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Patologia Forense

A patologia forense tem um grande papel resolutivo nas necropsias, já que nela utilizam-se técnicas especializadas para determinar a causa da morte e fornecer informações vitais em contextos legais e de saúde pública. O objetivo central da patologia forense durante uma necropsia é estabelecer a causa e a maneira da morte, identificar qualquer doença ou trauma que possa ter contribuído para o óbito, e coletar evidências que possam ser utilizadas em investigações criminais.

Durante a necropsia, os patologistas realizam tanto exames externos quanto internos e é neste último que podem se revelar patologias em nível celular não aparentes no exame macroscópico.

As técnicas utilizadas na patologia forense incluem análise macroscópica para observações diretas e análise microscópica para examinar células e tecidos detalhadamente. Testes toxicológicos também podem ser realizados para detectar a presença de substâncias químicas ou venenos. Em casos mais complexos, técnicas de biologia molecular podem ser aplicadas para identificar marcadores genéticos ou causas de doenças genéticas.

No entanto, a realização de necropsias e a interpretação de seus resultados apresentam desafios significativos. A decomposição do corpo pode obscurecer as causas da morte ou alterar os níveis de substâncias químicas, complicando as análises. Além disso, a presença de múltiplas patologias ou lesões pode tornar difícil determinar a exata contribuição de cada uma para a morte. Aspectos legais e éticos também são primordiais, pois é necessário manter a integridade das evidências e tratar todos os envolvidos com o devido respeito e dignidade.

Análise Macroscópica de Tecidos

Na patologia forense, a análise macroscópica dos tecidos envolve a inspeção visual direta de tecidos e órgãos obtidos durante a autópsia. Este exame se concentra em identificar:

  • Anormalidades Visíveis: Como hemorragias, áreas de necrose (morte tecidual), tumores, e outras lesões ou malformações.
  • Condição dos Órgãos: Avaliando a cor, tamanho, forma, consistência e qualquer desvio dos padrões normais que possam sugerir patologias ou trauma.
  • Presença de Corpos Estranhos: Como fragmentos de balas ou outros objetos que poderiam ter sido a causa do trauma ou da morte.

Análise Microscópica de Tecidos

A análise microscópica se aprofunda no estudo das características celulares e moleculares dos tecidos, oferecendo uma compreensão mais detalhada das alterações patológicas. Inclui técnicas como:

  • Histopatologia 

Preparação de lâminas histológicas de tecidos fixados e corados para observar a arquitetura tecidual e as alterações celulares. Isso é essencial para detectar sinais de doenças como câncer, inflamações, infecções e outros processos patológicos ao nível celular.

  • Citopatologia 

Foco em células soltas ou fragmentos de tecidos para identificar mudanças malignas, inflamatórias ou infecciosas.

  • Imunohistoquímica e Histoquímica 

Estas são usadas para identificar substâncias específicas dentro das células e tecidos, como proteínas específicas que podem indicar a presença de certos tipos de câncer ou agentes patogênicos.

Importância da Integração das Análises

Na patologia forense, tanto a análise macroscópica quanto a microscópica são cruciais e frequentemente utilizadas em conjunto para fornecer uma imagem completa da causa da morte. A análise macroscópica pode sugerir hipóteses sobre a causa da morte ou a natureza de uma doença, que são então confirmadas ou exploradas mais profundamente através da análise microscópica. Por exemplo, uma lesão que parece benigna à inspeção visual pode revelar características malignas ao ser examinada ao microscópio.

Assim, enquanto a análise macroscópica oferece uma visão geral e imediata dos tecidos e órgãos, a análise microscópica permite um exame detalhado em nível celular, que é vital para o diagnóstico definitivo em patologia forense. Ambas são complementares e indispensáveis ​​na prática forense moderna para uma avaliação precisa e fundamentada na ciência.

