As competências do Enem
Para que seja possível avaliar ainda melhor a qualidade da sua redação, trouxemos as competências de avaliação das avaliações do Exame Nacional do Ensino Médio.
Mesmo que cada processo seletivo apresente as suas particularidades, é de comum saber que as competências do Enem são parâmetros universais que podem ser utilizados como referência na maioria dos processos seletivos do país.
De acordo com o Ministério da Educação, estas são as cinco competências cobradas pelo Exame Nacional do Ensino Médio:
1. Domínio da escrita formal da língua portuguesa
É avaliado se a redação do participante está adequada às regras de escrita formal da língua portuguesa, como ortografia, acentuação, uso de maiúsculas e de minúsculo, hifenização, separação silábica, concordância, pontuação, crase, regência, paralelismo e o emprego de pronomes. Ainda são analisadas a regência verbal e nominal, concordância verbal e nominal e crase.
São seis níveis de desempenho:
200 pontos: demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro. Desvios gramaticais ou de convenções da escrita serão aceitos somente como excepcionalidade e quando não caracterizarem incidência.
160 pontos: demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro, com poucos desvios gramaticais e de convenções da escrita.
120 pontos: demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções da escrita.
80 pontos: demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da língua portuguesa, com muitos desvios gramaticais, da escolha de registro e das convenções de escrita.
40 pontos: demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da língua portuguesa, de forma sistemática, com diversificados e frequentes desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita.
0 ponto: demonstra o desconhecimento da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
2. Compreender o tema e não fugir do que é proposto, atendendo o modelo dissertativo-argumentativo
De acordo com o próprio edital, a competência dois tem como pressuposto “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo”. Dessa forma, ela avalia as habilidades de leitura e escrita do redator. O tema constitui o núcleo das ideias sobre as quais a redação deve ser organizada e, como explicado anteriormente, ela é caracterizada por ser uma delimitação de um assunto mais abrangente.
Os seis níveis de desempenho para esta competência são:
200 pontos: desenvolve o temo por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo e apresenta excelente domínio do texto dissertativo-argumentativo.
160 pontos: desenvolve o tema por meio de argumentação consistente e apresenta bom domínio do texto dissertativo-argumentativo, com proposição, argumentação e conclusão.
120 pontos: desenvolve o tema por meio de argumentação previsível e apresenta domínio mediano do texto dissertativo-argumentativo, com proposição, argumentação e conclusão.
80 pontos: desenvolve o tema recorrendo à cópia de trechos dos textos motivadores ou apresenta domínio insuficiente do texto dissertativo-argumentativo, não atendendo a estrutura com proposição, argumentação e conclusão.
40 pontos: apresenta o assunto tangenciando o tema, ou demonstra domínio precário do texto dissertativo-argumentativo, com traços constantes de outros tipos textuais.
0 pontos: fuga ao tema/não atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa. Nestes casos, a redação recebe nota zero e é anulada.
3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
Nesta competência é exigido que o candidato elabore um texto que apresente, de forma clara, uma ideia a ser defendida (ou seja, a tese) e os argumentos que justifiquem o seu ponto de vista em relação à temática da proposta da redação. Dessa forma, trata-se da coerência dos argumentos utilizados no texto, bem como sua organização, que deve ser realizada através do planejamento textual prévio.
Logo, de acordo com os sites oficiais do INEP, os seis desempenhos desta competência são:
200 pontos: apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma consistente e organizada, configurando autoria, em defesa de um ponto de vista.
160 pontos: apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, com indícios de autoria, em defesa de um ponto de vista.
120 pontos: apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, limitados aos argumentos dos textos motivadores e pouco organizados, em defesa de um ponto de vista.
80 pontos: apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, mas desorganizados ou contraditórios e limitados aos argumentos dos textos motivadores, em defesa de um ponto de vista
40 pontos: apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem defesa de um ponto de vista.
0 ponto: apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados ao tema e sem defesa de um ponto de vista.
4. Conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
Nesta competência, são avaliados itens relacionados à estruturação lógica e formal entre as partes da redação. Quando construímos um texto, precisamos dispor um acervo de ideias entre os períodos e parágrafos. Aqui, a sua capacidade de realizar a articulação dos argumentos e ideias propostos são analisados de acordo com as seis pontuações de desempenho. Além disso, é importante salientar que cada ideia nova precisa estabelecer relação com as anteriores.
Os artifícios utilizados para essas conexões são as preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais, eles são responsáveis pela coesão do texto por estabelecerem uma inter-relação entre orações, frases e parágrafos.
Abaixo, seguem os seis níveis de desempenho:
200 pontos: articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.
160 pontos: articula as partes do texto, com poucas inadequações, e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos. 120 pontos: articula as partes do texto, de forma mediana, com inadequações, e apresenta repertório pouco diversificado de recursos coesivos.
80 pontos: articula as partes do texto, de forma insuficiente, com muitas inadequações e apresenta repertório limitado de recursos coesivos.
40 pontos: articula as partes do texto de forma precária.
0 ponto: não articula as informações.
5. Respeito aos direitos humanos
Nesta competência, o esperado é que o candidato consiga elaborar uma proposta de intervenção, respeitando os princípios pressupostos pelos direitos humanos. Aqui, o redator deve ser capaz de propor a solução da problemática proposta, relacionando-a com a discussão elaborada ao longo do texto. Além disso, este é o momento de praticar o exercício da cidadania através da proposta de intervenção.
Eis os seis níveis de desempenho:
200 pontos: elabora muito bem proposta de intervenção, detalhada, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto.
160 pontos: elabora bem proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 120 pontos: elabora de forma mediana, proposta de intervenção relacionada ao tema, e articulada com a discussão desenvolvida no texto.
80 pontos: elabora, de forma insuficiente, proposta de intervenção relacionada ao tema ou não articulada com a discussão desenvolvida no texto.
0 ponto: não apresenta proposta de intervenção ou apresenta proposta não relacionada ao tema ou ao assunto.
É de grande importância salientar que os dados relacionados aos desempenhos das competências foram retirados de sites oficiais do governo federal.
Para melhor compreensão do conteúdo apresentado neste capítulo, analise os pontos de desempenho através da redação de Thaís Fonseca Lopes de Oliveira, no ano de 2017, onde o tema de redação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio foi “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.
Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos deficientes auditivos brasileiros, os quais buscam ultrapassar as barreiras as quais os separam do direito à educação. Nesse contexto, não há dúvidas de que a formação educacional de surdos é um desafio no Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também ao preconceito da sociedade.
A Constituição cidadã de 1988 garante educação inclusiva de qualidade aos deficientes, todavia o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo se verifica que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a oferta não apenas da educação inclusiva, como também da preparação do número suficiente de professores especializados no cuidado com surdos não está presente em todo o território nacional, fazendo os direitos permanecerem no papel.
Outrossim, o preconceito da sociedade ainda é um grande impasse à permanência dos deficientes auditivos nas escolas. Tristemente, a existência da discriminação contra surdos é reflexo da valorização dos padrões criados pela consciência coletiva. No entanto, segundo o pensador e ativista francês Michel Foucault, é preciso mostrar às pessoas que elas são mais livres do que pensam para quebrar pensamentos errôneos construídos em outros momentos históricos. Assim, uma mudança nos valores da sociedade é fundamental para transpor as barreiras à formação educacional de surdos.
Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver esse problema. Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser desenvolvido nas escolas o qual promova palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos. - uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador - a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral - por conseguinte - conscientizem-se. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.
Dessa forma, é possível perceber como a candidata preencheu todos os requisitos pré-definidos pelas competências da prova através do uso vasto de conhecimento acerca do assunto, das normas cultas da língua portuguesa, da estrutura do texto, bem como dos órgãos responsáveis para colocar em vigor a sua proposta de intervenção.
Este artigo pertence ao Curso de Técnicas de Redação
Faça o Curso completo grátis!!