ESCOLA LATINOAMERICANA
Pesquisa e comunicação na América Latina
O impacto social dos meios de comunicação de massa, os estudos frankfurtianos e as demandas político-sociais são fatores que impulsionam os estudos sobre a comunicação na América Latina. Em meio a contextos contraditórios é que os estudos sobre a Comunicação de Massa são introduzidos no Chile, Uruguai, Argentina e outros países latinos-americanos. Fazem parte do contexto:
• Sonho e luta por um socialismo;
• Metodologias de desenvolvimento do espaço rural;
• Investimento econômico;
• Projeto de dominação;
• Intervenção militar;
• Capital norte-americano;
• Financiamento da televisão no continente latino.
Nessa época, a América Latina é marcada pela dependência estrutural, pela cultura do silêncio e da submissão, mas também pela luta e resistência, diz a professora Christa Berger da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no artigo A pesquisa em Comunicação na América Latina. In: Teorias da Comunicação. (org.) Antônio Hohlfeldt (2009). Os estudos sobre comunicação estão relacionados ao contexto da época, aos centros de pesquisa, às publicações e a autores diversos. Os centros de estudo são:
• Ciespal;
• Ininco;
• Ceren;
• Ilet.
A Escola da América Latina surgiu com o Ciespal (Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para América Latina). Os acontecimentos e as lutas, principalmente, a revolução cubana obriga os Estados Unidos a revisar a política exterior, diz Berger. Durante o governo de Kennedy, foi realizado um Plano de Ajuda à América Latina no que tange à saúde, à educação e ao desenvolvimento das zonas rurais. Isso significa que a ajuda que o universo latino-americano recebe é norte-americana, por mais que o plano de desenvolvimento seja positivo, sempre tem a dependência e a dominação.
Em 1959, o Ciespal instala-se em Quito e oferece cursos profissionalizantes que atuam nas diversas áreas da comunicação de massa. Os pesquisadores mais importantes são:
Wilbur Schramm
Raymond Nixon
John Mc Nelly
Jacques Kayser
Joffre Dumazedier
Os temas pesquisados são:
• Comunicação e Modernização;
• Rádio e Televisão (teleeducação);
• Liderança de opiniões;
As metodologias e pesquisas utilizadas eram as quantitativas e a de análise de conteúdo. Criou-se, então, um modelo difusionista e instrumental adotado para a comunicação rural na América Latina, diz Berger. Esse Plano de Ajuda norte-americano compõe-se de:
1) Inovações na agricultura;
2) Inovações na estrutura e nas funções dos meios eletrônicos;
3) Experiência desenvolvimentista na comunicação educativa;
4) Programas de educação e desenvolvimento rural.
O Ciespal foi um centro de estudos e pesquisas que resultou em:
a) Publicações sobre comunicação e sociedade;
b) Reflexões sobre os problemas da comunicação;
c) Documentação especializada;
d) Registro da Memória histórica da América Latina.
Em 1973, realiza-se o Primeiro Encontro de Pesquisadores da América Latina, no Chile. Nesse encontro, o Ciespal é questionado e criticado e, com isso, o centro sofre mudanças importantes: os pesquisadores decidem dar um ar latino às pesquisas e definem alguns procedimentos, tais como:
• Buscar raízes da América Latina;
• Introduzir nos cursos a comunicação popular;
• Optar pela pesquisa participante;
•Substituir os pesquisadores estrangeiros por latino-americanos: brasileiros, chilenos, argentinos, uruguaios etc.
Portanto, entram em cena os estudiosos:
• Daniel Prietto (argentino);
• Eduardo Contreras Budge (chileno);
• Luiz Antônio Gonzaga Mota (brasileiro).
Em 1959, surge ainda o Ciespal no Equador e o Instituto Venezuelano de Investigaciones de Prensa de la Universidad Central, cuja pesquisa tenta responder à questão: o que se publica na imprensa venezuelana durante a ditadura? Este centro dá origem, em 1973, ao Ininco (Instituto de Investigaciones de la Comunicacion) com o objetivo de pesquisar sobre:
a) Comunicação social;
b) Comunicação de massa;
c) Problemas da comunicação.
Antônio Pasquali, Hector Mújica, Eleazar Dias Rangel, Ludovico Silva e Marta Colomino são os responsáveis pelo Ininco. Nessa época, havia na América Latina dois centros de pesquisa sobre comunicação:
1) Ciespal
2) Ininco
Em 1970, com a vitória de Salvador Allende, no Chile, é criado o Ceren (Centro de Estudos da Realidade Nacional) vinculado à Universidad Católica Nacional. Armand Mattelart é o coordenador e os demais integrantes são:
• Michelle Mattelart;
• Mabel Piccini;
• Ariel Dorfman;
• Hugo Assmann;
• Hector Schramm;
• Paulo Freire.
O Ceren realiza pesquisas sobre o domínio das multinacionais na comunicação latino-americana, desde a perspectiva marxista introduzindo conceitos como ideologia, relações de poder e conflito de classes, diz Berger. Com o golpe militar chileno, o Ceren se desfaz, mas o Ilet (Instituto latino-americano de estúdios transnacionais) é criado no México. Fazem parte desse instituto o chileno Juan Somavia (diretor) e Fernando Reyes Mata, Diego Portales, os argentinos Hector Schmucler e Mabel Piccini e o peruano Rafael Roncagliolo e outros, tais como:
Beltrán;
Capriles;
Hamelink;
Pasquali;
Schiller;
Mattelart.
O Ilet, convidado especial da Comissão Mc Bride da Unesco, foi um instituto que surgiu da receptividade do governo mexicano pelo presidente Echeverria e pelo apoio de algumas instituições européias, tais como:
• Fundação Dag Hammars Kjold;
• Foro do Terceiro Mundo.
Esses centros de pesquisa permitem observar algumas questões, tais como:
a) Ciespal: funcionalismo por meio do difusionismo e extensionismo;
b) Encontro de Costa Rica: permite redirecionar o Ciespal, fortalecidos que estavam pelo Ininco e Ceren;
c) Os estudos sobre comunicação iniciam-se com a tentativa reflexiva de se compreender a imprensa;
d) O funcionalismo e o marxismo, bem como a sociologia e a antropologia disputam abordagens nos estudos da comunicação.
É no início dos anos 70 que se inaugura uma reflexão efetivamente latino-americana sobre a comunicação. A reflexão alicerça-se no panorama político. A efervescência libertadora da América Latina passa por movimentos guerrilheiros, por reivindicações, mudanças na educação e na vida política. Como resultado dessa efervescência, várias são as propostas:
a) Militâncias populares,
b) Organização de sindicatos;
c) Organizações de base;
d) Criação de formas alternativas na comunicação popular;
e) Socialismo libertador
O primeiro obstáculo em busca da libertação são as ditaduras militares que surgem no Chile, Brasil, Argentina e Uruguai. A partir daí, todo sonho de liberdade cai por água, acontecem fugas e os estudos sobre a comunicação estendem-se para outros territórios.
Este artigo pertence ao Curso de Teorias da Comunicação
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