Determinação da causa da morte

Determinar a causa da morte na patologia forense é um processo complexo que envolve várias etapas cuidadosamente executadas. Confira o que fazer, segundo informações técnicas da Coordenadoria Geral de Perícias (CGP). Os passos 2 e 3 trazem em detalhes as possibilidades de causas de morte, bem como seus métodos de identificação. Tome nota ou sinalize as principais informações e revisite o conteúdo posteriormente para garantir o entendimento das especificidades.

Passo 1: Coleta de informações preliminares

Essa é a hora de reunir todos os dados relevantes sobre a morte, incluindo histórico médico, relatórios da polícia e testemunhos e, se disponíveis, as informações fornecidas pela perícia do local.

Passo 2: Exame externo

Inspecionar a presença de roupas, avaliar e registrar essas, além de acessórios, objetos pessoais e outros vestígios encontrados com o corpo. Em seguida, remover as vestimentas e realizar uma avaliação visual detalhada do corpo para identificar qualquer sinal de trauma ou doença visível. 

Fonte: Eyem/Reprodução: Getty Images

Nesta etapa, é importante tomar anotações tanto para análise quanto para registro do laudo. Entre elas:

a) Fase de desenvolvimento (recém-nascido, infante, criança, adolescente, adulto);
b) Sexo;
c) Cor da pele;
d) Idade estimada;
e) Tipo físico;
f) Altura;
g) Composição corporal;
h) Condição nutricional;
i) Detalhes do crânio e face;
j) Tipo de cabelo;
k) Cor da íris;
l) Características anatômicas de áreas como pescoço, tórax, abdômen e região gênito-perineal;
m) Membros superiores e inferiores;
n) Marcas distintivas, em geral (cicatrizes, tatuagens, deformações, etc.).

Ademais, também é importante registrar qualquer vestígio encontrado na superfície do corpo, como:

a) Resíduos de pólvora;
b) Manchas de sangue;
c) Saliva, esperma;
d) Pelos;
e) Material vegetal, grãos, cereais;
f) Terra, argila, cimento, etc.

Também é importante tecer uma descrição das características de lesões externas, quando existentes, tais como:

a) sua natureza (contusão, fratura, ferimento, escara, amputação, deformação);
b) sua forma (arredondada, ovalada, triangular, estrelada, em faixa, irregular, etc.);
c) sua coloração (violácea, avermelhada, rósea, azulada, esverdeada, esbranquiçada);
d) sua dimensão (comprimento, largura, eixo, diâmetro, etc.);
e) sua direção (corresponde ao maior eixo da lesão);
f) sua profundidade (lesões subjacentes);
g) sua localização anatômica (face, lado, terço, proximal, medial, distal), podendo utilizar-se distância de pontos de referência.

Lembre-se de atentar-se para o exame do couro cabeludo, unhas e orifícios naturais da cabeça (cavidade oral, nasal, pálpebras, conduto auditivo).

Deve ser feito um detalhamento específico de acordo com as possibilidades de causa de morte, conforme exemplos abaixo:

  • Elaborar croqui anatômico das lesões resultantes de arma branca e arma de fogo.
  • Fotografar as lesões, em número suficiente para demonstrar, detalhadamente, suas características.
Passo 3: Autópsia ou exame interno

Inspeção sistemática dos órgãos internos, incluindo cérebro, coração, pulmões e outros órgãos vitais, para detectar anormalidades. Estabelecer a certeza da morte observando sinais tanatológicos:

a) Midríase fixa;
b) Falta de respiração;
c) Ausência de circulação sanguínea;
d) Hipotermia;
e) Manchas de hipóstase;
f) Rigidez mortis;
g) Indícios de decomposição.

