HISTÓRIA DA CULTURA BRASILEIRA
Como temos tão poucas fontes escritas sobre essa época, antes do “descobrimento do Brasil”, entre aspas, é claro, podemos dizer apenas que os estudos e as pesquisas nesta área têm crescido muito, principalmente por meio de fontes arqueológicas, constituídas de restos de construções, artefatos, utensílios e fósseis humanos. Há também o estudo das línguas faladas e as tradições orais e culturais dos povos indígenas, muitas delas mantidas até hoje, sendo fontes igualmente importantes. Quando os europeus chegaram ao litoral brasileiro, encontraram nativos com uma agricultura diversificada, com o cultivo de mandioca, milho, feijão, abóbora, batata-doce, amendoim etc.
Não conheciam animais como o cavalo, o porco e a vaca. O consumo de proteína animal vinha da pesca e da caça. Tinham definidas suas regras sociais e políticas, como as estabelecidas para os casamentos, as celebrações religiosas, as alianças, as guerras e as migrações. Com o tempo, algumas coisas foram mudando. A história mostra-nos o quanto estes primeiros habitantes sofreram. Aldeias inteiras destruídas, um povo massacrado e escravizado. Tinham duas escolhas: submeter-se ou resistir. Significava aderir a uma nova sociedade, inteiramente diferente da sua, ou opor-se a ela. Preservar suas tradições, crenças e ritos seculares ou submeter-se aos costumes, aos valores e às doutrinas do mundo cristão, apresentado como único e verdadeiro.
Certos grupos conseguiram enxergar uma terceira opção: fugir para regiões cada vez mais distantes dos núcleos formados pelos colonizadores. Mas não bastavam os índios como mão-de-obra; na segunda metade do século XVI, os africanos começaram a ser trazidos em número expressivo para o Brasil. Esses povos, por sua vez, trouxeram uma cultura rica e diversificada. Daí em diante, tivemos as interferências francesas, holandesas, espanholas etc. Com o crescimento da população, originária de países e raças diversas, as culturas mesclaram-se e enriqueceram-se.
Passados mais de dois séculos da conquista, no Brasil colônia, a vida cultural dispunha de uma curiosa combinação de estilos e influências artísticas, literárias e religiosas. Teve sua plena expressão no estilo ornamental, suntuoso e rebuscado da arquitetura barroca. Aliás, o Barroco predominou do século XVIII até o início século XIX. Numa época em que a leitura era restrita praticamente ao clero; a palavra evangelizadora e as mensagens visuais constituíam os principais meios de difusão cultural. Ao mesmo tempo, anjos, santos e demônios da crença católica misturavam-se nas aldeias e nos terreiros às divindades, espíritos bons e maus e hierarquias de orixás, guias e caboclos das culturas indígenas.
No século XVII, tivemos o Arcadismo em contraposição ao Barroco, no qual sobressaía uma tendência mais simples, racional e clara, expressando as críticas iluministas ao clero, à nobreza e ao sistema colonial. A transferência da corte para o Brasil e a posterior independência do país trouxeram uma nova tendência cultural. Fundou-se a Imprensa Régia que deu impulso à produção e à distribuição de livros e jornais. Para aproximar a Europa cultural e secular do jovem país exótico e sem desenvolvimento, que era o Brasil, dom João VI preocupa-se com a formação de uma elite cultural e artística em nosso país, que, na época, tinha o Rio de Janeiro como a capital do Império português.
Com isso, em 1816, chega ao Brasil a Missão Artística Francesa, que deu novos rumos à arte brasileira. Integravam a Missão, que veio de Paris, os pintores Jean-Baptiste Debret, Nicolas Taunay; os arquitetos Augusto Montgny, Charles Lavasseur e Louis Uelers, e muitos artistas plásticos, como escultores, um gravador de medalhas, além de serralheiros, carpinteiros e ferreiros. No início, houve reação luso-brasileira em relação aos franceses. Brasileiros e portugueses preferiam a arte barroca, enquanto os franceses eram neoclássicos.
