CULTURA DO CENTRO-OESTE
Três Estados compõem a Região Centro-Oeste, são eles: Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nesta Região também está o Distrito Federal, que abriga a capital do país, primeira cidade do século XX a tornar-se Patrimônio Cultural da Humanidade, por decisão da Unesco.
Não tem como falar na cultura desta Região sem falar das tribos indígenas que, mesmo com todas as dificuldades provocadas pelas transformações sociológicas, mantêm fortes e ricas tradições culturais. É na bacia do Araguaia/Tocantins que estão a Ilha do Bananal e o Parque Indígena do mesmo nome. E ainda várias outras reservas espalhadas: o Parque Nacional do Araguaia, a Reserva Indígena do Xingu, Kadiéu, Nhambiquara, Aripuanãa, Jarina e Capoto. Mesmo com tantos massacres de que, infelizmente, foram vítimas ao longo dos tempos, vivem ali várias tribos, cada uma com sua mitologia, seu lendário, seus segredos, seus folguedos, suas festas e danças.
No Xingu, o huca-huca é uma espécie de torneio de luta em que ganha o guerreiro que conseguir fazer o adversário tocar os ombros no chão. Também a idjazó é uma modalidade de luta de braço, para qual recebe uma festa, a Arnacan. Ela dura um dia inteiro, sendo vencedor o que recebe o título de deridó, aquele que conseguir derrubar mais adversários. No mês de julho, uma grande festa acontece entre os índios xinguanos. É o javari, que a cada ano homenageia um cacique morto. Várias tribos participam em confraternização e trocam objetos artesanais desde cerâmica, arcos e flechas, bonecos de barro e até enfeites trançados de algodão.
Durante a festa, os jovens precisam mostrar suas habilidades com o dardo. Há rituais em que as mulheres não participam, como o da Karytu, em que os homens tocam enormes flautas de bambu; é o misterioso ritual de morte Kuarup, considerada a maior festa indígena brasileira. Abrigando muitas fazendas de gado e um amplo complexo turístico, o Pantanal mantém viva uma cultura popular herdada dos índios, mas bastante transformada ao longo dos tempos.
O peão é o tipo característico do Pantanal, ele está sempre disposto a contar uma história sobre um boi bagual que é valente e difícil de conduzir para o curral. O peão também está sempre pronto para participar de uma comitiva. Você sabe o que é uma comitiva no Pantanal? É um grupo de peões que leva o gado de fazenda para outra, com o berrante comandando a marcha. Eles vão de chapéu de palha ou de couro na cabeça e perneiras em cima da calça para poder entrar nos alagados. Já o candango é o personagem típico que ficou imortalizado na construção de Brasília. Em sua maioria nordestina, esses construtores trouxeram seu folclore regional, seu modo de cantar.
Em Ceilândia, cidade do Distrito Federal, Niemeyer projetou a Casa do Cantador, onde, além das apresentações de cordelistas, poetas populares e grupos folclóricos, funciona também a Federação Nacional das Associações dos Cantadores, Repentistas e Poetas Cordelistas. Mas ainda temos o garimpeiro e o violeiro ou cantador, figuras importantes no cenário da Região Centro-Oeste. Nas crendices populares da Região Centro-Oeste, dizem que beija-flor entrando pela janela da casa é sinal de boas notícias, o besouro dentro da casa é sinal de novidades.
Assobiar à noite atrai cobra. Para não atrair azar, preste bem atenção: não se pode emprestar agulha nas sextas-feiras, nem deixar urubu em cima da casa, jamais passar debaixo da escada, nunca guardar espelho quebrado, deixar chinelos virados com a sola para cima? Nem pensar! Mas se quer atrair sorte é só achar ferradura de sete buracos ou um trevo de quatro folhas. Agora, se é para garantir bons dentes, quando o dente de leite cair basta jogá-lo no telhado e ao mesmo tempo fazer uma reza.
Na linguagem, a morte de alguém pode ser dita de várias formas: bateu as botas, bateu com o rabo na cerca, juntou os borzeguins, foi pro beleléu, fechou ou abotoou o paletó. Quando alguém saiu ou fugiu, é comum ouvir que a pessoa abriu a pala no mundo, picou a mula, capou o gato, saiu de fininho, anoiteceu e não amanheceu, deu no pé. Lenda é o que não falta. Desde os mistérios da Gruta Azul, em Bonito, ao nascimento do tuiuú, o pássaro símbolo do Pantanal. Mas é a Serra do Martírio o motivo de muitos mistérios.
