Planejamento de uma Dieta Equilibrada para Idosos e Prevenção de Doenças e Complicações Relacionadas a Saúde
O planejamento alimentar para idosos é fundamental para a prevenção de doenças e o controle de doenças já existentes, além de favorecer a boa qualidade de vida, contribuir com a capacidade funcional e reduzir custos, em virtude da diminuição das complicações de saúde.
A nutrição pode atuar de três formas na prevenção de doenças, na prevenção primária, secundária ou terciária. A prevenção primária ocorre em uma nutrição centrada na promoção de saúde e prevenção do surgimento de doenças, com foco em uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física.
Já a nutrição na prevenção secundária diz respeito a redução de riscos e ao retardo da progressão de doenças crônicas que estejam ligadas a nutrição, com o objetivo de manter a qualidade de vida e o desempenho funcional do indivíduo. E por fim, a forma terciária, que requer tratamentos específicos de determinados casos, podendo ocorrer em hospitais, com um planejamento detalhado acerca do período após a alta hospitalar, onde o acompanhamento nutricional desempenha um papel importante na recuperação e melhoria da qualidade de vida.
Nesta seção, iremos abordar primeiramente os princípios básicos de uma alimentação equilibrada, conforme o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde e itens que merecem atenção ao planejar uma dieta para uma pessoa idosa. Em seguida, falaremos sobre uma ferramenta prática para identificação de hábitos alimentares saudáveis e estratégias para auxiliar na melhora da ingestão alimentar.
Guia Alimentar para a População Brasileira
Como vimos no início deste curso, o Brasil passou por muitas mudanças, sejam elas sociais, econômicas, culturais e até mesmo de acesso a saúde, o que transformou a forma de vida da população, levando a uma maior expectativa de vida, alterações no padrão de saúde e de consumo alimentar dos brasileiros. As principais doenças que acometem este público hoje em dia são crônicas, cujo excesso de peso está presente em diversas pessoas e é fator de risco para o desenvolvimento de outras condições crônicas de saúde. Além disso, a elevação da expectativa de vida requer que os idosos cheguem a idades mais avançadas com a saúde preservada e mantendo uma boa capacidade funcional.
Figura 32: Guia Alimentar para a População Brasileira.
- Quantidade de refeições diárias: o idoso precisa realizar ao menos cinco refeições por dia, as três principais (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches. O idoso precisa mastigar bem as refeições, saborear e comer devagar. Escolher alimentos típicos da região e da estação podem ser melhores escolhas. Caso haja dificuldade de mastigação, os alimentos podem ser ralados, amassados, moídos, desfiados ou batidos no liquidificador.
- Consumo diário de cereais e tubérculos: cereais (arroz, trigo, massas) integrais, tubérculos (batatas, aipim e outras raízes) são a principal fonte de energia do organismo, devido a maior quantidade de carboidratos. Portanto, não devem ficar de fora da alimentação dos idosos, desde que não haja excessos.
- Consumo diário de frutas, legumes e verduras: frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, minerais e fibras e devem estar presentes diariamente na alimentação do idoso. A diferença entre estes alimentos é que as frutas são polposas, com aroma característico e normalmente sabor adocicado, como tangerina, banana, maçã e laranja. Já os legumes são as partes comestíveis de uma planta, e normalmente se desenvolvem na terra, como cenoura, beterraba e abóbora. Enquanto as verduras são as folhas comestíveis, como acelga, agrião, alface, couve e outras. Combinar verduras e legumes variando diariamente, de forma que o prato fique colorido é uma ótima estratégia para garantir diferentes tipos de nutrientes.
- Consumo diário de feijão com arroz: consumir feijão com arroz diariamente é uma ótima combinação de uma proteína completa, pois fornece o perfil de aminoácidos essenciais, a proporção deve ser de 1 para 2, ou seja, 1 porção de feijão e 2 de arroz. Outros tipos de leguminosas também podem ser usadas, como soja, lentilha, ervilha e grão de bico.
- Consumo diário de leite e derivados e carnes: leite e derivados são a principal fonte alimentar de cálcio, um dos nutrientes mais importantes para os idosos, devem ser preferivelmente consumidos em sua forma desnatada ou semidesnatada. Carnes vermelhas, peixes, frango e ovos também devem fazem parte da alimentação diária. Peixes devem ser consumidos pelo menos duas vezes por semana. A pele e gordura aparente das carnes e frango devem ser retiradas antes do cozimento. Todos esses alimentos são fontes de proteínas e outros nutrientes benéficos para a saúde.
- Reduza a quantidade de sal das preparações: a quantidade de sal normalmente utilizada pelos brasileiros é muito alta, o que também pode contribuir para os elevados casos de hipertensão arterial. Por isso, a quantidade de sal nas preparações deve ser preferencialmente reduzida e o saleiro retirado da mesa para que o consumo não seja incentivado. Outros alimentos podem ser fontes de sal, como os ultraprocessados, a exemplo dos embutidos (salame, linguiça, presunto, entre outros), charque, salgadinhos, hambúrguer, molhos e temperos prontos. É possível utilizar temperos naturais para realçar o sabor dos alimentos, como ervas frescas, coentro, hortelã, cebola, alho, pimentão e tomate.
