ESTUDOS CULTUROLÓGICOS
Estudos culturais
Os Estudos Culturais são caracterizados especificamente por sua natureza interdisciplinar e por sua transitoriedade, aliás, uma qualidade já implícita no próprio nome desta disciplina – estudos -, que remete a algo em constante transformação. Como ela se destina a questionar interações que se baseiam no poder e na autoridade, é fundamental que ela mesma não se constitua de verdades absolutas e dogmáticas. Esta disciplina procura investigar a multiplicidade vigente no interior de cada cultura e nas relações interculturais, ricas e diversificadas. Suas pesquisas revelam também o quanto estes elos entre diferentes culturas estão permeados por vínculos de poder e hierarquização.
Estes estudos destacam igualmente a elaboração de significados culturais e sua disseminação nas sociedades contemporâneas. Relações de dominação e soberania marcam este processo de produção sócio-cultural, características estas amplamente questionadas por este campo de investigação, que assume claramente a defesa dos grupos que não têm acesso aos meios de produção da cultura. O que diferencia este ramo do conhecimento dos outros mais convencionais é sua opção decisiva pela luta política, o empenho em transformar o status quo. Ele não se importa em parecer parcial, pois esta é justamente sua intenção, a não objetividade. Assim, diferentemente das demais disciplinas, os Estudos Culturais buscam instrumentalizar o saber conquistado em prol de uma nítida intervenção na esfera político-social.
Revestida deste objetivo, a disciplina procura incessantemente converter a reflexão e a crítica em ferramentas indispensáveis na transcendência do universo acadêmico, burocrático e restritivo, e, assim, alcançar os grupos sociais excluídos do conhecimento aí produzido. Com este propósito, os Estudos Culturais articulam em seu interior diversas disciplinas, como a economia política, a comunicação, a sociologia, a teoria social, a teoria literária, a teoria dos meios de comunicação, o cinema, a antropologia cultural, a filosofia e a investigação das diferentes culturas que emergem dos mais diversos corpos sociais.
Os Estudos Culturais nascem a partir dos estudos realizados por Raymond Williams, crítico de literatura britânico, apontado como um dos criadores desta disciplina, e pelo historiador E. P. Thompson, os quais, ao lado de Richard Hoggart, primeiro diretor do Centro de Birmingham, tecem as primeiras reflexões que irão compor o arcabouço deste campo de pesquisas.
Em Cultura e Sociedade, Raymond revela que a esfera cultural – aqui vista como um ponto de vista antropológico - é decisiva tanto para a compreensão literária quanto para os estudos da sociedade. Tanto este pesquisador quanto Thompson partiram de vivências concretas para a construção desta teoria, pois as raízes dos Estudos Culturais têm origem nas aulas que ambos ministravam para trabalhadores no período da noite. A partir desta experiência, os dois começaram a refletir sobre a prática pedagógica, visando encontrar um meio de vencer os limites de uma educação dirigida, através da qual é comum que os segmentos sociais dominantes imponham seus valores e princípios às classes desprovidas dos meios de produção. Thompson, particularmente, lança a ideia de uma interação mais flexível entre mestres e alunos, pretendendo, assim, libertar-se do âmbito das relações estabelecidas nas salas de aula.
Como princípios maiores dos Estudos Culturais, temos:
A realidade é uma construção social
A identidade é uma construção social
Crenças são baseadas em percepções da realidade.
A sociedade é marcada pela luta pelo poder.
Códigos Culturais criam identidades para o produtor e receptor.
Real cotidiano: feito dos valores e das rotinas vivenciadas diretamente pelas pessoas.
Real midiático: dimensão relacionada a tudo que se produz de simbólico através dos meios massivos de comunicação.
Em suas diferenças, conflitos e contradições, mas também em suas intersecções e identidades, essas realidades constituem o que podemos chamar de real social.
Identidade: O papel dos meios de comunicação na constituição de identidades de gênero, de classe, geracionais e culturais.
Relações de cultura e poder, particularmente, as desigualdades de poder relacionado à raça, classe, gênero, colonialismo.
Papel dos símbolos (linguagem, imagens visuais) na criação de significado, particularmente, em relação a questões de poder.
Representação como formas de comunicação (língua falada e escrita, música, TV, mídia impressa, etc.) apresenta, representa, forma e distorce o significado cultural.
Como a propriedade da produção cultural afeta os produtos e interpretações.
Atualmente os Estudos Culturais, paradoxalmente, se transformaram em disciplinas acadêmicas, e embora, na teoria, continuem almejando a tão sonhada intervenção sócio-política, a desejada libertação dos limites que restringem a disseminação do conhecimento, parecem encontrar as mesmas dificuldades que os outros campos de conhecimento, ou seja, como romper as barreiras burocráticas da Universidade. Alcançado o novo status, esta disciplina dá mostras, agora, de se distanciar das suas propostas originais.
Este artigo pertence ao Curso de Teorias da Comunicação
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