LIBRAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA APLICADA
Nos últimos anos, os estudos surdos e os estudos culturais têm mostrado a importância da cultura surda para a constituição dos sujeitos surdos e para a possibilidade de seu desenvolvimento em todos os sentidos. Em meio às lutas da comunidade surda, são importantes as discussões sobre a educação dos surdos, sobre a língua utilizada pelos professores ouvintes e surdos nessa educação e sobre como isso pode ser positivo ou negativo na inserção dos surdos na sociedade.
Atualmente no Brasil a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é considerada a primeira língua dos surdos, que nela adquirem melhor a linguagem, com estrutura gramatical. Após aquisição de linguagem, os surdos têm melhor desempenho para aprender outras coisas como escrever português, leitura, etc. A língua portuguesa é a segunda língua dos surdos, não é a primeira como a educação clínica costuma afirmar, ao dizer que os surdos necessitam urgentemente aprender português para se integrarem à sociedade ouvinte.
Ser surdo, ter uma identidade surda, é ser um sujeito humano que usa Língua de Sinais, usa Percepção Visual, participa da Cultura Surda e da Comunidade Surda. Ter identidade significa ter orgulho de ser surdo, assumir ser surdo sem pensar que é deficiente ou incapaz, ser surdo “natural”. A cultura surda foram os próprios surdos que construíram; exemplos: ter escola só para surdos, usar sinalizador luminoso, usar legendas na televisão, filmes e novelas, celular com “torpedos”, messenger (MSN), etc.. A comunidade surda é um grupo onde surdos se encontram para bate-mãos. Porém, existe o povo surdo, que reúne vários surdos diferentes que se encontram num grupo no local em viagens para festas nas associações de surdos nos outros lugares, como estado ou país.
Atualmente já existe no Brasil a lei de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, nº 10.436 de 24 de abril de 2002, que a reconhece como instrumento legal de comunicação e expressão de surdos brasileiros. Antigamente, o trabalho de profissional de Educação Física com surdos era dificultado pela falta de comunicação e os alunos surdos se limitavam a copiar o professor sem entender por que e para que estavam fazendo aquele exercício físico. Dominando uma Língua de Sinais específica para a Educação Física, o profissional vai facilitar a interação surdo-ouvinte através da Língua de Sinais e, assim, obter a verdadeira interação ensino-aprendizagem com seus alunos surdos.
Entretanto, os alunos ouvintes, na formação universitária, aprendem a educação de surdos apenas do ponto de vista da educação clínica. Se forem trabalhar na escola de surdos, esses alunos estariam preparados para dar aula? Ou, na “inclusão”, se tem um aluno surdo, os professores já sabem como fazer? Penso que faltar atualizar o currículo de acordo com as novas pesquisas de Estudos Surdos. É comum que os professores quando trabalham com surdos, descubram que é diferente do que aprenderam nas universidades.
Com os avanços teóricos na Educação, e também na Educação Física, novas abordagens vêm surgindo. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) vêm contribuindo para levar a Educação Física a um lugar de destaque na "formação de cidadãos críticos, participativos e com responsabilidades sociais", segundo Oliveira (2002). É com base nesta nova posição ocupada pela Educação Física na formação de cidadãos que se faz necessário investigar o "novo" papel deste "novo" professor de Educação Física nos processos de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais.
Sendo a escola uma das maiores, senão a maior, instituição formadora da nossa sociedade, é preciso investigar os caminhos que os professores traçam para a integração e inclusão dos alunos com necessidades especiais, para que possamos entender e aperfeiçoar este processo que parece ter mudado em muito a rotina das escolas regulares de todo o pais.
O professor de Educação Física durante todo o período acadêmico recebe capacitação para um trabalho de forma inclusiva procurando ser, junto com o estudante, construtor do conhecimento, dinamizador do crescimento intelecto e pessoal, respeitando a limitação de cada pessoa não apenas as atividades físicas como a qualquer outro processo. Compete ao profissional que conclui sua graduação em Educação Física licenciatura, realizar com êxito a inclusão prevista nos dispositivos legais que garantem a todos a inclusão e o respeito àqueles dos grupos de risco dentre estes os surdos, como preconiza o Art. 14 do Decreto Nº 5626.
O que indica que o professor pode atender estudantes com limitação auditiva, já que dentro da graduação obteve uma capacitação, além de dispor de cursos de capacitação em Libras. Todavia surge a questão relutante se na prática ocorre realmente todo esse acesso a Libras? Normalmente se tem a ideia que ‘o surdo copia’ o que ver pelo fato da falta de audição, ele repete o que é visto, isso significa que quando um professor de Educação Física propuser um exercício, ele vai executar de forma a repetir aquele exercício. Mas esse não seria o correto a ser realizado em uma aula, afinal a interação do aluno com o professor deve existir para se obter uma forma real de ensino, além que nesse caso a repetição de movimentos acaba por promover no aluno surdo um significado de diferença, o que não é o que os profissionais querem, nem o que os surdos precisam.
A intenção das atividades é incluir todos em uma prática de esportes, lazer, danças, entre outros, sem distinção e com a capacidade de comunicação com todos os públicos. Quando falamos de inclusão de atividades físicas, não queremos nos referir a uma inclusão de modo que crie uma diferenciação entre o público, não sendo também omisso que cada um tem suas especificidades e suas limitações, mas o que deve sobressair é o propósito de diminuir as desigualdades entre os públicos, de uma maneira que a inclusão não seja pelo fato de ter ou não uma audição favorável, mas sim, de levar a atividade física para todos os públicos, pois fazer essa diferenciação já seria uma forma de exclusão.
O que o professor de Educação Física deve levar para a sociedade é a contribuição para uma educação para além do corpo, fazendo com que os alunos desenvolvam um caráter de criticidade sobre as diversas áreas. Esse é um dos propósitos do ensino de Educação Física, desmistificando, inclusive a ideia de outrora que reforça e que simboliza essa disciplina única e exclusivamente como aquela que tem como foco principal ver e desenvolver o corpo, sem qualquer criticidade e reflexão do mundo em que está inserido.
Este artigo pertence ao Curso de Educação Física Adaptada
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