Para tal, realize o exame interno do cadáver abrindo as cavidades craniana, torácica, abdominal e raquidiana, utilizando as seguintes técnicas de incisão:

a) Incisão vertical bimastóidea e rebatimento das partes moles do crânio (Esta incisão é feita na cabeça. A "incisão vertical bimastóidea" começa atrás de cada orelha (mastóide) e pode se encontrar no topo da cabeça ou continuar até o topo do crânio. Após fazer esta incisão, as partes moles do crânio, como a pele e o tecido subcutâneo, são cuidadosamente rebatidas (dobradas para trás), expondo o crânio subjacente. Este procedimento é utilizado para acessar o crânio para a abertura e subsequente exame do cérebro);

b) Abertura da cavidade craniana utilizando o método de Griesinger (remoção do calvário (parte superior do crânio) para expor o cérebro. A técnica de Griesinger é uma forma padronizada de cortar através do osso craniano, geralmente com uma serra, após o rebatimento das partes moles, permitindo que o patologista remova a calota craniana e examine o cérebro).

c) Incisão biacrômio-esterno-pubiana para acessar o tórax e o abdômen (esta é uma incisão em forma de Y que começa nos dois ombros - acrômio de cada lado - e desce em direção ao esterno (osso do peito), continuando até o púbis. Esta incisão é usada para abrir tanto a cavidade torácica quanto a abdominal, proporcionando acesso aos órgãos nestas áreas, como coração, pulmões, fígado, estômago e intestinos);

d) Incisão mento-pubiana para examinar o pescoço, tórax e abdômen (essa incisão vai do queixo até a púbis);

e) Incisão mediana longitudinal na parte posterior do pescoço e dorso para explorar a coluna vertebral.

É aconselhável abrir todas as cavidades naturais do corpo, exceto em situações onde a condição do corpo não o permita ou quando os achados preliminares já fornecem conclusões suficientes sobre a causa da morte, eliminando a necessidade de explorar outras cavidades.

Descreva quaisquer lesões internas observadas durante o exame, categorizando-as como:

a) Estruturais;
b) Musculares;
c) Ósseas;
d) Vasculares;
e) Viscerais;
f) Neurais.

O que fazer em caso da existência de projéteis no corpo

Em casos de vítimas de violência por arma de fogo, é aconselhável a realização de exames radiológicos em pelo menos duas incidências para auxiliar na investigação pericial. A omissão deste exame deve ser justificada e documentada pelo médico legista responsável pelo relatório.

A descrição dos orifícios de entrada dos projéteis deve ser meticulosamente detalhada, incluindo:

a) Identificação da região anatômica afetada;
b) Associação dessa região com estruturas anatômicas próximas ou medidas de pontos de referência;
c) Uma descrição precisa das características dos orifícios, considerando aspectos primários e secundários:

  • Forma (arredondada, ovalada, estrelada, triangular, etc.);
  • Tamanho (diâmetro, maior eixo);
  • Bordas (regulares, irregulares, invertidas, evertidas);
  • Características adicionais ao redor do orifício, como contusão, esfumaçamento, chamuscamento e tatuagem.
Além disso, é crucial avaliar e documentar no laudo pericial a distância aproximada do disparo em relação ao corpo da vítima, classificando se foi realizado a distância, à queima-roupa ou com a arma encostada ao corpo, bem como o trajeto percorrido pelo projétil dentro do corpo.

É importante considerar que resíduos secundários podem estar presentes nas vestimentas da vítima e não imediatamente no corpo, o que pode levar a uma interpretação equivocada sobre a proximidade do disparo. Por isso, roupas que contenham esses resíduos secundários devem ser enviadas para análises laboratoriais adicionais.

Ao descrever projéteis de arma de fogo em laudos e ao elaborar croquis, deve-se adotar siglas padronizadas para referência:

a) "PAF" para indicar projétil de arma de fogo de maneira geral;
b) "PAF1" para elementos relacionados ao primeiro projétil analisado e descrito no corpo, "PAF2" para o segundo, e assim por diante.

Para a referência aos orifícios causados pelos projéteis e suas localizações no corpo, utilizar as seguintes siglas:

a) "A" para orifício de entrada do projétil;
b) "B" para orifício de saída do projétil;
c) "C" para o ponto onde o projétil foi encontrado dentro do corpo.

