CUIDADOS COM OS VÍCIOS DE LINGUAGEM
Em uma apresentação em público, a audiência, inevitavelmente, faz avaliações, interpretações e, assim, cria imagens a respeito do apresentador. Por isso, o comportamento e a comunicação durante uma apresentação em público interfere diretamente na imagem a ser formada. Um aspecto da comunicação verbal que deve ser levado consideração sempre é o uso correto da língua portuguesa. Ainda que seja uma exposição mais informal e “amigável”, a linguagem merece cuidado e deve ser usada de forma precisa. Isso significa ser fluente, escolher palavras adequadas e demonstrar domínio no vocabulário.
Os vícios de linguagem podem trazer vários resultados negativos para o palestrante, dentre eles:
– Perder autoridade e/ou comprometer sua reputação;
– Não ser levado a sério;
– Distrair as pessoas, impedindo-as de se conectarem com sua mensagem;
– Causar perda significativa no possível impacto das palestras.
Classificação dos Vícios de Linguagem
Uma vez que já analisamos os aspectos mais práticos e que você pode começar a aplicar ainda hoje, vejamos agora a classificação (segundo a língua portuguesa) dos vícios de linguagem. Esta visão ampliada reforçará a necessidade de implementar logo as sugestões já abordadas neste artigo. São as seguintes: Pleonasmo, Gerundismo, Solecismo, Barbarismo, Plebeísmo, Preciosismo, Arcaísmo, Neologismo, Ambiguidade, e Cacofonia. Nota: A cada dia surgem novas classificações. Mas, em geral, são apenas derivações dessas principais já mencionadas.
Pleonasmo
“Pleonasmo” vem de uma palavra grega (pleonasein) que significa “ser mais do que suficiente”. Portanto, este vício de linguagem é caracterizado por uma repetição desnecessária de palavras com significado semelhante. Exemplos:
“Vou Entrar para Dentro” – O correto seria apenas: “Vou entrar”
“Vamos descer para Baixo” – O correto seria apenas: “Vamos descer”
Pleonasmo é sinônimo de “Redundância”. Redundância vem do latim “redundare”, que basicamente significa “voltar”. Sim, o praticante do pleonasmo está como que constantemente voltando na mesma coisa.
Gerundismo
Tá na moda o gerundismo. Mas isto não o isenta de ser um vício de linguagem. Na língua Portuguesa, o gerúndio é uma conjugação verbal que indica uma causa ou efeito verbal em andamento. Exemplo: o gerúndio do verbo ganhar é “ganhando”; do verbo apresentar é “apresentando”, e assim por diante.
Exemplos do gerúndio mal empregado (gerundismo):
“Vou estar ligando pra você depois”. – O correto seria apenas: “Vou ligar pra você depois”.
“Vamos estar concluindo o trabalho hoje”. – O correto seria apenas: “Vamos concluir o trabalho hoje”.
Pessoas que tem o vício do gerundismo costumam utilizar verbos conjugados no tempo presente para aplicá-las ao passado, presente e futuro. É uma forte tendência nos dias atuais.
Solecismo
A palavra “Solecismo” vem do Grego “Soloikismós”, que significa “erro contra as regras do idioma”. Originou-se em Sóloi, uma cidade da Cilícia onde se cometiam muitos pecados contra a língua grega. Na língua Portuguesa, o Solecismo define um vício de linguagem em relação à sintaxe, ou seja, à coerência das palavras numa frase e das frases no discurso. Então, quando você diz expressões gramaticalmente incorretas, está cometendo o vício de linguagem denominado Solecismo. O Solecismo, por sua vez, é subdividido em três formatos: Em relação à Concordância, em relação à Regência e em relação à Colocação.
– Solecismo em relação à Concordância. Este tipo é o mais facilmente notado, até por quem conhece bem a nossa língua portuguesa. Exemplos:
“Nós era terrível”. O correto seria: “Nós éramos terríveis.”
“A gente fomos passear”. O correto seria: “A gente foi passear”.
