INTRODUÇÃO AO VEGETARIANISMO
Origem do vegetarianismo
Vegetarianismo ou vegetarismo é um regime alimentar baseado no consumo de alimentos de origem vegetal. Define-se como a prática de não comer qualquer tipo de animal, com ou sem uso de laticínios e ovos. Embora algumas fontes sugiram que a palavra deriva do Latim vegetus (que significa "vigoroso"), não existem quaisquer provas que suportem essa teoria.
A confusão parece resultar de uma passagem de um livro escrito em 1906 em que o autor analisa a palavra de um ponto de vista etimológico, para concluir que a mesma não deriva directamente do Latim. Na verdade, o termo já estava em uso desde 1840, e o dicionário de Inglês Oxford, entre outros, refere que a palavra foi formada a partir de "vegetable" (vegetal) e do sufixo "-arian". A palavra terá entrado no vocabulário geral devido à criação da Vegetarian Society, em Ramsgate, em 1847.
Pode-se dizer que o vegetarianismo existe há cerca de 5 milhões de anos. Nosso ancestral, o Australopithecus Anamensis, alimentava-se de frutas, folhas e sementes, vivendo em perfeita harmonia com os animais menores, que poderia facilmente apanhar para se alimentar. Mas, estes hominídeos eram pacíficas e não caçavam os animais, e assim continuaram até o aparecimento do Australopithecus Boesei, há cerca de 2,4 - 1 milhão de anos.
Por volta de 3200 AC, o vegetarianismo começou a ser adotado no Egito por grupos religiosos que acreditavam que a abstinência de carne criava um poder kármico que facilitava a reencarnação. Na China e Japão Antigos (por volta do século III, AC), o clima e os terrenos eram propícios à prática do vegetarianismo. O primeiro profeta-rei chinês, Fu Xi, era vegetariano e ensinava às pessoas a arte do cultivo das plantas, as propriedades medicinais das ervas e o aproveitamento de plantações para roupas e utensílios.
Gishi-wajin-den, um livro de história da época, escrito na China, relata que no Japão não existiam vacas, cavalos, tigres ou cabras e que os povos viviam das plantações de arroz, do peixe e dos crustáceos que apanhavam. Anos mais tarde, com a chegada do Budismo, a proibição da caça e da pesca foi bem recebida pelas populações japonesas. Na Índia, animais como as vacas e macacos foram adorados ao longo dos anos por simbolizarem a encarnação de divindades.
O rei indiano Asoka, que reinou entre 264-232 AC, converteu-se ao Budismo, chocado com os horrores das batalhas. Ele proibiu os sacrifícios animais e o seu reino tornou-se vegetariano. A Índia, ligada ao Budismo e Hinduísmo, religiões que sempre enfatizaram o respeito pelos seres vivos, considerava os cereais e os frutos como a forma mais equilibrada de alimentar a população. Juntamente com estas práticas religiosas, certos exercícios, como o Yoga, associaram-se ao não consumo de carne para alcançar a harmonia e ascender a níveis espirituais superiores.
Por cerca de 2500 anos, europeus e americanos chamavam aqueles que seguiam o vegetarianismo de Pitágoras (ou Pitagóricos). O termo vegetariano não era comumente usado até a fundação da Sociedade Vegetariana Britânica em 1847. O argumento de Pitágoras em favor da dieta sem carne tinha três "vértices" (como um triângulo): veneração religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica.
Enquanto sempre houve vegetarianos na população mundial e vários escolheram esse caminho mais por necessidade do que por preferência. O mundo medieval considerava vegetais e cereais como comida para animais. Somente a pobreza obrigava as pessoas a substituírem a carne com vegetais.
Na Grécia e em Roma, a ideologia alimentar fundamentou-se sobre os valores do trigo, da vinha e da oliveira, e esteve frequentemente ligado à ideia de frugalidade: o pão, o vinho e o azeite (aos quais eram acrescentados os figos e o mel) eram elevados à categoria de símbolos de uma vida simples, de uma pobreza digna, feita de trabalho duro e de satisfações singelas. Nesta época, estas imagens eram a proposta alternativa dos gregos ao luxo e à decadência do povo persa, conforme mostram os textos clássicos. A proeminência do pão na cultura antiga era também decorrente da primitiva ciência dietética, que o colocava no topo da escala de nutrição.
Os médicos gregos e latinos viam no pão o equilíbrio perfeito entre os “componentes” quente e frio, seco e úmido, conforme os ensinamentos de Hipócrates. Em contraste, o consumo da carne foi sempre problemático. Imagem do luxo, gula, festa e privilégio social, a carne não era considerada pelas civilizações antigas do Mediterrâneo como um bem tão essencial quanto os produtos da terra. Seu preço não era sujeito a um controlo político como eram os cereais. Em certas épocas, a venda chegava a ser proibida ao público.
