Teoria da Comunicação
Seja escrevendo ou falando, o objetivo de utilizar um texto é ser capaz de estabelecer uma comunicação entre indivíduos.
A comunicação é um aprendizado constante, iniciado no útero através de vivências experimentadas por mãe e filho. À medida que nascemos e nos desenvolvemos, existe a necessidade de entender novos métodos de comunicação, que nos são ensinados à medida que desenvolvemos o nosso raciocínio lógico e nossa capacidade de percepção do ambiente.
A partir deste ponto, começamos um treinamento contínuo para que sejamos capazes de entender e sermos entendidos por outros indivíduos, estabelecendo assim, uma comunicação mais efetiva e coesa. Para isso, é necessário o estabelecimento de 6 fatores:
- O receptor da mensagem: assim como toda mensagem necessita de uma origem e esta também precisa de um destino. Esta é a pessoa ou grupo de pessoas a quem foi enviada a mensagem. Eles são chamados de receptores ou destinatários.
- A mensagem propriamente dita: Esta é referente às informações transmitidas.
- O canal de comunicação: É o meio utilizado para que a mensagem seja transmitida para o destinatário. Pode ser através da fala, da escrita ou dos sinais.
- O código utilizado: Refere-se aos artifícios utilizados na comunicação que possuem a capacidade de transmitir uma mensagem. No caso da escrita e da fala, o código utilizado é a língua. Mas este também pode existir em outros formatos, como desenhos e cores. O importante neste fator é que tanto o emissor quanto o receptor da mensagem estejam utilizando o mesmo código para o estabelecimento correto da comunicação.
- O contexto inserido: Refere-se à situação ou objeto a que a mensagem se refere.
- O emissor da mensagem: toda mensagem precisa de um ponto de origem, neste caso, o ponto de origem deriva da pessoa ou grupo de pessoas que produz a mensagem. Eles são os que chamamos de emissor, remetente ou destinatário da mensagem.
Quando um dos fatores citados se encontram em desavença entre o emissor e o receptor, existe o que chamamos de falha comunicativa. Confira este exemplo na crônica “Diálogo de todo dia” de Carlos Drummond de Andrade.
Carlos Drummond de Andrade
- Alô, quem fala?
- Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.
- Mas eu preciso saber com quem estou falando.
- E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.
- Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?
- Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.
- Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber quem está no aparelho.
- Ah, sim. No aparelho não está ninguém.
- Como não está, se você está me respondendo?
- Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.
- Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho?
- Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.
- Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando.
- Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.
- Se eu conhecesse, não estava perguntando.
- Você é muito perguntador. Pois se fui eu que telefonei.
- Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.
- Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.
- Estou respondendo.
- Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?
- Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido?
- Bolas!
- Bolas, digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?
Silêncio.
- Vamos, diga: com quem deseja falar?
- Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau.
Comunicação
Luís Fernando Veríssimo
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um… um… como é mesmo o nome?
- Posso ajudá-lo, cavalheiro?
- Pode. Eu quero um daqueles, daqueles…
- Pois não?
- Um… como é mesmo o nome?
- Sim?
- Pomba! Um… um… Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.
- Sim senhor.
- O senhor vai dar risada quando souber.
- Sim senhor.
- Olha, é pontuda, certo?
- O quê, cavalheiro?
- Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um… uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta; a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. E isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?
- Infelizmente, cavalheiro…
- Ora, você sabe do que eu estou falando.
- Estou me esforçando, mas…
- Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?
- Se o senhor diz, cavalheiro.
- Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.
- Sim senhor. Pontudo numa ponta.
- Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?
- Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?
- Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.
- Sinto muito.
- Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. 0 desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números — mais complicados, claro. 0 oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.
- Eu não estou pensando nada, cavalheiro.
- Chame o gerente.
- Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feita do quê?
- É de, sei lá. De metal.
- Muito bem. De metal. Ela se move?
- Bem… é mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.
- Tem mais de uma peça? Já vem montado?
- É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.
- Francamente…
- Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e dique, encaixa.
- Ah — tem dique. É elétrico.
- Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.
- Já sei!
- Ótimo!
- O senhor quer uma antena externa de televisão.
- Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo…
- Tentemos por outro lado. Para o que serve?
- Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.
- Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e…
- Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!
- Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!
- É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um… um… como é mesmo o nome?
Perceba que, neste exemplo, a falha de comunicação teve como ponto de origem o remetente, que não foi capaz de transmitir uma mensagem clara e coesa. Seguido de um problema com a própria mensagem, que não possuía informações suficientes para que o destinatário entendesse o conteúdo da mensagem.
Todos nós temos um papel a desempenhar, para que possamos estabelecer uma comunicação eficiente e nos relacionarmos como indivíduos que compõem uma sociedade. Uma das formas de melhorar a nossa comunicação, é através do entendimento do tipo de mensagem que devemos transmitir. Afinal, nenhum juiz fala através de poemas, da mesma forma que nenhum poeta fala através da linguagem técnica para seus ouvintes.
Logo, quando escrevemos uma redação técnica para um concurso ou vestibular, precisamos estar cientes do tipo de texto cobrado pelos avaliadores da prova. Dessa forma, o próximo capítulo será responsável por lhe conferir as principais informações acerca da dissertação.
Este artigo pertence ao Curso de Técnicas de Redação
Faça o Curso completo grátis!!