Perceba que, aprendendo a usar com coerência o modo plural e o modo singular, podemos evitar bastante este tipo de vício de linguagem.
– Solecismo em relação à Regência. Este tipo é mais discreto. É percebido pelos que possuem bom conhecimento do português. Regência é a parte da gramática que estuda a relação de subordinação entre os verbos, ou nomes, e as palavras complementares inter-relacionadas. Exemplos:
“Você vai no médico?” O correto seria: “Você vai ao médico?”.
“José assistiu o filme.” O correto seria: “José assistiu ao filme”.
– Solecismo em relação à Colocação. Com os exemplos abaixo, você vai perceber que o Solecismo em relação à colocação também é um tanto discreto. É muito fácil cometer este tipo de erro; nós o escutamos diariamente nas músicas e nos diálogos.
“Me arrumei à toa”. O correto seria: “Arrumei-me à toa”
“Não contive-me de tantas risadas.” O correto seria: “Não me contive de tantas risadas.”
É bem perdoável; mas quem passa a conhecer o padrão correto costuma fazer ajustes.
Barbarismo
Basicamente, o Barbarismo envolve falar ou escrever uma palavra erroneamente. A linguagem popular está repleta de barbarismos. Algumas palavras “erradas” são tão constantemente pronunciadas e repetidas, que aos poucos se incorporam no vocabulário de uma geração. Mas a popularidade do Barbarismo não o torna gramaticalmente correto. A única exceção é que, se usado propositalmente, pode ser considerado uma figura de linguagem.
Assim como no Solecismo, podemos dividir este vício de linguagem em algumas categorias:
1) Quanto à Pronúncia; 2) Quanto à Morfologia; 3) Quanto à Semântica e 4) Estrangeirismos.
– 1 ) Pronúncia:
Como o nome diz, se trata de pronunciar uma palavra incorretamente. Exemplos: Estrupo (correto: estupro); poblema (correto: problema); probrema (correto: problema). Este aspecto do Barbarismo também é conhecido como Cacoepia. Cacoepia significa “pronúncia errada, viciosa”. Ainda no que se refere a este campo, existem os erros de pronúncia em relação à sílaba tônica. Sílaba tônica é a sílaba com som mais forte dentro uma palavra. Quando não se respeita a sílaba tônica (quer acentuada quer não), cometemos um erro de pronúncia. Este aspecto do Barbarismo também é chamado de “Silabada”.
Exemplos de Silabada: “Faça este curso gratuíto”. (A palavra “gratuito” não leva acento. A pronúncia correta é “gratuito”, como se houvesse um acento agudo na letra “u”, e não na letra “i”.)
Outro exemplo: “Você tomou as pilúlas?” (A palavra “pílula é acentuada. Deve-se respeitar a sílaba tônica “pí”, e não a sílaba “lu”.)
Finalizando esta questão da pronúncia, ainda temos a Cacografia, que se refere aos erros de escrita, ou, grafia. O modo de escrever muitas vezes é relacionado ao modo de falar. Quem escreve errado, fala errado. Exemplos:
“Vou falar com o meu adevogado”. Trata-se de um erro na grafia e na pronúncia. (Correto: “Vou falar com meu advogado”)
“Ele usa muita perçuasão”. Trata-se de um erro na grafia. (Correto: “Ele usa muita persuasão”).
– 2) Morfologia:
Como categoria do Barbarismo, este aspecto se refere a erros na flexão e composição das palavras. Quando se muda um contexto, muda-se também a estrutura da palavra na frase. “Morfologia” vem do grego “morphe” (morfo = forma) e (logia = estudo). Exemplos:
“Você se manteu com o pouco que tinha”. Trata-se de um erro na flexão da palavra (Correto: Você se manteve com o pouco que tinha).
“Ele trazeu muita carne.” (Correto: “Ele trouxe muita carne”)
– 3) Semântica:
Na língua portuguesa, a semântica se refere ao estudo dos significados das palavras e sentidos das frases do discurso. Uma pequena mudança em uma palavra pode mudar completamente o sentido de uma frase. Exemplos:
“A profecia teve seu comprimento”. (Correto: “A profecia teve seu cumprimento”. Note que uma letra pode mudar tudo).
