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Avaliação do Estado Nutricional do Idoso

A avaliação do estado nutricional do idoso consiste em diversas medidas de antropometria (medidas corporais), com posterior interpretação, através de pontos de corte já estabelecidos. A antropometria é um método não-invasivo, de baixo custo, fácil de ser aplicado e seguro para identificar prejuízos do estado nutricional e funcionalidade do idoso.

Com o envelhecimento podem ocorrer modificações fisiológicas e presença de doenças, que alteram a composição corporal e dificultam a realização das medidas antropométricas. Neste tópico, iremos abordar as medidas antropométricas, como contornar as dificuldades, métodos para avaliação conjunta destas medidas e suas interpretações no idoso.

Peso

O peso é uma medida antropométrica da massa total do corpo, incluindo músculos, gordura, ossos e líquidos e é obtido através de balança. A prioridade normalmente é que consigamos pesar todos os pacientes, com o objetivo de ter uma medida mais exata, cuja evolução possa ser acompanhada ao longo do tempo. Caso haja perda de peso, é importante avaliar este percentual e o período em que ocorreu para avaliar se foi uma perda significativa ou não, através do seguinte cálculo e interpretação:

Porcentagem de perda de peso = (peso usual – peso atual) / peso usual x 100.

Considera-se perda de peso significativa quando:

I- Perda peso 5% em 1 mês;

II- Perda de peso de 7,5% em 3 meses;

III- 10% em 6 meses.

Figura 16: Balança clínica.



No entanto, alguns idosos podem apresentar dificuldade de locomoção ou de se manter em pé, tornando a aferição de peso impossível. Nestes casos, a estimativa de peso se faz necessária, através das fórmulas do autor Chumlea e colaboradores, descritas abaixo:

  • Homens: peso = (1,73 x circunferência do braço) + (0,98 x circunferência da panturrilha) + (0,37 x dobra cutânea subescapular) + (1,16 x altura do joelho) – 81,69.
  • Mulheres: peso= (0,98 x circunferência do braço) + (1,27 x circunferência da panturrilha) + (0,4 x dobra cutânea subescapular) + (0,87 x altura do joelho) – 62,35.
Estatura

A altura é uma das medidas que sofre alteração com o envelhecimento, pois ocorre uma diminuição, em virtude da redução dos discos intervertebrais e achatamento das vértebras e outras condições que podem acometer os idosos, como arqueamento das pernas (semelhantes a um arco).

Em idosos que não sofreram muitas mudanças de altura com o envelhecimento, é possível aferir a altura com o auxílio de um estadiômetro, onde o indivíduo encosta na parede, descalço, com os pés juntos e em posição ereta, com o olhar voltado para o horizonte.

Figura 17: Estadiômetro.



Entretanto, caso o idoso tenha a altura muito comprometida pelo envelhecimento, observada pela intensidade da envergadura ou arqueamento de membros inferiores, ou ainda, que seja impossível que este idoso se mantenha em pé, é possível estimar a altura deste indivíduo através da altura do joelho ou envergadura dos braços.

A altura do joelho pode ser obtida com a ajuda de um infantômetro, onde o idoso deve estar sentado, com o joelho dobrado em um ângulo de 90º, sendo medido o comprimento entre a planta do pé e a altura do joelho.

Figura 18: Infantômetro.



Figura 19: Aferição da altura do joelho.



Após aferir a altura do joelho, a estatura pode ser estimada através das seguintes fórmulas:

  • Homens: estatura= 64,19 – (0,04 x idade) + (2,02 x altura do joelho).
  • Mulheres: estatura= 84,88 – (0,24 x idade) + (1,83 x altura do joelho).
Caso a altura do joelho não seja possível, outra possibilidade é aferir a medida da envergadura dos braços, que é feita quando o paciente estende os braços em um ângulo de 90º, em relação ao corpo. A distância entre os dedos médios de uma mão deve ser medida até a outra mão com o auxílio de uma fita métrica. Se a medida com os dois braços estendidos não for possível, basta estender um braço e medir da ponta do dedo do meio até o meio do tórax e multiplicar por dois.

Figura 20: Medida da envergadura dos braços.