No século XIX, também ficou marcada a preocupação com a necessidade de moldar uma nação com pressupostos considerados pela elite dominante. Escritores, dramaturgos, pintores e intelectuais transformaram a realidade brasileira em objeto primordial de suas obras. Na literatura, marcou o Romantismo. Muitos escritores também eram políticos e tinham como objetivo elaborar uma identidade nacional. Entre os escritores desse período, José de Alencar é o exemplo mais expressivo de político: foi deputado, senador da República, ministro da Justiça. Sua obra tem um evidente caráter de formação da identidade nacional. Machado de Assis, por sua vez, foi um escritor mais universal, introspectivo.
A literatura machadiana é, também, um retrato histórico e psicológico do antigo Rio de Janeiro e de sua sociedade, sem uma preocupação mais ampla com o Brasil como um todo. Como fundador da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, Machado pode ser considerado um político da cultura e das letras. O romancista José de Alencar e o poeta Gonçalves Dias foram os primeiros a usar o folclore na literatura. Alberto Nepomuceno e Alexandre Levy foram os pioneiros na música, e os brasileiros Amadeu Amaral, João Ribeiro e Afrânio Peixoto, os primeiros a reclamar, a dar sugestões e a insistir para serem criadas entidades e programas culturais no Brasil.
Mas foi o presidente Humberto Castelo Branco, já nos anos 1960, que oficializou o Dia do Folclore, por meio do Decreto no 56.747/1965. Esse Decreto Presidencial determina:
Artigo 1o: Será celebrado anualmente, a 22 de agosto, em todo o território nacional, o DIA DO FOLCLORE. Artigo 2o – A campanha de Defesa do Folclore Brasileiro do Ministério da Educação e Cultura e a Comissão Nacional do Folclore, do Instituto de Educação, Ciências e Cultura e respectivas entidades estaduais deverão comemorar o Dia do Folclore e associarem-se a promoções de iniciativa oficial ou privada, estimulando ainda, nos estabelecimentos de curso primário, médio e superior, as celebrações que realcem a importância do folclore na formação cultural do País.
No começo do século XX, foi destaque, no Brasil, o início da produção industrial e a vinda de grande número de imigrantes de países diversos. Como conseqüência, o país assistiu a um expressivo crescimento econômico e a grandes transformações sociais, resultantes do convívio com diferentes culturas. Este período marca o Modernismo. Com a participação de escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos, realizou-se no Teatro Municipal de São Paulo, no período de 11 a 18 de fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna, que visava renovar o ambiente cultural e artístico brasileiro.
O objetivo era a produção de uma arte brasileira afinada com os movimentos de vanguarda que aconteciam na Europa, preservando, no entanto, nosso caráter nacional, sem complexos de inferioridade em relação à arte produzida em outros países mais desenvolvidos. O marco inicial do modernismo no Brasil foi a Semana de Arte Moderna de 22, realizada no Centenário da Independência do Brasil, numa iniciativa de artistas e intelectuais do Rio de Janeiro e de São Paulo, tendo à frente o escritor Graça Aranha que, na abertura do evento, pronunciou a conferência “A emoção estética na Arte Moderna”, recebida sob aplausos e vaias. Os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram os que mais expressivamente representaram o espírito de mudança da Semana de Arte Moderna.
Manuel Bandeira, mesmo sem comparecer ao Teatro Municipal de São Paulo, provocou vaias e aplausos, com a leitura de seu poema “Os sapos”, que faz uma sátira ao Parnasianismo, que era um movimento literário de prestígio na época. O Modernismo surgiu, portanto, como um movimento de contestação aos valores artísticos em voga no Brasil. Destacaram-se, também, na Semana de Arte Moderna, diversos artistas plásticos: Anita Malfatti, Zina Aita, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, além dos escultores Hildegardo Velloso e Wilhelm Haagvard e dos arquitetos Antonio Garcia Moya e Georg Przyrembel. Entre os escritores destacaram-se, também, Menotti del Pichia, Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida. Os compositores Villa-Lobos, Guiomar Novais e Ernani Braga foram muito importantes no movimento modernista.
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