“Esta ferramenta se tornou absoleta.” (Correto: “Esta ferramenta se tornou obsoleta.”)
– 4) Estrangeirismos:
Muitos consideram o Estrangeirismo como um vício de linguagem vinculado ao Barbarismo. Como o nome sugere, significa usar palavras de um idioma estrangeiro no meio da sua conversa. Culturalmente falando, é compreensível. Gramaticalmente, porém, nem sempre uma palavra estrangeira tem seu uso liberado num certo idioma. Exemplos:
“Você tá sendo muito bad com ele”. (Correto: “Você está sendo muito mal com ele”).
“Este tom de azul está muito dark.” (Correto: “Este tom de azul está muito escuro.”)
Detalhe: Não é considerado um vício de linguagem quando uma palavra estrangeira já foi oficialmente incorporada num idioma (Ex.: Verbo “Deletar”), ou quando não há uma correspondência exata (Ex.: “Marketing”).
Plebeísmo
O termo plebeísmo basicamente se refere ao modo de falar como plebeu, ou seja, como um membro da parte mais popular da sociedade. Dentro do seu significado podemos incluir os maneirismos e as gírias. Também está incluído o modo de falar “chulo”, ou pobre de instrução.
Exemplos:
“Bora botar sebo nas canelas que os trem estão chegando.”
“Cola na grade pra gente resolver essa fita, sangue bom.”
Nota: A linguagem popular faz parte da cultura de uma nação e de uma geração. Não deve haver discriminação. Porém, se quiser ser um ótimo orador público, terá também de evitar este vício de linguagem, principalmente nos ambientes formais.
Preciosismo
Preciosismo (como vício de linguagem) é o hábito de tornar desnecessariamente complexas as estruturas das frases. Já ouviu aquela frase: “Este fulano fala difícil!”? É considerado vício de linguagem, pois a comunicação clara da linguagem deve ser limpa e assertiva. Qualquer dificuldade desnecessária se torna um obstáculo na sua comunicação. Quando usado propositalmente, pode se tratar de um estilo literário/poético.
Exemplos:
“Foi sua intrepidez de coração que o fez vencê-lo sem pusilanimidade, já que lhe faltava o fulgor juvenil dos tempos de outrora.”
Poderia ser: “Sua coragem de coração que o fez vencer sem medo, já que não tinha a força da juventude.” Note que este vício de linguagem muitas vezes está relacionado ao uso de palavras desconhecidas. Envolve também um uso mais constante dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes).
Arcaísmo
O nome “Arcaísmo” também é bastante sugestivo. Lembra algo arcaico, ou velho demais.
Este vício de linguagem basicamente se refere ao uso de palavras muito antigas (às vezes inadequadas) e/ou ao uso de estruturas que deixaram de ser usadas pelo idioma.
Há quem acredite que o arcaísmo não devesse ser considerado vício de linguagem. É compreensível pensar assim, pois palavras antigas podem ser belamente usadas numa comunicação mais culta e tradicional. Porem, o problema é que algumas palavras adormeceram tanto que se tornaram desconhecidas para as gerações atuais. Caíram em desuso.
Exemplos:
“Em suma, contarei – a guisa de exemplo – uma história final para vossa mercê.”
Note que não há nada de errado nesta frase. Mas as palavras “suma” e “guisa” são expressões mais antigas. Simplesmente caíram em desuso. Sem contar a antiga estrutura do termo você (“vossa mercê”), que não é mais necessária. Então, se as palavras e/ou estruturas antigas dificultam a compreensão na atualidade, a solução é nos adaptarmos e usarmos uma linguagem mais moderna e que atinja os objetivos da sua comunicação.