Desde os primeiros tempos do Brasil, já se contavam histórias de um lugar onde a felicidade era absoluta, os rios cheios de peixes, ouro e diamantes, as montanhas eram de esmeraldas, as aves e os animais enchiam as matas de vida e som. Quando o sol brilhava, a serra rebrilhava e seus picos tinham formas semelhantes às lanças da coroa de espinhos com que foi suplicado o Filho de Deus. Dizem que um branco chamado Melchior Dias Moreira e seu filho Robério Dias conseguiram avistar os raios rebrilhantes da serra, com os sinais da Paixão de Cristo e seguindo a luz, chegaram a um lugar com imensos blocos de ouro.
A admiração foi tamanha, a ponto do bandeirante ajoelhar-se e bendizer ao Senhor pelo que estava presenciando. Assim, vendo que havia algo sagrado no lugar, pediu ao filho que mantivesse segredo e não dissesse o local exato da serra. Muitos outros se aventuraram em busca desse tesouro, entre eles o coronel inglês Percy Fawcett que desapareceu na mata e muitos acreditam que ele chegou à Serra dos Martírios. Várias expedições foram enviadas na tentativa de encontrá-lo. Numa delas, o antropólogo e professor norte-americano Petrulho desceu numa aeronave nos rios xinguanos, mas quando os índios se aproximaram, curiosos, ele teve medo e fugiu. O mesmo fato aconteceu com a expedição de Dyott ao encontrarem os índios.
Já a expedição franco-suíça tentou seguir os passos de Dyott e misteriosamente desapareceu. Até Assis Chateaubriand mandou uma expedição para desvendar tantos mistérios e, em especial, esclarecer o caso Fawcett. A conclusão foi que todos foram mortos pelos kalapalos. Mas alguns acreditam que o explorador inglês pode ter encontrado uma cidade subterrânea e estar vivendo nela até hoje, pois muitos índios louros foram vistos na região do Alto Xingu e na Chapada dos Guimarães. A Chapada fica exatamente no centro geodésico da América do Sul, ou seja, o centro geográfico do continente. Então, muitos afirmam que ali pode ser um dos umbigos do mundo, detendo um poder mágico.
E é numa mistura de questões místicas e esotéricas com lendas e mitos de animais que habitam a Região Centro-Oeste que as histórias vão tomando forma. Histórias do caboclo d’água, meio-peixe e meio-homem. A do Anhangüera, que quer dizer “diabo velho”, apelido dado pelos índios a Bartolomeu por ele ter prometido atear fogo nas águas caso os índios não lhe mostrasse as minas de ouro. A lenda das lágrimas de Potira, que chorou na beira do rio quando soube que o marido tinha morrido na guerra e suas lágrimas viraram diamantes. Na cidade de Goiás – mais conhecida como Goiás Velho – durante a quaresma, ocorre a procissão das almas e dizem que ninguém pode abrir as janelas, sob o risco de acontecer coisas que até Deus duvida.
Na Quarta-Feira Santa, uma milenar manifestação religiosa chamada Procissão do Fogaréu ganha às ruas da cidade com o intuito de relembrar como os perseguidores buscavam Cristo para prendê-lo. Os participantes, encapuzados e com uma tocha na mão, ao som de tambores ou de matracas e com cantos fúnebres, caminham em marcha pelas ruas da cidade até a igreja, onde há a solenidade final. É comum que, durante a Procissão do Fogaréu, um estandarte, uma bandeira ou uma imagem de Cristo morto seja colocada à frente de todo o grupo.
Há, ainda, a lenda do joão-de-barro, que abrigou a Sagrada Família que fugia dos soldados de Herodes e o bem-te-vi que recebeu este nome por “dedurar”, cantando bem-te-vi aos soldados, que nada entenderam. Muitos folguedos foram trazidos da Região Sudeste, pois como já conhecemos a história, o Centro-Oeste foi colonizado, inicialmente, por pessoas vindas de São Paulo e Minas. Portanto, mantêm-se as tradições como as Folias de Reis, os congados e as Festas do Divino. Durante o ciclo natalino, é comum acontecer o folguedo chamado Boi do Natal, em que, igual a todos os “bois”, o animal morre e é ressuscitado graças à intercessão de Nossa Senhora. Alguns personagens são diferentes, mas o ritual é o mesmo. Entre cantos, danças e palavras, o boi e seus companheiros brincam no meio do povo.
