O relacionamento interpessoal é um termo que se refere à relação, ligação ou vínculo entre duas ou mais pessoas em um determinado contexto. Um transporte escolar é um ambiente onde as pessoas se conectam, trocam ideias e participam da rotina uns dos outros.
Dessa forma, precisamos entender que o conceito de relações interpessoais é derivado dos estudos da sociologia e da psicologia, ao interpolar um conjunto de normas comportamentais que orientam as interações entre os membros de um mesmo ambiente de convívio.
Existem alguns estudiosos que consideram a capacidade de interagir com outras pessoas um tipo de inteligência, como visto no capítulo anterior. Entretanto, é possível anexar esses dois conceitos para possibilitar um melhor convívio em sociedade.
Isso acontece pois, o relacionamento interpessoal é marcado pelo contexto em que está inserido, podendo ser familiar, escolar, de trabalho, religioso ou de comunidade. De acordo com cada contexto, uma série de condutas podem ser mais ou menos apropriadas e vai depender justamente da sua capacidade de inteligência emocional de manejar as relações que você poderá tomar melhores decisões enquanto monitor.
Lembre-se que, a natureza do trabalho do monitor exige que esse profissional se relaciona com diferentes tipos de indivíduos, como por exemplo, professores, o próprio motorista, crianças e adolescentes de diferentes perfis comportamentais e necessidades, bem como os pais e responsáveis dos passageiros.
Quanto melhores e mais positivos forem os seus relacionamentos interpessoais, maiores são as possibilidades de construir uma melhor comunicação e confiança entre todas as pessoas de seu convívio. É da natureza do ser humano se relacionar e formar novas conexões, sendo comum a troca de conhecimentos e emoções uns com os outros.
Caso contrário, quanto piores forem seus relacionamentos interpessoais, mais difícil vai ser para criar laços e manter uma relação de confiança e respeito entre os pais e responsáveis das crianças, por exemplo, o que pode tornar a convivência um tanto complicada.
As crianças, mesmo as bem pequenas também tendem a criar conexões com os seus colegas, entretanto, eles normalmente possuem uma baixa inteligência emocional, o que exige muitas vezes a interferência de um adulto.
Conflitos e intervenções
Quando as crianças criam conexões, assim como os adultos podem existir alguns conflitos entre os indivíduos envolvidos. Entretanto, os menores têm a capacidade de solucionar os seus problemas, basta apenas que eles sejam direcionados a isso. Por isso, cabe ao adulto mediar as situações de conflito, tendo em vista a educação de seres autônomos e cooperativos entre si. Quando isso não acontece, podemos estar contribuindo para o crescimento de uma situação de estresse, bem como o início de um bullying e outros problemas mais complexos.
Logo, é importante lembrarmos que, a construção de valores demanda um longo processo, que envolve emoções, sentimentos e interações sociais e culturais, por isso, nem sempre uma criança estará disposta a resolver os seus problemas com o coleguinha.
Saber o que é certo ou errado e quais as atitudes e os comportamentos necessários para a vida em sociedade é difícil para adultos, e mais ainda para crianças. No início, os pequenos aceitam as regras em respeito a ideia de superioridade que eles enxergam nos mais velhos, assim como também podem identificar as reações negativas aos seus atos demonstradas pelos seus pares.
Entretanto, você não poderá mudar o mundo da noite para o dia, portanto, entenda que enquanto monitor, o seu papel é tentar induzir as crianças a se manter em uma relação de equilíbrio, ainda que não compartilhem das mesmas ideias e princípios. De acordo com os psicopedagogos, a autonomia para lidar com as diferenças e enfrentar os dilemas morais é construída ao longo da vida, mas pode ter bom começo na mais tenra idade.
Imagine, por exemplo, uma situação onde os colegas do transporte decidem fazer um lanche coletivo. Todas as crianças levaram um prato específico para compartilharem entre si. Uma das crianças diz: “Vou comer tudo”.
A outra, ao escutar essa fala, acha que isso não é certo e acaba reagindo fisicamente, com agressão. Quando você, enquanto monitor, conversa com essas duas crianças sobre o acontecido, a resposta natural do agressor será: “Ele ia comer tudo. E não pode!”
Apesar da reação exacerbada, a primeira criança não está errada quando considera o ato de comer tudo sozinho como injustiça. Ele considera ao pé da letra o que o amigo falou, imaginando que, de fato, o seu colega de transporte comeria sozinho todo aquele lanche, não deixando nada para os demais. Devido a sua frustração com o ocorrido, a sua primeira reação foi a violência.
Casos como esse são comuns e precisam ser mediados para que ambos os lados entendam o que podem ter feito de errado. De acordo com o especialista, Donald Woods Winnicott, a agressividade normalmente pode significar duas coisas distintas:
Primeiro, a agressão pode estar relacionada à frustração, como é o caso aqui relatado. Segundo refere-se à diversidade de situações nas quais a agressividade pode se manifestar.
O cientista comportamental ainda chama a atenção para os diferentes tipos de agressão para defini-los melhor, considerando as fases de uma criança em evolução. Portanto, a relação entre desenvolvimento, agressividade e experiência na infância deve ser considerada.
De uma forma ou de outra, você deve estar se perguntando qual seria a melhor forma de resolver esse tipo de conflito?
A primeira reação natural, já descrita anteriormente, está relacionada ao fato de que a criança sente-se perdedora e, por isso, reage fisicamente.
Já num outro contexto, a criança pode atacar diretamente aquilo que a incomoda, que é a fala do colega, dizendo: “Você não vai comer tudo”.
A depender do tipo de comportamento do outro indivíduo, seria possível que a criança que queria comer tudo explicasse a ideia centrada em seu pensamento. Ou, ainda numa terceira reação, ao descobrir que o outro havia pensado exatamente igual a ela, diria: “Vou sim!”.
Nesse último caso, o conflito existente seria verbal.
Os pequenos são capazes de solucionar as questões pela ação física ou em conversas. No entanto, o ato de conversar tem de ser aprendido, já que, em geral, as crianças entendem que o outro o pensa exatamente igual a elas e que não é necessário explicitar sentimentos, desejos e sugestões.
Dessa forma, cabe ao monitor sugerir uma alternativa à agressão física ou verbal até que todos se identifiquem com as estratégias de negociação. Para isso, apenas dizer : “Não pode bater. Tem de conversar.” acaba se tornando uma ação ineficiente. É necessário ensinar como fazer isso, para que eles possam associar essas novas possibilidades.
A apropriação acontece por meio dessas experiências, onde você será o maior exemplo. Vale ressaltar que, assim como dito anteriormente, a vivência é como um exercício e, portanto, leva certo tempo para que algo possa tornar-se parte da rotina dos pequenos.
No momento de solucionar esse tipo de conflito,você também deve entender a sua importância enquanto profissional. Achar que um monitor auxilia apenas no embarque e desembarque de passageiros é uma ideia limitada, e é justamente nessas situações que percebemos a importância do estudo e do conhecimento que, na verdade, é um princípio importante que permeia o universo dos conflitos.
Sem esse conhecimento, o monitor poderia apenas chamar a atenção daquele que agrediu, solicitando que ele pedisse desculpas, mas nenhum proveito seria extraído dessa situação, e os conflitos entre as crianças se tornaram cada vez mais frequentes.