Apesar do padrão alimentar dos idosos brasileiros ser caracterizado prioritariamente por alimentos in natura (naturais) ou minimamente processados (feijão e arroz, carnes e leite), existe um consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes, além do consumo de ultraprocessados (bolachas, pães industrializados, doces e guloseimas). Também é comum que os idosos substituam refeições principais (como café da manhã, almoço e jantar) por lanches, a exemplo de pães, biscoitos e outros alimentos ultraprocessados.
Como vimos neste curso, o idoso sofre com alterações biológicas, psicológicas e sociais, dificuldades para alimentação e mobilidade, o que influencia no estado nutricional. Algumas das condições que interferem na alimentação do idoso são a perda cognitiva, perda da autonomia para comprar e preparar os alimentos, perda de apetite, redução da sede, redução da capacidade olfativa, do paladar e da visão, distúrbios da mastigação, ausência de unidades dentárias e próteses desajustadas.
Se o idoso apresentar condições precárias de saúde oral, como lesões, cáries e ausência de dentes, oriente-o a buscar um profissional, que é o dentista. A saúde oral precária pode comprometer as escolhas alimentares e o próprio convívio social. Enquanto a condição não é resolvida, pode ser necessário mudança na textura dos alimentos, como preparações mais macias, pastosas (sopas, cozidos, purês), ou até mesmo líquidas, caso seja preciso, a fim de tornar as refeições mais fáceis de serem ingeridas, mas atentando ao fato de que mesmo nestas condições, a oferta nutricional deve ser adequada para evitar prejuízos ao estado nutricional.
Além de todas estas condições, o idoso pode estar em vulnerabilidade social, sem rede de apoio e dependente funcional, sendo necessário estar atento(a) a estes fatores no momento da avaliação, para que seja possível realizar orientações mais próximas das necessidades daquele indivíduo, compreendendo qual seria o suporte para a realização da alimentação, como planejamento, compra e preparo. Caso o idoso não tenha rede de apoio e nem pessoas que possam auxiliá-lo no preparo de alimentos, tente conversar e orientar alguns familiares, e, em alguns casos, restaurantes que produzem e entregam comida caseira em domicílio, conforme demanda, podem ser uma opção.
É válido ressaltar que, se a pessoa atendida for uma mulher idosa ou esta seja acompanhante de um idoso, é importante reforçar que a mulher idosa não deve ser sobrecarregada com todas as tarefas relacionadas a alimentação. Portanto, devem compartilhar as preparações com seus familiares, companheiros e cuidadores.
Outro ponto é a renda do idoso, que tem influência significativa no consumo alimentar inadequado deste grupo, afetando diretamente suas escolhas alimentares e a qualidade da dieta. A limitação financeira pode restringir o acesso a alimentos in natura (naturais), resultando em uma dieta baseada em alimentos processados, ricos em gorduras saturadas, açúcares simples e sódio, por serem mais baratos, com maior durabilidade e mais pobres nutricionalmente, o que pode contribuir com deficiências nutricionais. Além disso, a insegurança alimentar também é uma questão importante neste caso, pois idosos com renda mais baixa podem não ter acesso contínuo a alimentos em quantidade suficiente e de qualidade adequada. Sendo assim, se esta condição for identificada, oriente o idoso a buscar auxílio da assistência social ou de outros pontos de apoio na região para fornecer suporte.
Contudo, os hábitos alimentares do idoso exercem uma dificuldade para a intervenção nutricional, visto que estes hábitos já se encontram ali durante anos, podendo haver também dificuldade para memorização das novas informações. Portanto, o idoso precisa entender a importância da mudança de hábitos para que os resultados sejam efetivos. A explicação acerca das mudanças deve ser feita através de estratégias, como por exemplo, o profissional deve sempre se dirigir ao idoso, as recomendações devem ser sempre conversadas, e, se for possível, utilizar fotos e objetos para ilustração. Além disso, as orientações devem ser escritas ou ilustradas para que sejam entregues, a fim de evitar esquecimentos. Não é recomendado fazer mudanças bruscas na alimentação, qualquer alteração deve ser realizada aos poucos, com esclarecimentos ao paciente e fazendo o idoso participar das mudanças propostas.
Entretanto, apesar dos hábitos alimentares ali presentes, os idosos apresentam um crescente interesse em receber informações nutricionais, com o objetivo de promover a saúde. Esse interesse oferece uma oportunidade para desenvolver hábitos alimentares saudáveis, fornecer recomendações e iniciar atividades de educação alimentar e nutricional eficazes. Dessa forma, é possível aumentar o conhecimento do idoso sobre a importância da nutrição adequada, além de incentivar mudanças positivas no padrão alimentar dos idosos.
