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História e importância da necropsia

Com o surgimento da inteligência e a evolução cultural, alguns indivíduos começaram a se destacar dentro das comunidades, utilizando de forma empírica ervas, raízes, partes de animais, sons e até mesmo procedimentos que remetiam a técnicas cirúrgicas rudimentares. Por volta de 4.000 a.C., evidências históricas já apontam a prática da trepanação craniana, acompanhada de processos de cicatrização, indicando uma busca por afastar as doenças atribuídas à influência de forças malignas, o que conferia a esses indivíduos o papel de "sacerdotes" ou "feiticeiros".

A busca por compreender as causas das doenças sempre foi uma preocupação presente na história da humanidade. A palavra "autópsia", derivada do grego clássico αυτοψία, significando "ver por si próprio", revela a prática de examinar um cadáver para determinar a causa da morte ou a natureza de uma doença. Esse método remonta à antiguidade, sendo associado às dissecações realizadas por Herófilo e Erasístrato no século II a.C. Posteriormente, na Europa, por razões éticas e religiosas, a dissecação de cadáveres humanos foi amplamente proibida, restando apenas a possibilidade de realizar estudos anatômicos em animais.

Figuras proeminentes como Galeno de Pérgamo, no século II, contribuíram significativamente para o avanço do conhecimento anatômico através de dissecações em animais. No entanto, somente durante o período do Renascimento é que houve uma retomada significativa dos estudos anatômicos, impulsionados por artistas como Leonardo da Vinci, que não apenas realizaram dissecações em cadáveres humanos, mas também incorporaram os conhecimentos adquiridos em suas obras artísticas.

Ou seja, o estabelecimento do conhecimento da anatomia humana, conforme compreendido na atualidade, não ocorreu de maneira rápida ou fácil. Tradições culturais e influências religiosas frequentemente representaram barreiras significativas ao desenvolvimento dessa ciência. Existem relatos históricos que indicam as primeiras práticas de dissecação na Índia, onde, devido à tradição hindu de cremação para crianças com menos de dois anos, dissecavam-se indivíduos dessa faixa etária. No entanto, as primeiras dissecações forenses registradas ocorreram na Universidade de Bolonha, na Itália, durante o século XIII. Um exemplo é o caso documentado em 1275 por William de Saliceto, renomado cirurgião e professor da época.

O surgimento da Patologia como uma especialidade médica separada e distinta ocorreu em momentos-chave da história. Antonio Benivieni, no final do século XV, foi pioneiro ao documentar sistematicamente os resultados de autópsias realizadas em seus pacientes. Posteriormente, em 1543, Andreas Vesalius publicou a primeira obra de anatomia humana, estabelecendo padrões corretos para a dissecação anatômica. Outros nomes influentes incluem Giovanni Morgagni, que correlacionou os sintomas dos pacientes com os achados patológicos em autópsias, e Rudolf Virchow, considerado uma das maiores figuras na história da Patologia, que foi um dos primeiros a utilizar o microscópio para analisar tecidos.

A importância das necrópsias clínicas começou a se destacar a partir das descobertas significativas realizadas por Rokitansky e Virchow no que diz respeito à patogênese das doenças e à patologia celular. Esses avanços foram essenciais para o entendimento das bases anatômicas e fisiológicas das enfermidades humanas, contribuindo para o progresso da medicina e da ciência médica como um todo.

Ao longo desse processo histórico, a sistematização e padronização dos procedimentos de autópsia foram fundamentais para o avanço do conhecimento médico. O estudo desses procedimentos não apenas permitiu compreender as causas das doenças que afligiam os pacientes, mas também contribuiu para o desenvolvimento de novas áreas, como a transfusão sanguínea e o transplante de tecidos, tendo em Karl Landsteiner um dos grandes expoentes.



Na imagem, a famosa obra “A Lição de Anatomia do dr. Tulp” de Rembrandt, de 1632, retratando a autópsia nas aulas de anatomia do doutor e professor.

Na esteira da pandemia de Covid-19, as lições extraídas das primeiras necropsias desempenharam um papel crucial na redução das incertezas sobre como esse novo vírus estava infligindo tanto sofrimento e morte. Inicialmente, o que parecia ser apenas mais uma endemia desencadeada por um vírus respiratório, com origem novamente na Ásia, revelou-se, em poucos meses, como uma enfermidade nova e distintiva, com poucas semelhanças com outras causadas pelos membros conhecidos da família dos coronavírus. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfrentou críticas por sua demora e hesitação em reconhecer a pandemia. Muitos "especialistas" fizeram previsões e ofereceram orientações categóricas, que acabaram sendo desmentidas pela rápida disseminação da doença.

Cientistas e jornalistas especializados em saúde, que inicialmente advertiram sobre a complexidade e prolongamento do caminho a ser percorrido, foram inicialmente recebidos com ceticismo. A valorização global do esforço dos profissionais de saúde foi generalizada, porém, entre tantas categorias homenageadas, é crucial destacar o papel dos médicos patologistas, que deram os primeiros passos decisivos e que tiveram sua importância reavaliada neste contexto. 

Graças às informações comparativas das autópsias, foi possível identificar a doença e entender que ela não tinha tantas semelhanças com as que já haviam acometido a sociedade humana. Porém, mais do que isso, foi reforçada a necessidade de um maior controle sanitário e a importância de uma análise patológica minuciosa para enfrentar desafios de mesma natureza no futuro.

Então vamos ao resumo e informações mais relevantes:

Uma autópsia consiste em uma minuciosa análise externa e interna do corpo, um procedimento que deve ser conduzido com rigorosos princípios éticos médicos e com o devido respeito à dignidade do falecido. As necropsias clínicas ganharam destaque com as descobertas de Rokitansky e Virchow sobre a patogênese das doenças e a patologia celular. 

A partir disso, podemos distinguir entre as autópsias clínicas, que visam contribuir para o diagnóstico patológico, e as autópsias forenses, destinadas a esclarecer a causa de mortes decorrentes de circunstâncias externas. Geralmente, as necrópsias clínicas são realizadas em hospitais e unidades do Sistema de Verificação de Óbitos (SVO), requerendo autorização da família. Por outro lado, as necrópsias forenses são obrigatórias por lei e conduzidas nos Institutos de Medicina Legal (IML), ligados às Secretarias de Segurança estaduais.



Este artigo pertence ao Curso de Técnicas de Necropsia

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