Índice de massa corporal

O índice de massa corporal (IMC) é um cálculo realizado utilizando o peso e a altura do indivíduo, onde o peso é dividido pela altura elevada ao quadrado.

IMC= peso / altura²

O IMC é um indicador antropométrico amplamente utilizado para classificar o estado nutricional por ser fácil de aplicar e ter baixo custo. No entanto, é um indicador que apresenta diversas ressalvas, pois, é baseado no peso total do indivíduo, ou seja, se o idoso possuir edema (inchaço), esse valor de IMC pode ser superestimado em razão do acúmulo de líquidos, ou, caso o idoso possua maior reserva de massa muscular, o IMC do cálculo indicará excesso de peso, mas na verdade o indivíduo possui maior quantidade de massa muscular, que é um ponto positivo, principalmente em idosos, cuja perda de músculos não é recomendada. Além disso, é importante lembrar que quando o peso e a altura são estimados, o IMC se torna ainda mais impreciso, reforçando ainda mais a análise clínica total do idoso para determinação do estado nutricional. Portanto, a avaliação conjunta de todos os parâmetros antropométricos e exame físico se faz essencial neste momento. Normalmente duas classificações são as mais utilizadas, conforme descritas no quadro abaixo.

Quadro 1: Classificação de IMC (kg/m²) para idosos.

Referência

Baixo peso

Eutrofia

Sobrepeso

Obesidade

OPAS, 2002

≤ 23

> 23 a ≤ 28

> 28 a ≤ 30

> 30

Lipschitz, 1994

≤ 22

> 22 a < 27

≥ 27

-


Baixo peso: peso baixo para a altura; Eutrofia: peso adequado para altura; Sobrepeso: excesso de peso para a altura; Obesidade: muito excesso de peso para a altura.

Vamos a um exemplo prático para cálculo e interpretação de IMC. Imagine que um homem idoso tem 70 anos, com peso e ingestão alimentar habituais, e você aferiu o peso deste indivíduo, que foi de 73 kg e a altura de 1,70m. Logo, relembrando a fórmula: IMC= peso / altura². Resolve-se primeiro a altura elevada ao quadrado: 1,70 x 1,70 = 2,89. Em seguida, o peso é dividido pelo resultado da altura ao quadrado: 73 / 2,89 = 25,25kg/m². Portanto, nas duas referências, este indivíduo se enquadraria como eutrófico, com um peso adequado para a sua altura.

Circunferência da cintura

A circunferência da cintura (CC) é uma medida antropométrica que possui relação com a distribuição de gordura corporal. Com o envelhecimento, existe uma tendência de acúmulo de gordura na região central do corpo, conhecida por gordura visceral e que representa risco para doenças cardiovasculares. Deve ser medida com uma fita métrica inelástica no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca.

Figura 21: Medida da circunferência da cintura.



A medida indica o acúmulo de gordura em região central e o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e complicações metabólicas, conforme descrito no quadro a seguir.

Quadro 2: Interpretação da medida de circunferência da cintura.

Sexo

Risco para doenças cardiovasculares

Risco elevado

Risco muito elevado

Masculino

94 cm

> 102 cm

Feminino

80 cm

> 88 cm

Cm: centímetros.

Agora vamos utilizar o mesmo idoso do exemplo anterior para avaliar se ele possui risco para doenças cardiovasculares. O idoso é um homem de 70 anos, com um IMC de 25,25kg/m² e a circunferência da cintura aferida por você foi de 87 centímetros. Logo, é um indivíduo com peso adequado para a altura, sem acúmulo elevado de gordura em região abdominal (pois 87cm está abaixo do ponto de corte de 94cm). 

Circunferência do braço

A medida de circunferência do braço (CB) reflete os tecidos corporais, como músculo e gordura e pode avaliar a depleção de ambos os tecidos. A medida é feita no ponto médio do braço não-dominante, o idoso deve estar em pé e com o braço relaxado ao longo do corpo.

Figura 22: Medida da circunferência do braço.



A circunferência do braço pode ser avaliada através do percentual de adequação, feito da seguinte forma: após medir o idoso, é necessário buscar o valor médio (P50) da CB na figura a seguir.