Lembrando que existe o arcaísmo literário, usado de propósito para embelezar muitas obras da nossa literatura portuguesa. Mas o arcaísmo linguístico pode ser facilmente combatido por se usar palavras simples e atuais, garantindo uma comunicação eficiente e compreensível. Não discrimine quem usa palavras mais antigas. Lembre-se de que os termos antigos foram o alicerce para os termos novos. Quando necessário, use um dicionário para compreender o que um patriarca lhe disse. (rss…) Amplie seu conhecimento conhecendo “novas palavras antigas”. Em contrapartida, certifique-se de que seu público esteja familiarizado com o seu vocabulário.
Neologismo
Os neologismos também são classificados como vício de linguagem, pois se tratam de novas palavras e/ou estruturas que ainda não foram incorporadas no idioma. A palavra “neologismo” vem do grego neo+logos (“neo” significa “novo”; “logos” significa “palavra, estudo”). É uma forte tendência criar e recriar termos na comunicação. Mas se estas palavras não são oficiais, se tornam um vício de linguagem. Muitas vezes o neologismo surge em uma improvisação na linguagem do dia a dia. E um bom improviso acaba se tornando frequentemente usado, encaixando-se gradativamente no vocabulário.
Exemplos: “Estou falando isto apenas esmaticamente.” (“esmaticamente” vem de “esmo”)
“Agora consigo linkar uma coisa com a outra”. (“linkar” vem da palavra inglesa “link”, que basicamente significa “ligar”)
Perde-se a conta de quantos neologismos são criados diariamente. O idioma falado é submetido a constantes mudanças com a passar do tempo. Não há limites para novas criações e adaptações.
Ambiguidade
“Ambiguidade” é uma derivação de “ambos”. Ocorre quando uma frase pode ter dupla interpretação. A ambiguidade é um vício de linguagem proveniente de uma distração ou precipitação no modo de falar. Na maioria das vezes, a pessoa só percebe que cometeu uma ambiguidade após ter falado a frase. Trata-se de um duplo sentido na interpretação.
Exemplo:
Maria expulsou Ana de dentro de sua casa. (Note que esta frase causa uma dupla interpretação; afinal, Ana foi expulsa de sua própria casa ou da casa de Maria?)
O que ajuda a dissolver uma ambiguidade é o contexto da informação. Mas, e quando a pessoa não tem acesso ao contexto? Portanto, o melhor a se fazer para evitar a ambiguidade é pensar antes de falar, e formular uma frase bem assertiva. Ambiguidade também é chamada de Anfibologia.
Cacofonia
Cacofonia é um vício de linguagem caracterizado pelo som desagradável proveniente da junção e/ou repetição de certas sílabas numa frase. A palavra cacofonia provavelmente tem raiz no grego, a partir das palavras kako+phone, que juntas significam malsonância, ou, som desagradável. Outra possibilidade de tradução é “arruinar o som” (“kakos” é do grego arruinar, destruir, queimar). Este vício de linguagem pode ser dividido por formas de ocorrência: a colisão, o eco, o hiato e o cacófato.
Exemplo de Colisão: “Vou deixa-la lá.” (Neste caso, a Cacofonia foi o: “LaLa”. A colisão acontece quando sílabas idênticas se juntam formando um som estranho)
Exemplo de Eco: “A Associação não deu a aprovação da transmissão da programação na televisão”
Neste caso, a Cacofonia foi o “ão-ão-ão-ão”. O eco foi formado pela repetição de sílabas iguais em diversas palavras na frase, formando um som esquisito.
Obs: O “eco” também pode ser chamado de Assonância.
Exemplo de Hiato: “Foi interligada à área.”
Neste caso, a Cacofonia foi o “a-à-á”. Leia esta frase um pouco mais rápido, e perceberá o desastre. Hiato significa “encontro de vogais em palavras diferentes”.
Exemplo de Cacófato: “Vou-me já que a pressa em mim abunda”.
Neste caso, a Cacofonia foi o significado obscuro formado apenas pelo som, não pela escrita desta frase. Ou seja, a junção de sons formou um sentido esquisito. O contrário de cacofonia é Eufonia (efeito acústico agradável produzido pela combinação de sons numa palavra ou numa frase).
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