NOÇÕES BÁSICAS DA LITERATURA INFANTIL
Principais características de uma obra infantil
O livro infantil possui características estéticas que envolvem a literatura de uma forma geral e, ainda que seja peculiarmente definido pelo destinatário, a obra pode levar o leitor a uma abrangente compreensão de sua existência. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que em qualquer possibilidade de delimitar o conceito de literatura infantil existirá o parâmetro de identificação do leitor com o texto que manuseia.
No entanto, sabemos que embora o texto seja consumido pela criança, é o adulto que elabora a obra. Nisto, é necessário compreender que não basta falar sobre criança, mas ver o mundo através dos seus olhos, ajudando-a a ampliar seu olhar nas mais variadas direções. As linguagens simples, cotidianas, com frases curtas e com uso de recursos como a onomatopeia, divertem o leitor infantil e chamam sua atenção.
Neste ponto, frisa-se a importância de evitar palavras complexas para o universo infantil ou expressões que possam ter duplo sentido e causar interpretações indesejadas. Outra característica é a ausência de gírias ou as ditas “expressões do momento”. Mesmo que isso aproxime os leitores atuais, pode afastar os futuros, tornando a obra datada. Um cuidado primordial é a inserção de personagens com os quais as crianças se identifiquem.
Desde as obras literárias infantis mais clássicas, como Peter Pan e O Pequeno Príncipe, passando pelos livros de Monteiro Lobato, que mostram o cotidiano de Pedrinho, Narizinho e Emília, até outros mais recentes, como a série Harry Potter, todos eles têm algo em comum: as crianças são as protagonistas das histórias! Também é essencial um visual caprichado, especialmente a capa, que deve ser atrativa.
É possível dizer que estratégias de adaptação são necessárias para adequar a situação da história ao sujeito que vai vivenciá-la, ou seja, para colocar a criança em sintonia com o texto. De acordo com o psicólogo russo Liev Vygotsky, o diálogo facilita o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da atenção por meio da interação social. Vygotsky acentuou ainda que palavra e ação estão completamente fundidas para a criança.
Assim, ao arranjar a sequência de palavras, ela organiza o mundo para si e toma consciência do que sabe, pensa e sente. O pensamento da criança e as histórias a ela dirigidas também podem ser representados por meio da observação do desenho. Piaget aponta que, até aproximadamente sete anos de idade, a criança pensa e vê o mundo do mesmo modo que desenha.
Os educadores que ministram aulas para crianças até essa faixa etária podem ter familiaridade com essa afirmação. Na área da literatura, através da ilustração, também é possível compreender aspectos importantes do desenvolvimento infantil. Acima de tudo, a imaginação deve ser priorizada. A criança é naturalmente levada a desconfiar dos livros que lhe vêm tolher a liberdade, que é o melhor dos seus bens.
Tudo que, na infância, impede o movimento é feita contra a natureza e suportado a contra gosto. É mister, portanto, compensar essa inevitável supressão pela imaginação. Esta recompõe, com o repouso do corpo, o mais agitado dos mundos. A movimentação é outro requisito da obra infantil. A criança é incapaz de uma atenção demorada, isto é, irá interessar-se pelos livros onde em todo momento apareçam fatos novos e interessantes.
Não se trata do que pensaram as pessoas, ou do que sentiram, mas do que fizeram. Uma boa técnica de desenvolvimento é indispensável à obra. O autor terá mais sucesso se evitar descrições e digressões longas, ainda que muito pitorescas, que não tenham nada com o fio de ação da história. Em geral, elas interrompem a movimentação, e o resultado disso não será o desejado pelo autor. A narrativa precisa correr a galope, sem nenhum efeito literário.
A qualidade da forma é outra característica que não deve ser descuidada. O valor estético não pode ser relegado, sob o pretexto de que se escreve para crianças. Lembramos que o texto para crianças deve ser igual ao dos adultos, só que melhor. Por fim, uma obra infantil jamais deve subestimar a inteligência de uma criança. O autor deve enxergá-la como leitora inteligente e pensante, identificada com obras que desenvolvam o seu intelecto.
Técnica da jornada do herói
Joseph Campbell desenvolveu uma técnica chamada Jornada do Herói, algo aplicado em importantes obras literárias e, até mesmo, animações dos estúdios Disney. Trata-se de uma sequência de 12 etapas pelas quais um protagonista passa para chegar ao status de herói. Veja quais são:
apresentação do cotidiano do personagem principal;
chamado para uma aventura;
recusa à oportunidade de se aventurar fora do cotidiano;
travessia do primeiro limiar;
execução de testes e convivência com aliados e inimigos;
preparativos para provação central;
provação central, que geralmente é um confronto com o vilão;
encontro com a deusa, no caso dos arquétipos masculinos;
recompensa pela passagem da provação central;
caminho de volta para casa;
ressurreição no local de partida;
retorno com elixir, como o tesouro concreto ou abstrato trazido pelo herói.
Este artigo pertence ao Curso de Contação de Histórias
Faça o Curso completo grátis!!