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MOVIMENTOS OCULARES DURANTE A LEITURA

Quando lemos, os nossos olhos não percorrem a linha de texto de uma forma contínua e regular da esquerda para a direita. Émile Javal, que foi quem pela primeira vez observou os
movimentos oculares de um leitor, em 1878/79, verificou que, durante a leitura, os nossos olhos progridem na linha de texto por saltos, muito curtos e muito rápidos, as sacadas, a que se seguem pequenas pausas, as fixações.


As sacadas, ou movimentos sacádicos, são os movimentos oculares que realizamos com mais frequência e servem para recolher informação. Uma vez que a nossa acuidade visual é
limitada,é necessário mover os olhos com bastante frequência. Na leitura, as sacadas são realizadas da esquerda para a direita (nas línguas ocidentais, ou seja, que se escrevem e lêem da esquerda para a direita e de cima para baixo) e com uma amplitude média de 7 a 9 espaços de letra.


A leitura é um processo multissensorial e, durante sua realização, diversos processos estão envolvidos. Entre eles, podemos citar a percepção visual, movimento ocular, associação viso-auditiva, reconhecimento auditivo, processamento fonológico, memória visual e auditiva, expressão oral e processos verbais superiores.

A leitura também é um processo dinâmico no qual os olhos realizam movimentos para extrair informações para a compreensão. Nesse momento, eles realizam movimentos de fixação, com períodos estáveis, examinando uma pequena área do estímulo e movimentos sacádicos ou sacadas, movimentos rápidos saltando de um ponto a outro para fixar a imagem sobre a fóvea (região central dos olhos).


Esses movimentos dos olhos mudam em leitores mais ou menos eficientes, sendo que nos iniciantes, são observadas fixações mais longas e sacadas mais curtas, refletindo a imaturidade na leitura. A fixação acontece somente sobre algumas palavras do texto, sendo que as curtas com duas a três letras (aproximadamente 30% das palavras de um texto) são geralmente omitidas. Entre essas pequenas palavras gramaticais, constam auxiliares, pronomes, conjunções, preposições ou artigos que são quase sempre puladas.


Quase todas as outras palavras essenciais de conteúdo da frase, como nomes, verbos, adjetivos, advérbios, devem ser fixados pelo olhar. Entretanto, não há fixação sobre a palavra, pois ela é “pulada” por meio de uma sacada mais longa, processo conhecido como word skipping. Nesse momento, os olhos preferencialmente fixam perto do início das palavras ou no espaço em frente a elas. Por outro lado, palavras maiores podem ser fixadas mais de uma vez.


Embora nem todas as palavras sejam fixadas, todas recebem algum tipo de processamento visual, pois se as palavras não fixadas durante a leitura de uma frase forem excluídas e a frase for apresentada novamente, o texto se torna incompreensível para esse leitor. No entanto, palavras que foram puladas podem ser lidas posteriormente através de sacadas regressivas, que consistem em movimentos sacádicos realizados no sentido oposto ao sentido da leitura.


Desta forma, em línguas como o Português, na qual a leitura ocorre da esquerda para a direita, sacadas regressivas são dirigidas à esquerda da fixação. Esses movimentos têm como função fixar a palavra. Servem como uma forma de conferir um vocábulo que foi pulado ou não foi compreendido. Entretanto, sacadas muito curtas em uma mesma palavra denotam um problema no posicionamento da fixação, enquanto as muito longas mostram dificuldade no processamento da palavra. Os leitores mais jovens realizam frequentemente mais refixação.

Durante a leitura fluente, sacadas movem os olhos para que a palavra possa ser centrada na retina de modo que possa ser mais processada de forma eficaz. No entanto, tanto o comprimento quanto a duração da fixação da sacada, variam consideravelmente de palavra a palavra. A localização das fixações dos olhos dentro das palavras não é aleatória, há um local de observação preferido.


Os olhos dos leitores tendem a pousar em algum lugar entre o meio e o início da palavra. Além disso, para longas palavras, os leitores inicialmente fixam perto do início da palavra ou em algum lugar entre o meio e o início das palavras e, em seguida, fazem um refixação perto do fim da palavra. A análise do padrão do movimento ocular ajuda a diferenciar leitores competentes daqueles com dificuldades de leitura.


Isso porque o comportamento do movimento dos olhos muda em leitores mais ou menos eficientes. Leitores menos especializados (iniciantes ou pouco eficientes) normalmente têm fixações mais longas, sacadas mais curtas e fazem mais fixações e regressões do que leitores hábeis. Bons leitores têm sucesso em fazer sacadas precisamente para a parte do texto que lhes tenha causado problemas de interpretação, enquanto maus leitores fazem pequenas sacadas regressivas para encontrar o alvo de suas dificuldades.

A maior familiaridade com a palavra, assim como a maior previsibilidade contextual, leva à diminuição na duração e no número de fixações. Por isso, crianças em séries iniciais tendem a ler de forma mais lenta. Uma sacada dura, em média, 30 milésimos de segundo (ou milissegundos, de ora em diante, ms), na leitura, a 50 ms, na percepção de cenas/imagens.


Durante as sacadas não adquirimos informação nova e nem sequer somos capazes de nos aperceber de qualquer alteração que seja realizada durante estes movimentos, fenômeno denominado de supressão sacádica.  É como se a imagem visual fosse composta pelas parcelas que vamos recolhendo, apenas, nas várias pausas que realizamos.


Cerca de 15% dos movimentos sacádicos realizados durante a leitura são movimentos regressivos, ou seja, partem da direita para a esquerda, para regiões anteriores de texto, na mesma linha ou para algumas linhas acima. Estes movimentos acontecem, sobretudo, quando se registam dificuldades no processamento da informação, quer por haver informação em falta, quer por dificuldades de interpretação da estrutura. As fixações, ou as pausas entre as sacadas, duram, em média, na leitura, 250 ms. No entanto, este valor varia segundo a tarefa que se realiza e tem também grandes variações inter e intra-individuais.



Este artigo pertence ao Curso de Métodos de Leitura

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