ESCOLA FRANCESA
A Escola Francesa surgiu em 1960, no Centro de Estudos de Comunicação de Massas (CECMAS) dentro da Escola Prática de Alto Estudos, em que os teóricos Georges Friedmann, Edgard Morin e Roland Barthes participaram e criaram a revista Communications. Por esse grupo reflexivo passaram também Julia Kristeva e Christian Metz. A Escola Francesa deu-se quando intelectuais, sociólogos, filósofos e teóricos de diversas áreas passaram a partilhar alguns pontos de vista sobre a comunicação e a sociedade, participaram de grupos de estudos e de pesquisas e fundaram revistas. Foram muitos grupos diferentes que geraram oposições, divergências, visões de mundo e ideologias opostas, utopias e teorias distintas. A escola francesa parte de dois eixos:
1) A corrente estruturalista (derivada da Escola de Frankfurt): abrange diversas correntes de pensamento fundamentadas na ideia de que os fenômenos e fatos culturais podem ser avaliados como estruturas, ou seja, é uma teoria que vê a sociedade e sua cultura formadas por estruturas que são utilizadas como bases para variados fatores
2) A corrente culturalista: indivíduo resiste a imposição do estruturalismo com uma cultura já existente.
Esses intelectuais franceses estavam preocupados com os temas:
a) Cultura de massa;
b) Indústria cultural;
c) Mídia;
d) Comunicação.
Os franceses nunca fecharam questões sobre o campo da comunicação propriamente dito. A França, nessa época, estava mergulhada no pós-estruturalismo e na desconstrução, mesmo assim, a comunicação era bastante estudada e disputada por outras disciplinas, tais como: sociologia, antropologia, filosofia, lingüística e ciências políticas. Muitos são os nomes dos teóricos que fazem parte da chamada Escola Francesa, alguns deles são:
Pierre Bourdieu
Georges Friedmann
Edgar Morin
Guy Debord
Paul Virílio
Michel Maffesoli
Jean Baudrillard
Lucien Sfez
Jacques Derrida
Dominique Wolton
Pierre Levy
Regis Debray
Claude Levi-Strauss
Roland Barthes
Michel Foucault
Gilles Deleuze
Serge Hamili
Henri Lefebvre
Jean-François Lyotard
Na concepção francesa, um teórico intelectual deve:
a) Ser especialista;
b) Pertencer a um campo;
c) Participar das questões de esfera pública.
A problemática mais específica da Escola Francesa encontra-se na classificação das perspectivas comunicacionais divididas em três eixos, a saber:
1) Comunicação como fenômeno de dominação;
2) Comunicação como fenômeno extremo;
3) Comunicação como vínculo social complexo.
No que se refere aos estudos culturais capazes de englobar o fenômeno da comunicação, é Roland Barthes, no campo da semiologia (estudo de todos os sistemas de signos) que abrindo canteiro de ensaios, alça voos e produz contradições. Em seu livro Mitologias, a legitimação dos mitos modernos da mídia, Barthes reconhece a nova fábrica de mitos sem os reduzir a uma mera manipulação da consciência.
Edgard Morin em O Espírito do Tempo também elabora estudos sobre a comunicação que formam a safra das Teorias Culturológicas. Neles, há mais perspectiva de um novo imaginário cultural do que estudos focados na mídia e na comunicação. Com Morin, por exemplo, os estudos da comunicação enveredaram-se para uma perspectiva complexa e imaginal: motor e movido de uma sociedade de imagem.
Nos anos 60, os estudos sobre comunicação têm Guy Debord, o inseminador mais radical de todos os tempos e, mais tarde um pouco, Baudrillard como um dos analistas menos artificiais. Debord com sua sociedade do espetáculo inaugura uma perspectiva em que a imagem supera o sujeito. Na mesma época, nomes e obras de valor eram publicados por pesquisadores italianos, são eles: Umberto Eco, Paolo Fabbri, Gianfranco Bettetini e Francesco Casetti. Eco esteve no Brasil e lecionou na USP.