O Cristianismo primitivo, com raízes na tradição judaica, viu o vegetarianismo como um jejum modificado para purificar o corpo. Tertuliano (155-255 DC), Clemente de Alexandria (150-215 DC) e João Crisóstomo (347-407 DC) ensinaram que evitar a carne era uma maneira de aumentar a disciplina e a força de vontade, necessárias para resistir às tentações. Isto tornou as restrições dietéticas, como o vegetarianismo, muito comuns no comportamento cristão da época. Estas crenças foram transmitidas ao longo dos anos de uma forma ou de outra, por exemplo, a proibição de carne (exceto peixe) da Igreja Católica Romana nas sextas-feiras da Quaresma.
Com o estabelecimento do Cristianismo, ideias de supremacia humana sobre todas as criaturas começaram a surgir, mas muitos grupos não ortodoxos não partilhavam desta visão. Desde então, no decorrer da Idade Média, todos os seguidores das filosofias que eram contra o abate e abuso dos animais eram considerados fanáticos, hereges, frequentemente perseguidos pela Igreja e queimados vivos. O mundo medieval considerava que os vegetais e cereais eram comida para os animais. Somente a pobreza compelia as pessoas a substituírem a carne pelos vegetais. A carne tornou-se símbolo de status da classe alta.
No início da era Renascentista, a ideologia vegetariana surgiu como fenômeno raro. A fome e as doenças imperavam, enquanto as colheitas falhavam e a comida escasseava. A carne era pouca e luxo para os ricos. Foi durante este período que a filosofia clássica greco-romana foi redescoberta. O Pitagorismo e o Neoplatonismo tornaram-se novamente uma grande influência na Europa. Com a sangrenta conquista de territórios, novos vegetais foram introduzidos na Europa, tais como batata, couve-flor e milho. A adoção destes alimentos trouxe benefícios à saúde, ajudando a prevenir doenças dermatológicas então muito frequentes.
Com o Iluminismo do século XVIII, emergiu uma nova perspectiva do lugar do Homem na ordem da criação. Argumentos de que os animais eram criaturas inteligentes e sensíveis começaram a ser ouvidos e objeções morais a serem colocadas, à medida que aumentava o desagrado pelo desrespeito e abuso dos animais. Nas religiões ocidentais, houve um ressurgimento da ideia de que, na realidade, o consumo de carne era uma aberração e ia contra a vontade de Deus e a genuína natureza da humanidade.
Grandes filósofos como Voltaire, Rousseau e Locke questionaram a inumanidade do homem em relação aos animais. A obra de Paine, The Rights of Man, de 1791, despertou muitos assuntos a respeito dos direitos dos animais. A influência do Cristianismo radical, no século XIX, ocorreu por conta da grande difusão do vegetarianismo na Inglaterra e nos Estados Unidos. Os fundamentalistas cristãos provieram de grandes congregações existentes na recente e pobre zona urbana.
Por volta de 1880, os restaurantes vegetarianos eram populares em Londres, oferecendo refeições baratas e nutritivas. Com o virar do século XX, a população britânica encontrava-se ainda num estado de pobreza. A Sociedade Vegetariana, durante a crise de 1926, distribuía alimentos às comunidades. Devido à escassez de alimentos durante a Segunda Guerra Mundial, os britânicos foram encorajados a “Escavar para a Vitória” (Dig For Victory) para cultivar seus próprios vegetais e frutas. A dieta vegetariana manteve a população, e com isso, a saúde das pessoas melhorou durante os anos em guerra.
Por volta dos anos 50 e 60, muitos tomaram consciência do que se passava nas unidades de produção intensiva. O vegetarianismo tornou-se apelativo quando as influências orientais se espalharam pelo mundo ocidental. Durante as décadas de 80 e 90, o movimento ganhou maior ímpeto quando o desastroso impacto que a população humana estava a causar no planeta se tornou mais evidente. Os assuntos ambientais dominaram os noticiários e estiveram durante muito tempo em primeiro plano na política.
O vegetarianismo foi encarado como parte do processo para a conservação dos recursos. Recentemente, assuntos como as importações de gado foram motivo de oposição ao consumo de carne por todo o Reino Unido. Preocupações em relação à saúde surgiram quando as pessoas se aperceberam de que os animais para consumo estavam infectados com doenças como a “doença da vaca louca” (BSE), listeria e salmonella.
Desde os anos 80 do século XX, a humanidade tem focado cada vez mais num estilo de vida saudável. O vegetarianismo passou então a ser associado à saúde e alguns estudos apontaram a carne como causa de inúmeras doenças. Consequentemente, o não consumo de carne e outros produtos animais foi associado à não-violência e ao respeito pelos animais. Desde então, organizações de defesa animal e promoção do vegetarianismo/veganismo começaram a ganhar cada vez mais força e a desenvolver ações mundiais.
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