Agora que conhecemos os fatores fisiológicos comumente encontrados em idosos, vamos detalhar as doenças que mais acometem esta população. Fatores associados a genética, existência de doenças anteriores, estilo de vida e condições socioeconômicas podem determinar como o envelhecimento será evoluído para cada pessoa, como o surgimento de doenças na idade avançada, o que é conhecido por senilidade (envelhecimento associado a doenças), com impacto significativo nas limitações das atividades da vida diária (como tomar banho, se alimentar e vestir-se) e nas atividades instrumentais da vida diária (fazer compras, preparar a própria alimentação e tomar medicamentos corretamente). As condições que mais acometem esta população são descritas a seguir.
Obesidade
Como vimos, a composição corporal no envelhecimento sofre alterações, com aumento da gordura e redução da massa muscular. Assim, em alguns casos, idosos podem desenvolver obesidade, que aumenta o risco de doença cardíaca, diabetes, hipertensão, problemas respiratórios, incapacidade, devido ao declínio na função física, que consequentemente aumenta a fragilidade e reduz as atividades diárias.
Desnutrição
Embora muitos idosos apresentem um quadro de excesso de peso, diversos outros encontram-se em risco de desnutrição, em virtude das várias alterações que ocorrem com o envelhecimento e que afetam principalmente a saúde oral e o trato gastrointestinal, além do uso de medicamentos, depressão, situação socioeconômica e problemas físicos, que dificultam a alimentação. Entre os idosos que vivem em instituições de longa permanência, grande parte destes indivíduos encontram-se em desnutrição e até mesmo os que estão em cuidados domiciliares. A desnutrição pode contribuir para a fragilidade e sarcopenia, condições que serão discutidas nos tópicos seguintes.
Fragilidade
A fragilidade é uma condição presente em alguns idosos e é definida por um declínio das reservas corporais e das funções fisiológicas, resultando em um estado de vulnerabilidade a quedas, internações frequentes e dependência. É evidenciada através do preenchimento de três ou mais dos seguintes critérios:
1. Perda de peso involuntária (5 kg no último mês);
2. Relato de exaustão;
3. Fraqueza;
4. Baixo nível de atividade física;
5. Lentificação da marcha (velocidade de caminhada).
Caso o idoso preencha três destes critérios, define-se como idoso frágil, e, a presença de um ou dois parâmetros, é caracterizado por idoso pré-frágil.
Sarcopenia
A sarcopenia é uma das síndromes geriátricas mais significativas, sendo descrita por uma perda progressiva da força e da massa muscular, associada ou não a redução do desempenho físico. Assim, essa perda excessiva de massa e função muscular altera a quantidade e qualidade do músculo, resultando em maior risco de quedas, fraturas, dependência de terceiros, incapacidade e até mesmo aumento de mortalidade. Normalmente essa redução progressiva da massa muscular começa a partir dos 50 anos e se torna mais evidente a partir dos 70 anos de idade.
A perda de massa muscular inicialmente não é uniforme por todo o corpo, sendo primeiramente perdida em maior quantidade nos membros inferiores, quando em comparação aos membros superiores. Como ocorre um aumento da gordura corporal com o envelhecimento, há também aumento da quantidade de gordura entre as fibras musculares, um processo chamado de mioesteatose, que contribui com a diminuição da força muscular.
A sarcopenia pode ser definida em primária e secundária. A sarcopenia primária é aquela relacionada diretamente ao processo de envelhecimento. Já a secundária ocorre devido a presença de uma doença, a exemplo do câncer. A fragilidade e a sarcopenia podem coexistir no mesmo indivíduo.
Figura 3: Corte transversal (ao meio) de um braço com o avanço da idade, representando a evolução da sarcopenia e da mioesteatose.
Na primeira imagem observa-se um braço jovem, onde a parte exterior (cor bege) é a gordura subcutânea, a parte do meio (vermelha) é o músculo e o compartimento branco, o osso. Na segunda imagem inicia-se o processo de envelhecimento, com aumento da gordura subcutânea, redução da massa muscular e começo de infiltração de gordura entre o músculo. Por fim, na terceira imagem, há maior redução da massa muscular, com aumento da gordura e mioesteatose (infiltração de gordura no músculo).
Hipertensão arterial sistêmica
A hipertensão arterial é uma doença cuja prevalência aumenta com o avanço da idade. É caracterizada pelo aumento persistente da pressão arterial, o que pode sobrecarregar o coração e aumentar o risco de problemas cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral.
Embora a hipertensão possua diversas causas, uma das principais razões para que essa doença seja mais frequente na população idosa é que com o envelhecimento, há uma maior rigidez das nossas artérias, que perdem a elasticidade e flexibilidade, resultando em um aumento persistente da pressão.
Além disso, o excesso de peso também é um fator que contribui para o aumento da pressão arterial, visto que o coração necessita bombear sangue mais “forte” para que percorra todo o corpo. Ademais, em virtude das mudanças sensoriais do paladar, os idosos tendem a acrescentar mais sal nas refeições para que haja um realce do sabor dos alimentos, o que também favorece o surgimento da hipertensão.
Outras causas consistem em redução da atividade física, cuja prática ajuda a regular a pressão arterial, bem como a genética e história familiar. A pressão arterial deve ser aferida regularmente.
Figura 4: Aferição da pressão arterial.