Há outro ponto que pode dificultar a educação alimentar e nutricional dos idosos, que é a publicidade de alimentos, que pode ser muitas vezes enganosa ou pouco benéfica para a saúde, sendo divulgadas em televisões e internet. Muitos suplementos ou dietas específicas podem prometer benefícios rápidos e milagrosos, no entanto, essas promessas podem não ser apoiadas por evidências científicas totalmente verdadeiras. Deste modo, os idosos precisam estar atentos, pois o propósito da publicidade é aumentar a venda de produtos e não levar a informação correta. Portanto, esclareça sempre ao idoso que é necessário ser crítico, ler rótulos de alimentos, acessar apenas fontes oficiais e não blogs da internet e consultar a opinião de profissionais de saúde, a fim de fazer escolhas alimentares conscientes e evitar armadilhas de propagandas.
Caso o idoso apresente déficit cognitivo que o impeça de entender e memorizar as recomendações, é importante que o familiar ou cuidador esteja presente nas consultas para que compreenda todo o processo e estimule o idoso a se alimentar no momento das refeições, principalmente se a perda de apetite estiver presente. Para incentivar a alimentação, pode-se começar com estímulos olfativos e visuais do alimento, com pratos coloridos e bem temperados, para que induzam a salivação e melhora a digestão das refeições. É importante que o cuidador estimule no mínimo as três principais refeições do dia (café da manhã, almoço e jantar).
É importante que o idoso tenha a oportunidade de realizar as refeições de forma independente, mesmo que leve maior tempo para a finalização. Se isso não for possível devido às limitações físicas ou cognitivas (neurológicas), é necessário fornecer uma maior assistência. Em alguns idosos com demência, pode haver esquecimento sobre o ato de se alimentar, portanto, neste caso, é recomendado incentivar verbalmente e de forma clara a ingestão de alimentos para que ele mesmo tome a iniciativa. Os cuidadores e profissionais de saúde devem sempre valorizar e preservar as habilidades e atividades que o idoso ainda consegue realizar, mesmo que sejam tarefas simples, como se alimentar, se vestir e tomar banho sozinho.
Uma outra situação que pode ocorrer é a limitação funcional para segurar itens, principalmente quando em decorrência de acidente vascular cerebral ou em casos de demência. A independência do idoso deve sempre ser focada, sendo assim, colheres, copos e pratos devem ser adaptados para facilitar a alimentação, por exemplo, talheres podem ter cabos mais grossos para proporcionar uma pegada mais firme e segura. Caso a adaptação não seja viável ou considerada perigosa, os talheres podem ser eliminados. Colocar os pratos para as refeições sobre um pano antiderrapante ou utilizar toalhas úmidas podem evitar o deslizamento dos pratos durante uma refeição. Evite itens a mesa que possam confundir o idoso sobre consumi-los ou não, como guardanapos e outros itens de papel.
Além disso, para contribuir com uma alimentação segura e confortável para os idosos, é essencial remover cascas e ossos que possam dificultar o manuseio de alimentos durante as refeições. Evitar a mesma refeição todos os dias também é recomendado, deve-se variar as preparações diariamente, mas mantendo o consumo regular de frutas, verduras e legumes diariamente, em virtude dos seus benefícios significativos para a saúde.
Todas essas medidas visam garantir a segurança e manter a autonomia do idoso durante as suas refeições, favorecendo uma experiência alimentar confortável e segura. Deste modo, proporcionar uma alimentação digna e com variedade de sabores não melhora apenas a qualidade nutricional das refeições, mas também contribui para a promoção da saúde, bem-estar geral, autonomia e capacidade funcional do idoso.
Alimentos regionais
Considerando a renda dos idosos brasileiros e a dificuldade de acesso a frutas, verduras e legumes, que resultam em um baixo consumo alimentar destes grupos, estimular o conhecimento e ingestão dos alimentos regionais são uma alternativa viável para promover a melhora da alimentação destes idosos.
A aquisição de alimentos regionais oferece uma série de vantagens, pois promove apoio aos agricultores do território, a economia local e fortalece laços comunitários. Os alimentos regionais tendem a ser mais frescos, saborosos, de melhor qualidade e menor custo. Além disso, consumir alimentos produzidos no território do idoso reduz a distância que estes precisam percorrer do campo até a mesa, diminuindo a necessidade de transporte, o que contribui com a diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
Cada região possui ingredientes únicos e receitas tradicionais, que refletem sua história, cultura e identidade. Incluir estes alimentos na dieta não apenas diversifica as refeições dos idosos, mas também preserva e promove tradições gastronômicas locais, que podem ser passadas de geração em geração.