Em Mato Grosso, entre o Natal e o Dia de Reis, acontece uma festa em que o boi tem um nome diferente: o “toro candil”. É um bumba-meu-boi de origem paraguaia em que os personagens de animais possuem chifres com candeeiros, que são acesos durante a festa. Eles são toureados por homens mascarados e às vezes vestidos de mulher. Mas é em Pirenópolis que acontece o folguedo mais famoso do Centro-Oeste. Estamos falando da Cavalhada. Esta festa acontece durante os festejos do Divino, junto com a Festa de Pentecostes.
Como as outras Cavalhadas, a de Pirenópolis narra as lutas de reconquista para expulsar os mouros da Europa, misturando esse fato com as descrições das aventuras de Carlos Magno e seus cavaleiros, os chamados Doze Pares da França, e também as justas e os torneios da cavalaria medieval. As roupas usadas nessa festa são muito enfeitadas e representam as indumentárias da Idade Média. De um lado, os cristãos, vestidos de azul e do outro, os mouros, vestidos de vermelho. Além disso, cada cavaleiro conduz uma espada na cinta, uma lança toda enrolada com fitas em espiral e um par de pistolas que serão usadas durante os combates.
Os cavalos também são ricamente ornamentados. A festa com a encenação da batalha dura, às vezes, até três dias. E, para finalizar, são exibidas provas lembrando os torneios da cavalaria. As provas levam nomes como tira-cabeça, oito de contas, foguinho, alcance e, a mais importante, a argolinha, em que cada cavaleiro em disparada tem de atravessar com sua lança uma pequena argola suspensa no ar. Quando o cavaleiro consegue tal façanha, ele oferece a argola a uma pessoa que pode ser uma autoridade ou a uma namorada. O homenageado, ao receber a argola, coloca uma prenda na ponta da lança. As mulheres, geralmente, colocam uma flor ou um lenço. Em seguida, o cavaleiro desfila diante de toda a platéia.
No Centro-Oeste, as danças apresentam nítidas marcas indígenas, como as danças do ciriri e a do cururu, que é considerada uma dança sagrada. Mas apresenta também a influência branca e podemos citar a dança-de-são-gonçalo, com as moças portando arcos coloridos e enfeitados sobre as cabeças, fazendo com eles evoluções coreográficas sob o comando do próprio santo, a volta-senhora, que é quase uma quadrilha, o marimbondo, muito comum no interior de Goiás. O recortado, uma espécie de cateretê, e a serra moreninha, um bailado simples e quase sempre executada dentro de salão.
Não se pode falar do cancioneiro goiano sem referir-se à moda de viola, este gênero musical que é legítimo herdeiro das cantigas medievais e que no Brasil se dividiu em vários estilos e tipos. Já em Mato Grosso, além da moda de viola, encontramos outros ritmos como a polca paraguaia, a galopa, a guarânia e o chaminé, sendo este último uma junção de ritmos paraguaios e argentinos. Com uma forte influência da Bolívia, temos acompanhamentos musicais com a utilização de instrumentos como o charango.
Culinária
Quanto ao sabor, podemos experimentar nesta região os licores, como o aluá e a gengibirra, feitos com abacaxi, o peixe com banana, e os bolos de mandioca e de moranga. Na fronteira com o Paraguai e a Bolívia, são comuns pratos como a chipa paraguaia, uma espécie de pão de queijo; e a sopa paraguaia, que de sopa não tem nada, mais parece uma torta de fubá ou a polenta do Sul do Brasil. Na região pantaneira é tradicional a roda do tereré, que é a erva-mate com água fria.
O destaque do artesanato também fica por conta da influência indígena. Um exemplo é a tribo dos Carajás, no Xingu, na qual as canoas e os remos são peças de alto valor artístico, muito bem desenhados e pintados com tinturas da própria natureza. Igualmente ricos são os bonecos de madeira e barro, conhecidos como licocós. Os índios também são mestres na arte da cerâmica e hábeis trançadores de bambus e taquaras, usados na confecção de cestas e outros objetos. Em toda a Região, mas principalmente em Goiás, as tecelãs são de grande importância socioeconômica. O algodão é a matéria-prima. Colhido e descascado em rústicos aparelhos artesanais, passado depois nas rocas e nas caneleiras dos teares, as peças podem ser usadas na fabricação de colchas, redes, mantos e vestimentas diversas.
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