeca e um pandeiro. Nos tempos atuais, o acordeão também passou a ser utilizado. A chula, conhecida em todo o Brasil e mais popular no Rio Grande do Sul, tem semelhança com o lundu afro-brasileiro e com o baião nordestino. Apresenta a dança como desafio, tanto na cantoria quanto na coreografia.


Os dançarinos executam passos entre dois bastões colocados no chão, criando movimentos sem tocar nos bastões. Conhecida desde a Antiguidade, a dança do pau-de-fita é uma homenagem aos deuses da fertilidade, quando as pessoas enfeitam as árvores em agradecimento aos frutos delas colhidos. Tem a mesma origem a ornamentação do mastro de São João, Santo Antônio e São Pedro. No Sul do Brasil, é tradição a dança da jardineira antes da trançagem do pau-de-fita. As pessoas carregam no ar arcos enfeitados de flores, fazendo com eles as mais diversas evoluções.


Essa dança é conhecida em alguns locais como dança-de-são gonçalo. Mas é em São Francisco do Sul, Santa Catarina, que existe um canto chamado cangulo, usado por brancos e negros durante os mutirões da mandioca, cana-de-açúcar e colheita de arroz. Além de manter a atividade, ao mesmo tempo afasta as tristezas e as saudades. O mestre canta o tema principal enquanto os outros respondem o refrão.


Nessa mesma região, se alguém pergunta qual é o prato típico, todo mundo vai responder com o jeito cantado do açoreano: “Só se for na cambira”. Mas afinal o que é cambira? Nada mais que uma árvore cuja madeira serve para fazer peixe defumado, que deixa um sabor que só existe em São Francisco. Já para o gaúcho, churrasco só mesmo o dele. E para acompanhar uma cuia de mate “verde” ou “amargo”. Pode ter um bom vinho e uma “canha”, que é a cachaça.


No artesanato, a cerâmica está presente em toda a parte, figurativa e utilitária. É famosa, por exemplo, a cerâmica teuto-brasileiro do Vale do Itajaí. Igualmente tradicional são as rendas de bilro ou de almofada da Ilha de Santa Catarina; os trançados de vime, raiz de imbé, palha, taquara e bambu; e o chocolate artesanal. E, finalmente, muito comum no Sul, a casa de enxaimel, trazida pelos colonos, especialmente alemães, tem por base a utilização de madeira em várias tonalidades, muitas vezes sem pregos, e outros materiais difíceis de encontrar nos primeiros tempos de colonização.



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