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Anatomia e Fisiologia da Pele e Tecidos


Imagem: Alexander's Images.

A pele é o maior órgão do corpo humano, cobrindo aproximadamente 2m² em um adulto e representando cerca de 15% do peso corporal. Composta por várias camadas e estruturas especializadas, a pele desempenha funções vitais que vão além da proteção física. Compreender sua anatomia e fisiologia é fundamental para os profissionais de enfermagem que cuidam de pacientes com feridas, garantindo um tratamento eficaz e humanizado.

Estrutura da pele

  • Epiderme 

A camada mais externa da pele, formada por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado. É composta predominantemente por queratinócitos, células que produzem queratina, uma proteína essencial para a proteção contra agressões externas. A epiderme se renova constantemente, com um ciclo de aproximadamente 28 dias, garantindo a substituição de células antigas por novas. Além dos queratinócitos, a epiderme contém melanócitos, que produzem melanina para proteger contra a radiação UV, e células de Langerhans, que desempenham funções imunológicas.

População queratocítica

1. Camada basal: a camada basal é a parte mais profunda da epiderme, localizada diretamente acima da derme. Esta camada é composta por uma única fileira de queratinócitos, que são células com citoplasma basofílico e núcleos grandes e ovais. Esses queratinócitos estão em constante divisão mitótica, contribuindo para a regeneração contínua da pele.

2. Camada espinhosa ou malpighiana: posicionada acima da camada basal, a camada espinhosa é formada por 5 a 10 camadas de queratinócitos de formato poliédrico. À medida que essas células se movem em direção à superfície da pele, elas se achatam progressivamente. As células estão interligadas por desmossomos, que são estruturas que proporcionam resistência mecânica à pele. Na camada basal, as células são ancoradas à membrana basal por hemidesmossomos. Distúrbios nos desmossomos podem resultar em separação celular e formação de bolhas, como observado em doenças autoimunes como o pênfigo foliáceo e o pênfigo vulgar, onde os anticorpos atacam componentes dos desmossomos.

3. Camada granulosa: a camada granulosa é constituída por 1 a 3 camadas de queratinócitos achatados, repletos de grânulos de querato-hialina. Esses grânulos são responsáveis pela produção de filagrina, uma proteína crucial para a estrutura das células corneificadas. Nesta camada, ocorrem eventos importantes para a formação da barreira impermeável da pele, incluindo a produção de proteínas como involucrina e loricrina, que ajudam na estruturação da camada mais externa da pele.

4. Camada córnea: a camada córnea é a camada mais externa da epiderme e sua espessura varia dependendo da localização no corpo, sendo mais espessa nas palmas das mãos e plantas dos pés. Os queratinócitos nesta camada são anucleados e formam uma estrutura resistente de queratina, protegendo a pele contra agressões externas.

População não-queratocítica

1. Melanócitos: os melanócitos são células dendríticas localizadas na camada basal da epiderme, responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que dá cor à pele. Esses melanócitos transferem melanina para os queratinócitos vizinhos através de seus longos dendritos, formando unidades chamadas de unidades epidermomelânicas.

2. Células de Langerhans: originadas na medula óssea, as células de Langerhans são células dendríticas encontradas na camada espinhosa da epiderme, representando 2 a 8% das células epidérmicas. Elas desempenham um papel crucial no sistema imunológico, atuando como células apresentadoras de antígenos para os linfócitos T. Sua presença é caracterizada por grânulos citoplasmáticos únicos, conhecidos como grânulos de Birbeck.

3. Células de Merkel: encontradas nas extremidades dos dedos, lábios, gengivas e folículos pilosos, as células de Merkel têm uma origem ainda debatida, mas acredita-se que possam ter funções neuroendócrinas. Elas estão em contato próximo com terminações nervosas, formando estruturas chamadas discos de Merkel, que atuam como mecanorreceptores sensíveis ao toque.

Junção dermoepidérmica 

A junção entre a epiderme e a derme é composta pela membrana basal, uma estrutura complexa visível sob microscopia como uma linha corada pelo ácido periódico de Schiff (PAS). A membrana basal tem quatro componentes principais: a membrana celular basal, a lâmina lúcida, a lâmina densa (composta de colágeno tipo IV) e a lâmina fibrorreticular. Esta junção é essencial para a ancoragem e adesão entre a epiderme e a derme, além de atuar como uma barreira seletiva para a passagem de materiais e células inflamatórias.

As doenças que afetam esta junção, como a epidermólise bolhosa e o penfigoide bolhoso, são caracterizadas pela formação de bolhas devido à separação das camadas epidérmicas e dérmicas, resultando em lesões graves e de difícil tratamento. Essas condições destacam a importância crítica da integridade da junção dermoepidérmica para a saúde da pele.

