ESTRUTURA DA LIBRAS
Estrutura linguística
A LIBRAS é dotada de uma gramática constituída a partir de elementos constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico (o conjunto das palavras da língua) que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam especificidade mas seguem também princípios básicos gerais.
Estes são usados na geração de estruturas lingüísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número infinito de construções a partir de um número finito de regras. É dotada também de componentes pragmáticos convencionais, codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos metafóricos, ironias e outros significados não literais.
Estes princípios regem também o uso adequado das estruturas linguísticas da LIBRAS, isto é, permitem aos seus usuários usar estruturas nos diferentes contextos que se lhes apresentam de forma a corresponder às diversas funções lingüísticas que emergem da interação do dia a dia e dos outros tipos de uso da língua.
1. O Léxico ou Vocabulário da LIBRAS
O léxico pode ser definido como o conjunto de palavras de uma língua. No caso da LIBRAS, as palavras ou itens lexicais são os sinais. Pensa-se frequentemente que as palavras ou sinais de uma língua de sinais é constituída a partir do alfabeto manual como por exemplo:
(1) a) C-E-R-T-O b) M-Y-R-N-A c) C-H-O-P-P
Entretanto, não é este o caso. A soletração manual das letras de uma palavra em português, como no exemplo (1), é a mera transposição para o espaço, através das mãos, dos grafemas da palavra da língua oral. Isto é, um meio de se fazerem empréstimos em LIBRAS.
Assim, como temos a palavra \u201cxerox\u201d em português que é um empréstimo do inglês, os exemplos em (1) ilustram os inúmeros empréstimos da LIBRAS. (1-b) é a soletração do nome de uma pessoa, isto é, de um nome próprio em português porque os nomes próprios, em LIBRAS, são diferentes.
Assim, quando uma pessoa quer apresentar alguém a alguèm, primeiro soletrará seu nome em português (M-Y-R-N-A) e, se ele tiver um nome em LIBRAS, este será articulado em seguida.
O exemplo (2) ilustra um usuário da LIBRAS apresentando uma pessoa chamada Myrna a seu interlocutor.
Exemplo (2):
A: 3 APRESENTAR 2. NOME M-Y-R-N-A. SINAL MYRNA. ( = Vou apresentá-la a você, o nome dela é M-Y-R-N-A. Seu sinal (nome próprio em LIBRAS) é Myrna). (1-c) é a soletração de uma palavra em português \u201cchopp\u201d palavra para cujo conceito não há sinal ou palavra em LIBRAS.
Neste caso, é a palavra escrita do português que será transposta para o espaço através da soletração manual. (1-a) é a soletração de uma palavra em português para cujo conceito há um sinal em LIBRAS o qual não é conhecido por um dos usuários, em geral um ouvinte.
Exemplo (3):
A: RESPOSTA CERTO ( = A resposta está certa)
B: O-QUE ISTO, CERTO (= O que quer dizer este sinal?)
A: C-E-R-T-O (= certo)
B: O-K ( Ah! Ok)
Ou então, uma pessoa pode soletrar C-E-R-T-O para mostrar a uma outra como se escreve esta palavra em português. Neste caso, a soletração manual é um meio de verificação, questionamento ou veiculação da ortografia de uma palavra em português. Entretanto, o sinal mesmo para o conceito \u201ccerto\u201d em LIBRAS é o que se segue ao lado da ilustração da soletração manual da palavra certo:
Agora sim temos uma palavra de LIBRAS. Podemos perceber que ela não é articulada de forma linear como o são as soletrações em (1). Esta palavra ou sinal tem uma estrutura distinta daquela das soletrações ou das palavras em português. As palavras, em português, são formadas pela justaposição linear de seus componentes ou unidades mínimas distintas.
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