Respeitando as limitações de cada criança e facilitando seu retorno à escola sem atrapalhar seu desenvolvimento como ser cognoscente, a Pedagogia Hospitalar contribui significativamente para a promoção da continuidade do processo de educação básica da criança hospitalizada. Dessa forma, é essencial começar o processo de alfabetização desses alunos partindo do conhecimento prévio deles.
Essa área da educação informal torna o termo "educação" significativo para todos, no sentido de que as crianças nos hospitais até então não tinham o direito legal de continuar sua educação. Isso porque toda criança entra na escola com algum conhecimento prévio sobre determinados tópicos.
De acordo com Moreira (2000), a aprendizagem significativa ocorre quando um novo conceito é conectado a crenças anteriormente mantidas e é incorporado à estrutura cognitiva do aprendiz. Como resultado, o novo conceito torna-se significativo para o aluno por causa da conexão com o conceito anterior.
Podemos dizer que a educação não formal opera em quatro níveis: o primeiro diz respeito à compreensão dos direitos do indivíduo como cidadão; a segunda é a preparação dos indivíduos para o emprego; a terceira é uma educação voltada para a organização de indivíduos para a realização de atividades comunitárias; e a quarta diz respeito à compreensão dos materiais educativos administrados de forma singular (SANTANA; RABELO; CORREIA, 2013).
Diante disso, os ambientes hospitalares, assim como as salas de aula, são locais em que é possível encontrar uma heterogeneidade de personalidades e vivências diferentes. Portanto, os educadores precisam compreender a história educacional da criança hospitalizada a fim de criar estratégias de alfabetização assertivas.
Para conseguir isso, pode-se realizar uma pesquisa com os pais e, em seguida, desenvolver atividades de escrita e leitura para examinar o período de escrita da criança. A partir desse diagnóstico, que deve ser catalogado por escrito, são planejadas atividades para o período subsequente que levam em consideração o desenvolvimento da escrita e leitura de cada aluno.
A participação em atividades que promovam o letramento do ponto de vista da alfabetização promove o engajamento e o fortalecimento dos laços sociais. Situações de troca de experiências com outras crianças, negociações, partilhas, novas regras, jogos, rotinas, conversas sobre acontecimentos históricos e a exploração de novos contextos e ambientes podem servir como trampolins para o desenvolvimento do indivíduo por meio de um cenário que promova a interação constante com a palavra escrita e falada (FERREIRA; PESSOA, 2021).
Nesse sentido, é possível também construir atividades que estejam relacionadas com as vivências dos alunos, portanto, elaborar atividades que visem: a) Construir a árvore genealógica de cada aluno; b) Produzir um diário textual para os acontecimentos do dia a dia; c) Fazer uma coletânea de histórias interessantes para cada aluno; d) Apresentar histórias que problematiza se situações que faziam parte do cenário dos alunos (como preconceito, racismo e questões de tratamento); e) Promover atividades relacionadas à produção de letras do alfabeto para gerar palavras que se enquadrem na esfera da alfabetização visando o letramento dos alunos (FERREIRA; PESSOA, 2021).
Por isso, Ferreiro (1998, p.24) diz que “o desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças. Quando tentam compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo recebido”. A pedagogia hospitalar se mostra essencial para auxiliar o processo de alfabetização dos alunos em condições especiais fora da sala de aula.
Quando falamos sobre a pedagogia hospitalar, não podemos deixar de comentar sobre o processo de alfabetização envolto entre o aluno e o professor, principalmente na construção do conhecimento sobre tais condições que o estudante se encontra.
Portanto, embora até a década de 80 os dois grupos de alfabetização “Métodos Sintéticos” e “Métodos Analíticos” tinham destaque entre os profissionais, um novo discurso sobre a alfabetização começou a surgir em resposta às ideias de Ferreiro e Teberosky (1985) sobre a Psicogênese da palavra escrita.
Como resultado dessa abordagem "construtivista", passam a ser valorizadas as hipóteses de aprendizagem que a criança constrói na aquisição da leitura e da escrita. Essa perspectiva educacional se destaca pelo maior alinhamento com a realidade cultural, social e cotidiana do sujeito.
A abordagem de aprendizagem construtivista coloca a criação de conhecimento pelo próprio aluno no centro da aprendizagem, em outras palavras, os alunos são vistos como criadores de seu próprio conhecimento, colocando-os em posição de maior significância e responsabilidade.
Segundo os autores citados, a linguagem escrita é tanto um assunto de aprendizagem quanto algo a ser compreendido. Uma criança lendo em voz alta é vista como um sujeito ativo, pois "analisa, organiza, exclui, compara e formula hipóteses". Essa concepção de criança que aprende provoca uma revolução na alfabetização que se baseia no modelo educacional construtivista.
Ao longo de seu primeiro ano, as crianças compreenderão o valor da leitura e da escrita, bem como começarão a construir suas próprias hipóteses de aprendizagem. Sendo assim, quando ela estabelece a ligação formal com o leitor, não podemos ignorar todas as suas experiências até então, em vez disso, devemos aproveitá-las como um recurso valioso para a alfabetização, pois esse processo ocorre constantemente por meio do contato com ambientes de leitura.