Por exemplo, "1A" identifica o orifício de entrada do primeiro projétil, "2B" o orifício de saída do segundo projétil, e assim sucessivamente.

Ao descrever o movimento do projétil dentro do corpo, deve-se usar o termo "trajeto" ao invés de "trajetória", que se refere ao movimento do projétil fora do corpo da vítima.

O laudo deve incluir um croqui das lesões descritas como anexo e, quando possível, ser complementado com fotografias das lesões. Deve-se também identificar qual projétil foi letal e relatar no laudo. Todos os projéteis recuperados devem ser enviados para análise de microcomparação balística para investigações adicionais.

O que fazer em caso de lesões por arma branca

Em casos de vítimas de violência por arma branca:

a) Descrever, para as feridas causadas por instrumentos perfurocortantes, o número de feridas e a posição do gume, além de caudas de escoriação.
b) Estabelecer a direção da ação do instrumento.

O laudo deve incluir obrigatoriamente um croqui detalhando as lesões e, sempre que possível, deve ser acompanhado de fotografias das feridas.

O que fazer em caso de lesões por asfixia

Nos exames em que se suspeita de asfixia mecânica por constrição do pescoço, observar sinais indiretos de asfixia, que incluem:

a) Protrusão da língua;
b) Petéquias nas escleras;
c) Cianose facial ou nas extremidades;
d) Sangue escuro e fluido;
e) Congestão visceral;
f) Petéquias puntiformes subpleurais e subepicárdicas (manchas de Tardieu, que são manchas avermelhadas - hemorrágicas - que decorrem da alta pressão arterial provocada pelo aumento da concentração de gás carbônico no sangue).

O que fazer em casos de asfixia?

Lembra-se dos conceitos de esganadura, estrangulamento e enforcamento? Todos eles são tipos de asfixia. Ainda é possível que haja asfixia por falta de oxigênio no ambiente (em um local fechado, por agente externo - como um saco plástico para sufocamento - ou mesmo por um gás não oxigênio). Para entender a causa, há detalhes importantes para diferenciar a asfixia. Por exemplo, em análises de asfixia mecânica por constrição do pescoço, é indispensável examinar as características do sulco cervical:

a) Determinar se é oblíquo ou horizontal;
b) Identificar se é único ou múltiplo;
c) Avaliar se é profundo ou superficial;
d) Verificar se é contínuo ou interrompido, e a localização de qualquer interrupção do nó;
e) Examinar as características do fundo e das margens do sulco, incluindo estigmas ungueais. 


Imagem: vítima com marca de estrangulamento. Fonte: Malthus.com.br



Imagem: vítima com marcas de esganadura. Fonte: Malthus.com.br

Estas informações detalhadas no laudo ajudam a documentar meticulosamente o tipo e a extensão das lesões, fornecendo evidências cruciais para a investigação forense.

Durante os exames em casos suspeitos de asfixia mecânica por constrição do pescoço, é crucial observar no exame interno:

a) A presença de lesões em músculos, vasos sanguíneos cervicais e verificar se há fraturas no osso hioide;
b) Relatar outras lesões internas encontradas.

Nos exames de suspeita de asfixia mecânica por afogamento, deve-se observar sinais indiretos como:

a) Espuma na boca, conhecida como cogumelo de espuma;
b) Petéquias nas escleras;
c) Congestão dos órgãos internos;
d) Pele anserina;
e) Terra ou areia sob as unhas;
f) Lesões atribuídas à interação com fauna aquática;
g) Vegetais aderidos ao corpo;
h) Sangue fluido e avermelhado, diluído;
i) Petéquias subpleurais e subepicárdicas (manchas de Tardieu);
j) Manchas de Paultauf, maiores do que as de Tardieu, devido à entrada abrupta de líquido que rompe o tecido pulmonar.