O Ministério da Saúde divulgou um material contendo os alimentos regionais de todas as regiões brasileiras, típicos do nosso território, com o objetivo de ampliar o conhecimento acerca desses alimentos e contribuir para a melhora da alimentação da população. Nos quadros a seguir são demonstrados os alimentos típicos de cada região e que podem fazer parte do dia a dia dos idosos, contribuindo para uma alimentação variada e com mais alimentos in natura e minimamente processados.
Figura 40: Alimentos Regionais Brasileiros.
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.
Quadro 8: Alimentos regionais do Norte do país.
Região Norte |
Frutas | Abricó, abiu, açaí, araçá, bacaba, bacuri, banana-pacovã, biribá, buriti, cajarana, camu-camu, castanha-do-brasil/castanha-do-pará, cubiu, cupuaçu, cupuí, cutite, guaraná, inajá, ingá, jambo, mangaba, murici, piquiá, pupunha, sapota-do-solimões, sorva, taperebá, tucumã, umari e uxi. |
Hortaliças | Bertalha, espinafre-d’água, jambu, maxixe-do-reino e quiabo de metro. |
Tubérculos, raízes e cereais |
Ariá, inhame roxo e jacatupé. |
Farinhas e preparações | Farinha de carimã, farinha de piracuí, farinha de uarini, maniçoba e tucupi. |
Ervas, condimentos e temperos |
Chicória-do-pará e pimenta do reino. |
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.
Quadro 9: Alimentos regionais do Nordeste do país.
Nordeste |
Frutas | Acerola, banana nanica, banana-da-terra, cacau, cajá, cajarana, caju, ciriguela, coco, dendê, fruta-pão, graviola, juá, mamão, maracujá, pitomba, sapoti, tamarindo e umbu. |
Hortaliças | Abóbora, agrião, jurubeba, major-gomes, maxixe, palma, quiabo e vinagreira. |
Leguminosas | Algaroba, feijão, feijão-de-corda, feijão-verde e guandu. |
Tubérculos, raízes e cereais |
Araruta, gergelim, inhame, junça, mandioca e sorgo. |
Farinhas e preparações | Farinha de tapioca. |
Ervas, condimentos e temperos |
Cebolinha e coentro. |
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.
Quadro 10: Alimentos regionais do Centro-Oeste do país.
Região Centro-Oeste |
Frutas | Abacaxi-do-cerrado, araticum, baru, cagaita, cajuí, coco-babão, coco-cabeçudo, coco-indaiá, coroa-de-frade, curriola, guabiroba, guapeva, jaracatiá, jatobá, jenipapo, lobeira, macaúba, mama-cadela, maracujá, marmelada-de-cachorro, pequi, pera-do-cerrado, pitanga e xixá. |
Hortaliças | Abóbora, almeirão-de-árvore, caruru, couve, croá, dente-de-leão, fisalis, gueroba e serralha. |
Tubérculos, raízes e cereais |
Mangarito, mandioca e milho-verde. |
Ervas, condimentos e temperos |
Açafrão-da-terra, cheiro-verde e cebola. |
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.
Quadro 11: Alimentos regionais do Sudeste do país
Região Sudeste |
Frutas | Abacate, brejaúva, caqui, carambola, goiaba, jabuticaba, jaca, jambolão, laranja, manga, pinha, sapucaia e sapoti. |
Hortaliças | Abobrinha, agrião, berinjela, beldroega, capiçoba, capuchinha, chuchu, couve, espinafre, jiló, mostarda-de-folha, ora-pro-nóbis, pimentão, quiabo, repolho, rúcula, taioba e vagem. |
Leguminosas | Feijão-branco, grão-de-bico e orelha-de-padre. |
Tubérculos, raízes e cereais |
Mandioca, mandioquinha-salsa, milho e taro. |
Ervas, condimentos e temperos |
Coentro e salsa. |
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.
Quadro 12: Alimentos regionais do Sul do país.
Região Sul |
Frutas | Amora, banana, feijoa, figo, maçã, morango, nectarina, pêssego, pinhão, tangerina/bergamota e uva. |
Hortaliças | Almeirão, azedinha, beterraba, broto-de-bambu, crem, gila, muricato, ora-pro-nóbis sem espinho, radite, repolho, tomate e tomate-de-árvore. |
Leguminosas | Lentilha |
Tubérculos, raízes e cereais |
Batata doce, batata e milho. |
Ervas, condimentos e temperos |
Canela, cominho e cravo. |
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.
Em resumo, adquirir alimentos regionais não é apenas uma escolha alimentar, mas uma decisão que impacta positivamente a saúde, a economia local, o meio ambiente e a cultura. Ao valorizar e apoiar produtos locais, os consumidores não só colhem os benefícios de alimentos frescos e sustentáveis, mas também contribuem para um sistema alimentar mais forte e inclusivo em suas comunidades.