As obras que marcaram a Escola Francesa e a Europa são:
• A sociedade do Espetáculo de Guy Debord
• A antropologia Estrutural de Claude Levi Strauss
• O Curso de lingüística Geral de Ferdinand de Saussure
• Apocalípticos e Integrados de Umberto Eco;
• Système de la mode e Mytologies de Barthes;
• Lire Le Capital de Louis Althusser;
• As palavras e as coisas e Vigiar e Punir de Foucault.
• Posicion contre le technocrates de Henri Lefebvre
• O Espírito do Tempo de Morin
• Sobre a televisão de Bourdieu
Neste contexto, é relevante salientar a importância das pesquisas de Foucault, Debord e Baudrillard que disseminam signos sobre a comunicação. Debord radiografou a sociedade do espetáculo (visão de mundo, relação entre pessoas) e Baudrillard dissecou a sociedade de consumo, as maiorias silenciosas e as estratégias fatais. A França, hoje, ainda, é dividida em dois grupos:
a) Aqueles que acreditam no bom uso futuro da mídia (Bourdieu, Sfez e Virilo);
b) Aqueles que consideram a mídia um fenômeno extremo, irredutível à lógica da utilidade social (Baudrillard).
No tempo de Barthes acreditava-se que se pudesse tirar o homem do torpor ministrado pela mídia; e Baudrillard acreditava que a massa neutralizava os mídia pela indiferença. Baudrillard anunciava a morte do bom uso da TV e esse anúncio, ainda, ressoa na França. Régis Debray em sua obra Mediologie desloca a discussão para o médium.. Sfez persiste numa linha virulenta, denunciando o tautismo do destinatário. Virilio inverte os pilares da crítica tradicional aos mídia: a geração do isolamento, a lógica provoca a aceleração total e comprime o tempo, suprime o espaço e elimina a distância, assim não haveria mais privacidade nem mistério. Eis a novíssima sociedade: desprovida de mistério e obscena.
Morin reconhece a força estimuladora de imaginários dos meios de comunicação, mas estabelece sistemas de influência recíproca: a mídia alimenta-se do mundo que é alimentado pela mídia; o imaginário move os homens que inventam os imaginários; o espírito do tempo dinamiza o tempo do espírito. Pierre Lévy tornou-se o porta voz das tecnologias enquanto Dominique Wolton e Sfez atacam o discurso excessivo e a utopia tecnológica. Lévy viu nas redes um-todos por um processo comunicacional todos-todos. Segundo ele, o sujeito, o autor e, até mesmo o emissor, morreram. Nesse sentido, a comunicação sai do estigma da manipulação para entrar na utopia da mediação.
Para Virilio, a modalidade pós-moderna é de encarceramento do ser na ilusão coletiva: eis que tudo é "interatividade" (modo tecnológico de participação no imaginário do outro). Maffesoli, mesmo antes da explosão da internet, tratava do estar-junto como efervescência coletiva, uma espécie de tribalismo; esse coletivismo tinha uma função lúdica. Para ele, a imagem funciona como um totem em torno do qual comungam os espectadores. Para Maffesoli, a internet ajuda no encantamento do mundo já começado em outros domínios e que pode ser rotulado de pós-moderno: estilo de vida que une antigo e tecnológico.
Para Baudrillard, não apenas o emissor e o receptor morreram, mas também o interlocutor, pois não há troca, toda tentativa de contato é difração. Para Sfez o emissor ainda existe, mas é um emissor-receptor-interlocutor lobotomizado. Para Lévy, o ciberespaço é a utopia (não-lugar) onde a comunicação se libera da identidade e realiza-se por identificação transitória. Esses estudos resumem-se em herdeiros de Frankfurt interessados na indústria cultural e na cultura de massa.
Já Bourdieu disseca, por um viés um tanto maniqueísta, o imaginário da indústria cultural da consciência, contido nas personagens de Disney. Para ele, há a circularidade da informação, pois a mídia fala dela mesmo, pauta-se em outras mídias; a mídia saiu do acontecimento e virou personalidade. Hoje, mídia é personalidade! A Escola Francesa é uma coletânea de fragmentos, de obras e inserções, recortes e cruzamentos transdisciplinares em que sociólogos, filósofos, antropólogos e psicólogos, por linhas diversas e distintas, criaram postulados e teorias. Os franceses pensaram mais a comunicação como intelectuais do que como cientistas, pesquisadores e especialistas
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