Adicionalmente, no exame interno, verificar:

a) A presença de corpos estranhos nas vias aéreas;
b) Conteúdo gástrico;
c) Outras lesões internas identificadas.

Em situações de suspeita de afogamento, quando possível, deve-se solicitar a análise de plâncton e mencionar os resultados no laudo.

Nos exames de suspeita de asfixia mecânica por oclusão das vias aéreas, como na sufocação, atentar para:

  • A presença de marcas de arranhões periorais ou faciais;
  • Vestígios do material utilizado para oclusão, como fibras de tecido ou pedaços de fita adesiva;
  • Em crianças, verificar a presença de corpos estranhos nas vias aéreas.
Para suspeitas de asfixia por inalação de monóxido de carbono, observar:

  • A coloração rósea carmim nos livores e órgãos internos, devido à carboxihemoglobina;
  • A confirmação diagnóstica é feita através da alta dosagem de CO no sangue colhido do coração.
Em casos de morte por asfixia, o agente causador é físico-químico.

O que fazer em caso de morte por queimadura

Evitar o uso da palavra "fogo" para descrever queimaduras de segundo grau, pois nem sempre é possível confirmar esta causa por meio do exame físico ou registros hospitalares. Prefira descrever como causadas por "agente térmico", que pode incluir a ação de chamas, gases superaquecidos, líquidos escaldantes, sólidos quentes e raios solares.

Em vítimas carbonizadas:

  • Considerar a realização de exame radiológico prévio à necropsia, quando possível;
  • Diferenciar fraturas ósseas traumáticas causadas pela ação térmica.
  • A causa da morte por queimadura é tipicamente física, relacionada ao calor.
Na avaliação de mortes causadas por eletricidade, é importante observar indícios de asfixia, como sangue escuro e fluido, congestão dos órgãos internos, e manchas de Tardieu. No exame externo, deve-se procurar por lesões típicas de eletricidade, especialmente as marcas de entrada e saída da corrente elétrica. A eletricidade é o agente físico responsável nesses casos.

O que fazer em casos de morte por intoxicação exógena

Nos exames de casos suspeitos de morte por intoxicação exógena, deve-se estar atento a sinais como solução de continuidade da pele, marcas de picadas de agulha ou mordidas de animais peçonhentos, além de avaliar o contexto do incidente e o local do evento. As lesões devem ser descritas detalhadamente, observando-se odores peculiares, cianose das extremidades, alterações na coloração da pele e quaisquer substâncias suspeitas na cavidade oral ou nasal. 

É essencial descrever quaisquer lesões na cavidade oral, esôfago ou estômago. A coleta de amostras para exame toxicológico é imprescindível, incluindo conteúdo gástrico, sangue e urina, para confirmar a presença e quantificar o agente tóxico, determinando a causa da morte. A intoxicação exógena é causada por agentes químicos.

Morte de fetos ou lactentes

  • Nas necropsias de fetos ou lactentes, iniciar a descrição com: "cadáver de um feto (neonato ou criança lactente) do sexo (...)".
  • Registrar as aferições realizadas (peso corporal, perímetro cefálico, comprimento caudal, podálico e plantar), bem como a permeabilidade dos orifícios naturais, anexos, presença ou ausência de má-formação congênita, induto caseoso, mecônio, maceração, diferenciar sinais de emprego de fórceps de lesão corporal dolosa.
  • Verificar também a membrana pupilar (desaparece até o 8° mês de desenvolvimento intra-uterino) e fazer a descrição da placenta, com ênfase a possíveis anomalias ou lesões traumáticas (pesar e medir cordão umbilical, verificar o coto, tipo de ligadura, forma de nó).
  • Lembrar sempre de fazer referência quando a placenta não for encaminhada para exame.
  • Sempre abrir o crânio e descrever o aspecto do líquor, das meninges e encéfalo, evitando classificar como indeterminada uma morte por meningite ou meningo-encefalite.
  • Atenção especial à dissecção do pescoço
  • Nas necropsias em crianças lactentes, sempre descrever cavidade oral, laringe, traqueia, brônquios principais e conteúdo gástrico, pensando-se nos muitos casos de morte por aspiração de conteúdo gástrico.
  • Quando indicado realizar a Docimásia Hidrostática Pulmonar de Galeno.
  • Verificar a presença ou não de conteúdo lácteo no estômago.
  • Fotografar o corpo e as possíveis lesões internas e externas.
  • Fazer coleta de materiais para exame de acordo com os achados periciais.
  • Nos casos em que não ficar clara a causa mortis do feto, elaborar uma discussão enfatizando a ausência de lesões traumáticas e respondendo ao segundo quesito “morte intrauterina de causa indeterminada”. Evitar o uso da expressão “anóxia intrauterina”. 
Para casos de morte natural ou indeterminada 