Diabetes mellitus
O diabetes é uma doença que também pode ser encontrada na população idosa e que possui causa multifatorial. O diabetes mais comum em pessoas idosas é o diabetes mellitus tipo 2, caracterizado por uma resistência à insulina ou uma produção inadequada deste hormônio, que diminui a entrada da glicose na célula, levando a hiperglicemia (açúcar alto no sangue). Isso pode ocorrer por diversas razões, uma delas é o excesso de gordura corporal, que contribui com a resistência à insulina e consequente surgimento de diabetes.
De forma semelhante a maior adição de sal nas refeições devido as mudanças sensoriais do paladar, os idosos também tendem a adoçar mais os alimentos para realce do sabor, onde o consumo excessivo de açúcar estimula as células do pâncreas a secretarem mais insulina. Essa “inundação” sanguínea de insulina contribui com uma posterior resistência a este hormônio, e, com o tempo, a capacidade do pâncreas de manter esse equilíbrio da glicemia (níveis de açúcar no sangue) pode diminuir, o que leva ao desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2.
A predisposição genética também tem papel importante no desenvolvimento do diabetes tipo 2, bem como a coexistência de outras condições, como hipertensão arterial e dislipidemia (distúrbios do colesterol).
Figura 5: Verificação da glicemia utilizando um glicosímetro.
Doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares são um grupo de doenças que normalmente englobam doenças do coração e dos vasos sanguíneos, como infarto cardíaco e acidente vascular cerebral. O envelhecimento também está associado com este grupo de condições, em virtude do processo natural de aterosclerose (acúmulo de gordura na parede dos vasos sanguíneos) das artérias ao longo da vida. Como vimos nos tópicos anteriores, o envelhecimento favorece a rigidez arterial e menor elasticidade, e, associado ao acúmulo de placas de gordura e colesterol, podem obstruir as artérias e vasos sanguíneos, o que resulta em redução do fluxo sanguíneo para o coração, aumentando o risco de infarto agudo ou reduzindo o fluxo sanguíneo para o cérebro, com consequente acidente vascular cerebral.
Vários fatores também estão relacionados a este grupo de doenças, como a existência de obesidade, hipertensão e diabetes, bem como a genética, tabagismo, alcoolismo, inatividade física e hábitos alimentares pouco saudáveis.
Figura 6: Ilustração da aterosclerose.
Fonte: Ministério da Saúde, 2022.
Câncer
Apesar do câncer atingir uma variedade de faixas etárias, é também uma condição presente durante o envelhecimento, visto que pode ser influenciado por mudanças biológicas e exposições a fatores de risco acumuladas ao longo da vida, como radiação solar, produtos químicos, tabagismo e outros agentes, que causam danos ao DNA e podem levar a mutações genéticas, resultando em um crescimento celular desordenado e formação de tumores.
Mas também ocorre devido a diversas outras causas, como a genética, fatores ambientais e de estilo de vida, como inatividade física, alimentação desequilibrada, alcoolismo e tabagismo. Além disso, o sistema imunológico se torna menos eficiente em reconhecer e destruir células anormais (células cancerígenas).
Lesão por pressão
A lesão por pressão é um ferimento muito presente em idosos com comprometimento da mobilidade, que passam muito tempo acamados ou sentados, como idosos com problemas neurológicos, com demência ou sedados, incapazes de mudar a posição para aliviar a pressão do tecido com a superfície do objeto (cama, cadeira ou sofás). Essa lesão se desenvolve a partir da pressão contínua em determinado local, que impede o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigênio adequado para aquele tecido. A obesidade e a desnutrição podem contribuir com o surgimento e retardo da cicatrização dessas lesões, que possuem quatro estágios.
- Estágio 1: Pele íntegra, mas já avermelhada, que não embranquece.
Figura 7: Estágio 1 da lesão por pressão.
- Estágio 2: Início da perda de pele, com exposição da derme, uma camada mais avermelhada/rosa.
Figura 8: Estágio 2 da lesão por pressão.
- Estágio 3: Perda total da pele, com exposição de gordura e tecidos. Neste momento pode haver necrose visível ou não.
Figura 9: Estágio 3 da lesão por pressão.
- Estágio 4: Perda total da pele, com exposição palpável de músculos, tendões, ligamentos e até mesmo osso. Necrose pode estar visível.
Figura 10: Estágio 4 da lesão por pressão.
Demência
A demência é uma doença degenerativa, definida pela perda contínua das funções cognitivas, como memória, raciocínio e capacidade de realizar atividades da vida diária, em decorrência de danos no tecido cerebral, onde a mais conhecida é o Alzheimer. A própria idade e o histórico familiar são fatores de risco para o desenvolvimento da demência, mas fatores ambientais, estilo de vida, como sedentarismo e hábitos alimentares ruins, bem como a existência de doenças crônicas podem influenciar no seu surgimento.
Depressão
Em virtude da idade avançada e a associação com problemas de saúde e redução da capacidade funcional, as questões que cercam a qualidade de vida se tornam ainda mais evidentes nesta faixa etária. Alterações psicológicas que se manifestam como depressão podem aparecer nesta fase. As causas frequentes de depressão em idosos são a presença de doenças, incapacidade, luto por entes queridos, dor e estresse.
A depressão em idosos é uma condição que frequentemente não é diagnosticada, pois os sintomas podem ser confundidos com outras doenças, e, a depressão não tratada pode apresentar diversas consequências, com redução dos prazeres da vida, como a alimentação, perda de massa corporal e fadiga.