Figura 23: Tabela para identificação do valor médio.



Esta figura demonstra a média das circunferências do braço de idosos, conhecida por P50, que é o número “50” na segunda linha do quadro, conforme a idade. A partir de então, a adequação é obtida através da seguinte fórmula:

Percentual de adequação da CB: CB obtida (cm) / P50 da CB para a idade x 100.
O resultado é interpretado a partir do quadro abaixo:

Quadro 3: Percentual de adequação da circunferência do braço e interpretação.


CB

Desnutrição grave

Desnutrição moderada

Desnutrição leve

Eutrofia

Sobrepeso

Obesidade

< 70%

70 - 80%

80 - 90%

90 -110%

110 -120%

>120%


Vamos supor que aquele mesmo idoso do exemplo anterior, de 70 anos, IMC de 25,25 kg/m² e circunferência da cintura de 87 cm, possui uma circunferência do braço 30 cm e precisamos interpretar o que significa esta medida. Portanto, realizaremos o seguinte cálculo:

Percentual de adequação da CB: 30 (CB aferida) / 31,3 (P50 para idosos homens de 70 a 79 anos) x 100 = 95,8%
Logo, o percentual de adequação da circunferência do braço deste idoso também se enquadra na eutrofia, pois está entre 90 e 110%.

Circunferência da panturrilha

A circunferência da panturrilha é uma medida antropométrica muito utilizada para estimar a massa magra na população idosa, pois é de prática aplicabilidade. É realizada ao redor da maior proeminência da musculatura da panturrilha e tem relação com a desnutrição em idosos.

Figura 24: Medida de circunferência da panturrilha.



A circunferência da panturrilha, além de ser relacionada com a desnutrição, também possui relação com a performance física do idoso. Os pontos de corte são definidos para indicar redução da massa muscular e variam entre sexo, logo, os homens não devem ter circunferência da panturrilha ≤ 34 centímetros, e as mulheres não devem ter circunferência da panturrilha ≤ 33 centímetros, conforme o quadro a seguir.

Quadro 4: Interpretação da medida da circunferência da panturrilha em idosos.

Circunferência da panturrilha

Homens

Mulheres

≤ 34 centímetros

≤ 33 centímetros


Imagine que você aferiu a circunferência da panturrilha do idoso do exemplo anterior e o resultado foi de 36 cm, se enquadrando em uma CP adequada (pois não é igual ou menor que 34 cm). Portanto, este homem idoso, com 70 anos de idade, ingestão alimentar habitual, sem perda de peso, IMC de 25,25 kg/m² (eutrófico), circunferência da cintura de 87 cm (adequada), circunferência do braço com adequação de 95,8% (eutrófico) e agora com circunferência da panturrilha de 36 cm (adequada), aparentemente possui um estado nutricional normal.

Outras formas de avaliação da composição corporal

A realização das dobras cutâneas com o auxílio de um adipômetro também podem ser empregadas para a avaliação do estado nutricional de idosos. As dobras cutâneas mais utilizadas em idosos são a dobra cutânea tricipital e subescapular. O objetivo é estimar a gordura subcutânea em determinadas regiões corporais. Existem alguns fatores que podem afetar a exatidão destas medidas, como mudanças de fluidos corporais (como edema) e a flacidez da pele. As dobras cutâneas são realizadas através de um instrumento chamado plicômetro ou adipômetro, que requer um treinamento prévio para sua utilização, a fim de identificar os pontos corretos para realização da dobra cutânea e posterior interpretação.

Figura 25: Exemplo de um plicômetro/adipômetro.



A bioimpedância é um método mais sofisticado (pois o equipamento tem um custo alto para aquisição) para estimar a composição corporal daquela pessoa, como gordura, músculo e quantidade de água corporal através da colocação de eletrodos e pequena aplicação de corrente elétrica.

Figura 26: Exemplo de uma bioimpedância.



Além disso, exames de imagem também são capazes de identificar a presença de baixa massa muscular em idosos, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada.


Este artigo pertence ao Curso de Introdução à Nutrição para Idosos

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