Nos cadáveres de morte aparentemente natural, ou a critério do perito médico, fazer:

a) coleta de material biológico para exame anatomopatológico;
b) descrição detalhada das amostras com anotação de cor, consistência, bem como a forma, peso e volume do órgão da qual foi coletada.

No caso de acidente vascular cerebral (AVC) enfatizar o caráter não traumático do achado. E em todos os casos de "causa mortis" não definida, é obrigatório solicitar exames complementares. Da mesma maneira, em todos os casos de "causa mortis" não definida, mesmo que não haja suspeita de envenenamento, deverá ser solicitado exame toxicológico (psicotrópico e venenos).

Causas mais comuns da chamada morte natural:

a) cardiocirculatória (cardiopatia isquêmica, valvulopatia, carciomiopatias, miocardite, endocardite, má-formação congênica, rotura de aneurisma);
b) respiratória (broncopneumonia, tuberculose, embolia pulmonar, penumoconioses);
c) digestiva (doenças hemorrágicas, infarto intestinal, pancreatite, cirrose):
d) encefalomeningeas (processos hemorrágicos, tromboembolismo e infecção);
e) obstétrica (aborto, gravidez ectópica, infecção puerperal).

IMPORTANTE: A classificação de "causa mortis" como indeterminada deve ser considerada apenas após uma investigação exaustiva da necropsia, incluindo um exame externo detalhado, exame interno completo de todas as cavidades, e análises anatomopatológicas e toxicológicas que não resultem em conclusões definitivas. 

Não é apropriado atribuir a resposta de "causa indeterminada" ao segundo quesito sem antes realizar uma abertura completa e examinar as estruturas de todas as cavidades corporais, além de conduzir os exames complementares necessários.

Em casos onde a "causa mortis" não puder ser imediatamente definida dentro do prazo legal, o laudo pode ser emitido indicando "causa básica da morte a esclarecer". Este laudo inicial deve informar à autoridade competente que a determinação final da causa da morte dependerá dos resultados dos exames complementares e que será fornecida posteriormente por meio de um laudo complementar.

Todos os cadáveres em estado de putrefação devem passar por um exame radiológico de rotina. Caso este exame não seja realizado ou não seja possível, tal fato deve ser documentado pelo perito médico responsável pelo caso. As vestimentas do cadáver, quando forem de interesse forense ou a pedido do perito médico-legista, devem ser secas, embaladas e identificadas adequadamente antes de serem enviadas para análise laboratorial. As roupas que não necessitarem de exames adicionais serão descartadas como resíduo hospitalar após liberação pelo perito.

Os objetos relacionados à morte ou que possam ter sido usados no óbito devem ser catalogados, embalados e selados, e a autoridade policial responsável deve ser notificada. Os projéteis de arma de fogo extraídos devem ser individualmente identificados e descritos quanto à região de recuperação no corpo, antes de serem encaminhados para análise de microcomparação balística conforme orientação do perito, que deve registrar essa informação no laudo.