- Ingestão de água: o nosso organismo depende de água para realizar diversas funções e o idoso pode ter uma tendência a desidratação. Por isso, é recomendado que a água seja consumida nos intervalos entre as refeições e que seja tratada e filtrada, tanto para beber, quanto para preparar refeições e sucos. Outros tipos de bebidas não devem substituir a água pura.
- Prática regular de atividade física: a prática regular de exercício físico é importante para contribuir com a qualidade de vida, manutenção de peso adequado, bem-estar geral, melhor cognição, equilíbrio e força óssea. O exercício físico facilita a realização das atividades da vida diária, preserva a função muscular, a mobilidade e reduz o risco de quedas e lesões. É possível praticar caminhadas ou utilizar o espaço público ou doméstico para realizar exercícios.
- Álcool e fumo: evitar o fumo e o consumo excessivo de bebida alcoólica reduz o risco de doenças crônicas, como câncer, cirrose e outras. O fumo deve ser cessado e o consumo de álcool limitado a no máximo 1 drinque para mulheres e 2 drinques para homens ou menos. Efeitos do álcool também podem contribuir com maior risco de quedas, acidentes de carro e outras lesões. Os idosos que devem se abster de álcool são aqueles que dirigem ou operam máquinas, participam de atividades que requerem estado de alerta e coordenação, que tomem medicamentos que interagem com álcool, determinadas condições de saúde ou que estão em recuperação de algum transtorno por uso de álcool.
- Comer com atenção e companhia: no momento da alimentação, é recomendado que o idoso se concentre naquela tarefa, sem outras atividades, como assistir televisão ou mexer no celular. Portanto, deve-se incentivar a companhia de amigos, cuidadores ou familiares no momento da alimentação e explicar o motivo, visto que contribui para atenção e o prazer de comer, evitando também que o idoso coma rapidamente. Além disso, refeições regulares favorecem a boa digestão dos alimentos, através de mecanismos que controlam o nosso apetite;
- Feijões: o consumo diário de feijão e suas variações ou outras leguminosas deve ser incentivado. Explique que o feijão, além de ser um prato típico do Brasil, é fonte de proteínas, fibras e diversas vitaminas e minerais. A combinação de feijão com arroz apresenta um perfil de proteína completa. Caso a dificuldade do idoso seja o cozimento frequente do feijão, forneça resoluções, como por exemplo, o idoso ou o seu cuidador podem cozinhar e congelar o alimento em pequenas porções para ser consumido ao longo da semana. E, se o idoso tiver dificuldade de mastigação, você pode orientá-lo que deixe o grão cozinhar por mais tempo para que fique mais macio ou que o feijão seja amassado com um garfo;
- Legumes e verduras: o consumo diário de legumes e verduras também deve ser incentivado. Se o idoso não conseguir adquirir estes alimentos, recomende que opte por legumes e verduras da sua região e da estação, pois possuem um custo menor e uma melhor qualidade, ampliando o acesso a estes vegetais. Ressalte que os legumes e verduras estão associados com a proteção para doenças crônicas, como alguns tipos de câncer e obesidade, são ricos em vitaminas, minerais e fibras, e que este último auxilia em um funcionamento intestinal adequado e previne a constipação (“prisão de ventre). Podem ser consumidos em saladas cruas, cozidos, refogados, assados, em ensopados, no feijão, arroz, em sopas ou sob a forma de purês;
- Frutas: O consumo diário de frutas também deve ser estimulado, caso haja dificuldade de compra assim como os legumes, oriente que o idoso escolha frutas da época e do seu território, devido ao menor custo. Reforce que são uma excelente fonte de vitaminas, minerais, fibras e diversos outros compostos com atividades biológicas, a exemplo dos antioxidantes e que tem relação com o auxílio a prevenção de uma série de doenças. As frutas podem ser consumidas puras ou sob a forma de sucos, mas a preferência deve ser sempre das frutas inteiras. Podem ser adicionadas em saladas, consumidas em saladas de frutas, vitaminas, misturadas com iogurtes ou leite;
- Açúcar: o sabor acentuado do açúcar pode favorecer o consumo exagerado, e, os idosos precisam evitar o consumo elevado deste nutriente devido a relação com doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade e diabetes, ou piora de condições já existentes. Deve-se evitar não apenas o açúcar de mesa, mas também açúcares “escondidos” em alimentos, como refrigerantes, sucos de caixinha, sucos em pó e refrescos, que além da quantidade exagerada de açúcar, contêm muitos corantes, aromatizantes e outros aditivos. Além de tudo, o consumo de bebidas açucaradas pode atrapalhar a ingestão de água pelo idoso, que é um meio seguro para a hidratação;
- Alimentos ultraprocessados: caso o idoso consuma diariamente alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, gordura e sódio, em virtude do menor custo, maior praticidade e palatabilidade (sabor) e baixa quantidade de nutrientes, é recomendado que essa prática seja evitada. Enfatize com o idoso que o consumo frequente de alimentos ultraprocessados pode agravar condições clínicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e obesidade. Portanto, o consumo de embutidos (salsichas, presunto, calabresa, mortadela, linguiças), macarrão instantâneo, biscoito recheados, doces, guloseimas e salgadinhos devem ser evitados.
Este artigo pertence ao Curso de Introdução à Nutrição para Idosos
Faça o Curso completo grátis!!