  • Derme

Localizada entre a epiderme e a hipoderme, a derme é composta por tecido conjuntivo que contém fibras colágenas e elásticas, vasos sanguíneos, linfáticos, terminações nervosas e glândulas. Os fibroblastos, principais células da derme, produzem as fibras que conferem resistência e elasticidade à pele. A derme também abriga órgãos sensoriais que permitem a percepção de estímulos externos. Ela é dividida em duas camadas: a derme papilar, que é mais superficial e rica em capilares, e a derme reticular, mais profunda e densa em fibras colágenas.

Vascularização

A vascularização da pele é restrita à derme e é composta por dois principais plexos: um profundo e um superficial, que são interligados por vasos comunicantes dispostos perpendicularmente à superfície da pele.

O plexo superficial está localizado na parte superior da derme reticular e é formado por pequenas arteríolas. Destas arteríolas, surgem alças capilares que se estendem até o topo de cada papila dérmica, onde realizam as trocas gasosas e nutrientes antes de retornarem como capilares venosos.

O plexo profundo encontra-se na base da derme reticular, constituído por arteríolas e vênulas com paredes mais espessas. Os vasos comunicantes entre os plexos profundo e superficial desempenham um papel crucial no controle do fluxo sanguíneo dérmico, que é fundamental para a regulação da temperatura corporal. Esta interligação permite ajustes rápidos na circulação cutânea em resposta a variações de temperatura, ajudando na dissipação de calor em condições de calor extremo e na conservação de calor em ambientes frios.

Além disso, a adequada vascularização da derme é essencial para processos de cicatrização e resposta imunológica, pois fornece os nutrientes necessários para a regeneração celular e facilita o transporte de células imunológicas para áreas lesionadas. A disfunção neste sistema vascular pode resultar em condições patológicas como úlceras cutâneas e dificuldades na cicatrização de feridas.

  • Hipoderme

A camada mais profunda da pele, formada por tecido adiposo que serve como reserva energética, isolamento térmico e proteção contra choques mecânicos. A hipoderme conecta a derme à fáscia muscular, permitindo que as camadas superiores da pele deslizem livremente sobre as estruturas subjacentes. Esta camada também desempenha um papel crucial na modelagem do corpo e no armazenamento de energia.

Inervação

A pele possui uma rica inervação, composta por nervos motores autonômicos e nervos sensoriais somáticos, que desempenham diferentes funções.

1. Sistema autonômico

O sistema autonômico é composto por fibras nervosas simpáticas, que regulam várias funções automáticas da pele. Estas fibras são responsáveis por:

  • Piloereção (levantamento dos pelos)
  • Constrição dos vasos sanguíneos cutâneos
  • Secreção de suor pelas glândulas écrinas

Embora as fibras que inervam as glândulas écrinas sejam simpáticas, o neurotransmissor utilizado é a acetilcolina, diferindo do habitual uso de noradrenalina em outras fibras simpáticas.

2. Sistema somático

O sistema somático é responsável por diversas sensações, incluindo dor, prurido, tato suave, tato discriminativo, pressão, vibração, propriocepção e temperatura. Os nervos sensoriais possuem receptores especializados que são funcionalmente divididos em mecanorreceptores, termorreceptores e nociceptores. Esses receptores podem ser estruturados ou livres, cada tipo com funções específicas:

  • Corpúsculos de Vater-Pacini: localizados nas regiões palmoplantares, são específicos para a percepção de pressão e vibração.
  • Corpúsculos de Meissner: encontrados nas polpas dos dedos, são sensíveis ao tato.
  • Corpúsculos de Krause: presentes em áreas de transição entre pele e mucosas, são sensíveis ao frio.
  • Corpúsculos de Ruffini: responsáveis pela detecção de calor.

As terminações nervosas livres, que não possuem características estruturais específicas, são responsáveis pela percepção de dor, prurido e parte das sensações térmicas.

Considerações adicionais

A hipoderme desempenha um papel crucial na proteção e no suporte geral da pele. Além de suas funções de isolamento térmico e absorção de choque, a presença de tecido adiposo fornece uma reserva de energia que pode ser mobilizada conforme necessário. A compreensão detalhada da inervação cutânea é essencial para tratamentos médicos e intervenções que envolvem a pele, garantindo que abordagens terapêuticas sejam direcionadas com precisão para alívio da dor e outras condições dermatológicas.


Imagem: Science Photo Library.



Este artigo pertence ao Curso de Cuidados Aplicados às Feridas

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