Durante as necropsias em casos de violência sexual, é essencial examinar a genitália e a região anal, coletando amostras para análise de espermatozoides e DNA. As peças íntimas devem ser coletadas e enviadas para exames laboratoriais, assim como amostras de referência da vítima, como sangue. É necessário também a coleta de material subungueal para pesquisa de DNA.

Em mulheres em idade fértil, as estruturas uterinas e anexas devem ser sempre examinadas e descritas. Para a pesquisa de alcoolemia, o sangue deve ser retirado da veia femoral. Em corpos em estado de decomposição avançada ou carbonizados, o teste de etanol pode ser realizado no humor vítreo. Nos casos de internação hospitalar prolongada, a coleta de sangue para testes de alcoolemia pode ser dispensada.

É imperativo que, em todas as necropsias de mortes violentas, especialmente quando o corpo é encontrado, que se colete material para exame de DNA. A coleta de material biológico, seja sangue, músculo cardíaco, dente ou cabeça do fêmur, é crucial para estabelecer o perfil genético da vítima para futuras comparações com elementos do local do crime ou outros.

Em casos de cadáveres desconhecidos

Não é incomum que o reconhecimento de algumas pessoas leve a ocorrer. Por isso, para todos os cadáveres recebidos como desconhecidos, é necessário tomar algumas medidas, tais como:

a) Prestar especial atenção ao exame da arcada dentária, incluindo descrição detalhada e realização de radiografias;
b) Coletar impressões digitais;
c) Obter material biológico para análises futuras de DNA, que podem incluir amostras de sangue, músculo cardíaco, dente ou cabeça de fêmur.

Todo material enviado para outras unidades para exames complementares de perícia deve ser adequadamente descrito, acondicionado, selado e protocolado para assegurar a integridade da cadeia de custódia.

Nos laudos de necropsias que envolvem exames complementares de radiologia e laboratoriais, deve-se incluir a confirmação de tais exames e, quando possível, a descrição ou transcrição dos resultados obtidos.

Na conclusão do laudo pericial, deve-se estabelecer uma cronologia clara dos eventos, começando pela causa básica e seguindo até a causa imediata do óbito. O resumo deve ser objetivo, claro e lógico, refletindo os eventos que levaram à morte.

O perito médico legista é responsável por revisar cuidadosamente os laudos para evitar erros de digitação que possam comprometer a forma e a qualidade técnica do documento. Uma vez assinado, o perito assume total responsabilidade pelo conteúdo do laudo, reforçando a necessidade de precisão e atenção aos detalhes em todas as etapas do processo de documentação.

Passo 4: Coleta de amostras para análise

Obtenção de tecidos, fluidos corporais e, se necessário, amostras para análises toxicológicas, histológicas e outras pertinentes.

Passo 5: Análise microscópica

Exame de amostras de tecidos ao microscópio para identificar alterações celulares e outras evidências de doença ou trauma.

Passo 6: Determinação da causa da morte

Integrar os resultados de todas as análises dos passos 3, 4 e 5 para determinar a causa imediata e quaisquer causas contribuintes da morte.

Passo 7: Elaboração de relatório

Preparar um relatório detalhado com os achados da autópsia, análises laboratoriais e a conclusão sobre a causa da morte. Adiante detalharemos as possibilidades de informações que podem estar presentes no relatório.

Passo 8: Comunicação dos resultados

Entregar o relatório final às autoridades legais, familiares do falecido e outras partes interessadas, fornecendo informações cruciais para questões legais ou de saúde pública.

Cada passo é fundamental para garantir uma investigação completa e precisa, ajudando a esclarecer as circunstâncias da morte e fornecendo respostas importantes para a justiça e para a família do falecido. 

No próximo tópico, entenda mais detalhadamente sobre os passos 7 e 8 da determinação da causa de morte. Por serem tópicos extremamente importantes e detalhados, demandam um conhecimento maior da variedade de possibilidades de causas de morte.


Este artigo pertence ao Curso de Técnicas de Necropsia

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